«Os médicos de família têm um papel central na promoção da vacinação»
Num evento híbrido, o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) realizou as suas 7.as Jornadas, em Lisboa, sob o tema “AcreditAR, EmpoderAR, AcompanhAR”. Logo na conferência de abertura, contou com a participação de Ricardo Mexia, médico de Saúde Pública e epidemiologista, que fez uma retrospetiva do último ano e meio e que falou sobre o que se pode esperar de um futuro próximo no âmbito da doença respiratória.
Tendo começado por relembrar que “a pandemia ainda não acabou”, Ricardo Mexia realçou o impacto positivo da descoberta de mais de uma vacina contra a covid-19 num curto período de tempo e como Portugal é um exemplo, a nível mundial, com uma elevada taxa de vacinados. “Somos um país com uma enorme confiança vacinal, sem prejuízo, obviamente, de se ter margem para melhorar.”
Ricardo Mexia
Relevando o papel dos CSP no combate ao vírus SARS-CoV-2, acrescentou que, além da covid-19, há outras infeções respiratórias de origem infeciosa e que também podem ser minimizadas com medidas de higienização das mãos, etiqueta respiratória e uso de máscara em determinados contextos.
É o caso da gripe, que foi quase inexistente no inverno anterior. “Além das medidas de prevenção adotadas para a covid e que são importantes para qualquer vírus, também se teve uma maior cobertura vacinal.”
Para o especialista em Saúde Pública, há lições a tirar destes últimos tempos, considerando que o impacto habitual da gripe nos serviços de saúde pode ser minimizado nos próximos anos com o que se aprendeu na pandemia. Contudo, como acrescentou, “não defendo que todas as pessoas usem máscara em todos os invernos, mas essa medida poderá fazer sentido nalguns contextos e grupos, como os idosos”.
Para Ricardo Mexia, “os médicos de família têm um papel central na promoção da vacinação junto dos utentes”, incluindo a antipneumocócica, que ainda tem uma baixa adesão, mesmo nos grupos vulneráveis que têm acesso à mesma sem qualquer custo.
E é precisamente nesta área da vacinação, mas não só, que o médico deixa um repto aos colegas de MGF. “Apelo a todos que sejam também embaixadores contra a desinformação que cresce, de forma descontrolada, nas redes sociais.”
Olhando para os últimos meses, relembrou que nem tudo foi negativo e que as consultas por telefone, que “não são telemedicina”, podem vir a abrir portas a esta alternativa nalgumas situações em particular. Apontou ainda a necessidade de não se esquecer, daqui para a frente, de que a máscara poderá ser útil também na gripe, quando um indivíduo está sintomático. Uma prática que já é comum na Ásia.
Num futuro próximo, acredita que é preciso planear outras ameaças pandémicas. “Não é totalmente verdade que ninguém estivesse à espera desta pandemia, porque já tinha havido avisos e algumas ameaças que foram ignoradas.”
Um evento híbrido a pensar no empoderamento de médicos e doentes
Para Rui Costa, o tema das Jornadas não poderia ser o mais adequado. “AcreditAR, EmpoderAR e AcompanhAR são aspetos essenciais na prática clínica diária, para uma prestação estruturada, integrada, personalizada e de qualidade de cuidados de saúde.”
Continuando: “[É preciso] empoderar os médicos de família para estarem atualizados sobre a melhor evidência científica, mas as pessoas com patologia respiratória, também devem ter um papel mais ativo na gestão da sua doença.”
Rui Costa
Defendeu ainda a colaboração e comunicação interpares, por forma a se conseguir otimizar os resultados. “É apanágio do GRESP estimular relações de compromisso e de cooperação com outras sociedades científicas e associações de doentes, para que, em conjunto, possamos obter melhores cuidados de saúde.”
O evento conta com cerca de 600 inscritos, podendo estar presencialmente apenas 250. Como é habitual, além das palestras houve momentos para pósteres, comunicações orais e as oficinas que são vistas como “uma tradição” no GRESP. Na sessão de abertura também esteve presente Daniel Castro, da comissão organizadora das Jornadas.