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«Os efeitos indiretos da pandemia nos jovens são assustadores»

Quem o diz é Caldas Afonso, pediatra e diretor do Centro Materno-Infantil do Norte. As consequências indiretas que a pandemia está a trazer às crianças e aos adolescentes portugueses serão um dos tópicos a debater no CMIN Summit’21, que, em outubro, irá reunir um leque de especialistas na área.

Caldas Afonso, diretor do Centro Materno-Infantil do Norte é assertivo ao afirmar que “fala-se muito nos efeitos diretos, mas os efeitos indiretos da pandemia nos jovens são assustadores e devem ser debatidos pois apesar de serem os menos percetíveis e abordados, vão ter um impacto muito maior que os diretos”.

O aumento significativo da ansiedade e da depressão, dos comportamentos aditivos, principalmente com os videojogos, ou do sedentarismo e da obesidade são algumas das alterações que o pediatra identifica nos jovens portugueses.


Caldas Afonso

Soma-se “a modificação da relação social como a conhecíamos, com a diminuição do tempo de convívio entre netos e avós, que vai trazer repercussões importantes no núcleo familiar” e até mesmo “a afetação brutal do processo educativo desta geração ao longo destes dois anos, com consequências futuras que nos devem preocupar”.

“Em 2050, seremos 5 milhões de portugueses”

A par deste tópico, outra das abordagens que pretendem trazer ao CMIN Summit’21 é precisamente “uma viagem histórica de como era nascer no século XX em Portugal e como esta realidade se modificou em termos de mortalidade materno-infantil, conseguindo em duas décadas inverter taxas elevadíssimas e colocar o nosso país num elevado patamar de qualidade, com excelentes indicadores de saúde materno-infantil a nível mundial”.

Se a comunidade poderia pensar que estes ganhos em saúde estão associados a grandes investimentos, Caldas Afonso salienta que, pelo contrário, “se relacionam com uma estratégia de organização, que, acima de tudo, se prendeu com a identificação de locais de nascimento seguros em serviços de Obstetrícia com massa crítica para a mulher e de Neonatologia para o recém-nascido”.

Este tema contará com um painel de opinion makers, de várias personalidades da sociedade civil e científica.

Caldas Afonso destaca ainda como tema central e “muitas vezes esquecido” a baixa taxa de natalidade do nosso país, em que “ao longo de duas décadas passámos de 160 mil nascimentos por ano para menos de 80 mil, com tudo o que isso representa para a sociedade, em especial para a sustentabilidade da população mais idosa”.

Como elucida, “tudo aponta para que em 2050 sejamos 5 milhões de portugueses”, acrescentando que “estamos com uma perda geracional desde 2015, registando-se neste momento uma taxa de fecundidade de 1,1, que, necessitará de 25 anos para recuperar os valores de há seis anos”.

O pediatra destaca que a necessidade de “a sociedade apoiar a mulher grávida, que hoje se confronta com uma série de constrangimentos, quer porque os avós trabalham e não podem tomar conta dos netos ou porque os infantários são deficitários”.

O debate desta temática contará com nomes como Chrysoula Zacharopoulou, membro da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros do Parlamento Europeu, e um leque de jornalistas com experiência na área da saúde.



“Toda a Europa, à exceção de Portugal, está a vacinar de forma universal”

O diretor do CMIN avança que será também tratada a “forma como a instituição enfrentou a pandemia e se organizou, trazendo dados concretos e perspetivas a curto-médio prazo”.

Quanto à vacinação das crianças acima dos 12 anos, o pediatra sublinha que “só conseguiremos ter uma vida normal quando atingirmos a imunidade grupal, sendo que para isso temos de garantir que o vírus não pode circular num grupo significativo, sob a pena de sofrer mutações e pôr em causa a imunidade grupal, o que significa que os jovens têm de ser vacinados”.

Sendo a segurança da vacina “igual aos 12, como aos 18 ou aos 30 anos”, Caldas Afonso reitera que “não há razão para não vacinar os jovens”, não compreendendo a posição da DGS sobre a necessidade de autorização médica.

“Toda a Europa, à exceção de Portugal, está a vacinar de forma universal”, refere, destacando como previsível que, “tal como a gripe, quando atingirmos a imunidade grupal, o esquema vacinal venha a ser idêntico”.

O CMIN Summit’21 está agendado para os dias 13 a 15 de outubro, no Auditório do ICBAS, com transmissão digital, e terá um programa dedicado à Ginecologia/Obstetrícia, à Pediatria e à Enfermagem. O tema geral é “Nascer e Crescer Saudável no Século XXI”.


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