«O custo mais elevado é a doença e não o seu medicamento», salienta Vítor Virgínia
"Diferentes perspetivas da doença crónica" foi o tema central da XI Conferência MSD/Diário Económico. O evento, presidido por João Lobo Antunes, professor emérito da Faculdade de Medicina de Lisboa, reuniu variados especialistas e representantes de entidades.
Na sua intervenção, Vítor Virgínia, diretor-geral da MSD Portugal, explicou que, para um determinado medicamento entrar no mercado, podem ser necessários 10/12 anos de investigação e testes, com investimentos que, por vezes, atingem os dois mil milhões de dólares. “O custo mais elevado é a doença e não o seu medicamento”, frisou.
O responsável lembrou que a empresa é líder mundial na área da investigação e no desenvolvimento de novos medicamentos e adiantou que a MSD vai continuar a apostar na investigação das doenças cardiovasculares, diabetes, VIH e infeções em ambiente hospitalar.
Além de Vítor Virgínia e João Lobo Antunes, na sessão de abertura da conferência participaram ainda Fernando Leal da Costa, secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, e Raul Vaz, diretor do Diário Económico.
O dilema entre o princípio da universalidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a sustentabilidade financeira de todo o sistema levou o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, a apelar a uma discussão “com elevado sentido de responsabilidade e profundidade”.
Dirigindo-se diretamente à indústria farmacêutica, Fernando Leal da Costa pediu que se adaptasse à “capacidade de compra da sociedade”. Na sua ótica, os custos dos medicamentos não podem ser de tal forma elevados que inviabilizem a compra. Ou seja, “a intervenção não pode levar à falência do sistema”, afirmou o governante.
Para Leal da Costa, há uma obrigação pública de cuidar de quem sofre de doenças crónicas, mas os custos devem ser “partilhados por todos” e obrigam a tomar várias decisões. Entende que, por um lado, é necessário perceber como é que se podem tratar e como se pode recolher mais informação sobre as doenças; por outro, é preciso ter uma postura inclusiva e de prevenção, para atuar junto dos grupos de risco.
“Temos que procurar ganhar músculo e capacidade de intervenção, numa perspetiva europeia e mundial, e temos que resolver questões relacionadas com o choque económico”, sublinhou o governante, acrescentando que “a Saúde deve prevalecer sobre qualquer outro mecanismo económico”.
Os oradores nacionais convidados foram Maria do Céu Machado, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa e diretora do Departamento de Pediatria do Centro Hospitalar Lisboa Norte, e Henrique Veiga Fernandes, imunologista e investigador do Instituto de Medicina Molecular/FMUL. Estiveram ainda presentes dois especialistas estrangeiros na conferência da MSD/Diário Económico: Frank Lichtenberg, professor de Gestão da Columbia University Graduate School of Business, e George Weisz, professor de História da Medicina da McGill University.
George Weisz, com vários livros publicados sobre a evolução da doença crónica, fez um percurso pelo século passado para lembrar que o aumento das doenças crónicas está relacionado com a vida sedentária, com um maior consumo de alimentos e álcool e com a sobrepopulação.
Notou, no entanto, que o cenário só não fica menos animador por causa dos avanços na Medicina, do direito à Saúde e também porque a maioria das doenças pode ser prevenida. A inclusão de patologias como a diabetes e o alcoolismo na lista das situações crónicas também contribuiu para o aumento.
“Soubemos controlar as doenças infeciosas, mas estamos a encontrar novas patologias, devido à investigação, a diferentes formas de diagnóstico e porque criámos outras categorias de doenças”, explicou George Weisz. A seu ver, é preciso prevenir mais e alterar comportamentos.
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