O papel do médico de família na promoção da saúde da mulher

Daniel Pereira da Silva, presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia (FSPOG), considera que as unidades de saúde familiares "têm um papel da maior importância" na área específica da saúde da mulher. O responsável colabora, juntamente com os presidentes e outros especialistas das quatro sociedades que integram a FSPOG, no Suplemento Saúde da Mulher, publicado na atual edição do Jornal Médico.

"Todos sabemos que só os acontecimentos que chocam, que causam impacto negativo, são notícia", começa por referir Daniel Pereira da Silva. Neste sentido, "não admira, assim, que o foco da comunicação social seja a ocorrência negativa que, por mais esporádica que seja, assume proporções avassaladoras e tudo põe em causa". 

Na sua opinião, "no terreno, no dia-a-dia, perante o sofrimento, perante o doente estão os funcionários das unidades de saúde, os profissionais de saúde, estão os médicos, que são a face do sistema, que lhe dão corpo em cada momento e perante cada situação em concreto. Isso não é notícia, como o não são as condições reais em que se trabalha."

O responsável considera mesmo que, "no centro, no âmago de todo o sistema, estão as unidades de saúde familiar, estão os médicos de família, a quem o país muito deve dos avanços notáveis que fizemos nos indicadores de saúde".


"Guardião dos cuidados de saúde da família"


Na área específica da saúde da mulher, Daniel Pereira da Silva afirma que "o médico de família assume um papel fundamental na vigilância da gravidez, em articulação com os serviços de Obstetrícia, conforme os protocolos estabelecidos".

Considera que, "no nosso país, a mulher assume o papel de verdadeiro guardião dos cuidados de saúde da família". Contudo, alerta que "em casa, no emprego, na vida social, as exigências, as dificuldades são cada vez maiores, ao passo que a disponibilidade escasseia."

Desta forma, "a opção é geralmente a pior. A mulher é forçada a esquecer-se de si própria, das suas necessidades. Desvaloriza as vantagens da prevenção ou mesmo de alguns sinais. Procura o médico perante um alerta evidente. A prevenção é possível e desejável. O exame geral e ginecológico anual é de grande importância. Iniciada a vida sexual, a consulta regular não é um luxo, é uma necessidade."

 
Interrupção voluntária da gravidez


O planeamento familiar tem "uma elevada aceitação entre nós: 94,1% das mulheres que vivem em Portugal usam um método contracetivo, como se evidencia um estudo nacional das práticas contracetivas que envolveu mais de 4000 mulheres".

Daniel Pereira da Silva não tem dúvidas de que o médico de família, conjuntamente com o ginecologista, "são as principais fontes de informação para a mulher, como demonstra o mesmo estudo". No entanto, "entre as mulheres que recorrem à interrupção voluntária da gravidez (IVG) 25% não usam nenhum método e 75% referem que engravidaram por falha do método utilizado." Esta realidade leva o presidente da FSPOG a considerar que "importa passar mais informação sobre como lidar com as falhas, como usar contraceção de emergência e quando se deve usar outro método".



Vacinação contra o HPV

No âmbito da Oncologia, sublinha, antes de mais, que a prevenção dos cancros mais frequentes na mulher "é possível e desejável", exemplificando: "Fazer uma citologia do colo do útero de 3 em 3 anos, dos 25 aos 65 anos de idade, evita este cancro em mais de 95% dos casos. O teste ao HPV afigura-se como o teste preferencial, até porque o nosso país tem uma taxa de vacinação contra o HPV no âmbito do plano nacional de vacinação que ultrapassa os 90%, o que é um trabalho fantástico das unidades de saúde."

Recorda ainda que, "por enquanto, não estamos autorizados a fazer o teste ao HPV nas unidades de saúde familiar e devemos continuar com a citologia".

 

Superar e "fazer sempre melhor"


Em jeito de conclusão, o presidente da FSPOG afirma: "Ninguém desconhece que os meios escasseiam e que há sobrecarga nas tarefas assistenciais, deixando menos espaço para o planeamento e execução de medidas preventivas. Os profissionais de saúde, os médicos de família em particular, têm demonstrado que é possível a superação e todos admitem que é necessário fazer sempre melhor."

 


Além de Daniel Pereira da Silva, o Suplemento Saúde da Mulher, publicado na atual edição do Jornal Médico, conta com a colaboração dos presidentes e outros especialistas das 4 sociedades científicas que integram a FSPOG, que abordam diversas temáticas ao longo das 16 páginas.


4 Sociedades unidas em torno de uma Federação

Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), Luís Mendes Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), Teresa Almeida Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), Daniel Pereira da Silva, presidente da FSPOG, e Teresa Bombas, presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção (SPDC).

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