O futuro da Medicina: «a técnica ao serviço das pessoas»
Miguel Guimarães, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, considera que "hoje, assistimos à emergência da era digital, que promete romper com todas as convenções conhecidas na nossa profissão. A primeira das quais é a relação tradicional entre quem trata (o médico) e quem é tratado (o doente)."
Num artigo intitulado "Medicina amanhã: a técnica ao serviço das pessoas", publicado no Jornal das 9as Jornadas de Prevenção do Risco Cardiovascular para Medicina Familiar, o responsável salienta que "a informação clínica será o elemento chave neste processo. A possibilidade de obtermos, remotamente e em tempo real, um conjunto de dados sobre o doente já não pertence ao domínio da ficção científica." E acrescenta: "O big data veio para ficar: nos próximos cinco anos, prevê-se que o volume de dados biométricos obtidos a partir de pequenos dispositivos aumente 50 vezes."
Ao nível da terapêutica, refere, "abrem-se horizontes que, há apenas uma década, eram impensáveis", e dá alguns exemplos:
"Nesta altura, conhecemos já o desenvolvimento de moléculas para tratamento, cada vez mais dirigidas à patologia e menos suscetíveis de provocar efeitos secundários. Surgem outras áreas de grande diferenciação, como a nanotecnologia e a farmacogenómica, que fazem prever grandes progressos em termos de eficácia, individualização do tratamento e melhoria da qualidade de vida dos doentes. Finalmente, a tendência para uma terapêutica cirúrgica minimamente invasiva, que aumenta as probabilidades de cura e reduz as complicações e a iatrogenia dos procedimentos."
Na sua opinião, a "única razão para alarme" é a tendência para "uma visão excessivamente tecnocrática da profissão, em detrimento da humanização." Considera, no entanto, que "essa será uma visão de fora para dentro, que não colhe no interior da classe médica. Vamos saber aproveitar a mudança que se anuncia para colocar o nosso saber e a nossa técnica ao serviço da comunidade, mantendo a matriz da relação médico-doente."