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Políticas de saúde têm impacto no risco cardiovascular

“Alguns indicadores tornam clara a relação entre as consequências da crise e a saúde dos portugueses.” O alerta é de João Morais, diretor do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Leiria. Segundo o cardiologista, cerca de 40% das famílias afetadas pela crise admitem que estão a reduzir despesas na área da Saúde.

Para o especialista, “a redução dos orçamentos e o consequente corte brutal nos financiamentos às instituições; a regulação da atividade clínica, na qual se insere a elaboração de normas de orientação clínica, infelizmente elaboradas, em boa parte, com base economicista; e a limitação das comparticipações, impedindo o acesso dos portugueses à inovação tecnológica”, são os três tópicos que, “de algum modo, caracterizam a área da Saúde, nos dias de hoje”.

“Os últimos três anos da vida dos portugueses são marcados por uma tremenda redução do poder de compra, a que se associam taxas escandalosas nos níveis de desemprego, levando a que parte substancial da população tenha visto reduzida a sua capacidade de acesso a muitos bens, designadamente bens de saúde”, sublinha.

O aumento do consumo de psicotrópicos ou da taxa de tentativa de suicídio são, de acordo com João Morais, indicadores indiretos sobre a forma como os portugueses vivem a crise. Em linha direta, “a circunstância do aumento da prevalência dos estados de depressão leva-nos até ao aumento dos episódios de doença coronária, facto que os investigadores um dia irão tentar provar”.

“Iniciativas meritórias” no combate à doença cardiovascular

João Morais lamenta que, perante a conjuntura atual, não tenha havido capacidade de criar, inovar e desenvolver, apontando como exemplos a ausência de uma cultura de qualidade e a não implementação de registos clínicos obrigatórios que ajudem a conhecer a realidade.

Neste contexto, destaca as “iniciativas meritórias” da chamada sociedade civil, ou de organizações não-governamentais, entre as quais as sociedades científicas. “Programas como o Stent for Life, visando elevar os níveis de qualidade no tratamento do enfarte com supra de ST, ou estudos clínicos como aqueles que nos permitem conhecer a prevalência da hipertensão arterial ou da fibrilhação auricular em Portugal, foram levados a cabo por instâncias como a Sociedade Portuguesa de Cardiologia/Sociedade Europeia de Cardiologia, ou por investigadores autónomos.”

“Não podemos perder o horizonte que nos move: tratar cada vez melhor. A que se acrescenta: gastando cada vez menos dinheiro”, adverte, concluindo que “os profissionais de saúde desempenham um papel crucial em toda esta problemática, infelizmente, sem reconhecimentos dos poderes que nos governam, mas certamente com o apoio daqueles que de nós precisam.”




Notícia publicada no Especial Cardiologia
do Jornal Médico.

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