Prevenção da resistência aos antibióticos: cuidados de saúde primários são «a entidade que tem mais importância»
De acordo com Pedro Pacheco, membro da Direção do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), 93% das prescrições de antibióticos acontecem nos cuidados de saúde primários (CSP).
Em declarações à Just News, o responsável salientou a importância de "os médicos de família insistirem na educação dos utentes e na mensagem de que os antibióticos são ferramentas eficazes apenas nas infeções bacterianas". O alerta de Pedro Pacheco surge a propósito das II Jornadas do PPCIRA, que decorreram no Infarmed, em Lisboa, dias 17 e 18 de novembro, no âmbito do Dia Europeu dos Antibióticos, assinalado hoje, integrado na Semana Mundial para a Sensibilização Sobre o Antibiótico.

Pedro Pacheco, que também é médico de família na USF Cova da Piedade, no ACES Almada/Seixal, salientou que “os CSP, como porta de entrada do Serviço Nacional de Saúde, são realmente aquela entidade que tem mais importância na prevenção do uso incorreto dos antibióticos e na prevenção da resistência aos mesmos”.
E destacou o papel do Programa de Assistência à Prescrição de Antibióticos (PAPA) na área hospitalar e nos CSP, onde ainda está a dar os primeiros passos: “O controlo da infeção está associado, por razões históricas, ao meio hospitalar, onde existem sistemas de informação que permitem a monitorização e a intervenção precoce quando surgem problemas. Só há pouco tempo se está a trabalhar nos CSP, como é exemplo a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), ou a ULS de Matosinhos, entre outras.”
E continuou: “A nível nacional, os sistemas de informação, nos CSP, ainda não permitem a monitorização das prescrições destes fármacos, mas, progressivamente, estamos a caminhar para que essa seja a prática corrente.”
Para este responsável, um dos problemas da implementação do PAPA nos CSP está relacionado com a falta de tempo dos profissionais de saúde: “Após a realização de um inquérito do PPCIRA, verificou-se que os coordenadores dos grupos locais do PAPA estão interessados e motivados neste trabalho, mas não dispõem do número de horas previstas no Despacho 15243/2013.”
Pedro Pacheco fez ainda questão de reforçar que “os médicos, nomeadamente os dos CSP, devem optar pelo espetro mais restrito possível e evitar a prescrição de quinolonas, já que existe evidência de que esta classe de fármacos também conduz à resistência a outros antibióticos”. 
As II Jornadas do PPCIRA contaram, na sessão de abertura, com a presença de Francisco George, diretor-geral da Saúde, que salientou que a resistência aos antibióticos é um dos três grandes problemas a nível mundial na área da Saúde.
Nesse sentido, informou que, em janeiro, vai ser lançada uma plataforma onde os resultados das análises de Microbiologia – e, por conseguinte, os casos de resistência ao antibiótico – serão reportados de forma automática, como já acontece noutras áreas, como o SICO, no registo de óbitos.
Deixou, contudo, um aviso: “Precisamos de profissionais que possam avaliar os resultados obtidos e combater este problema nas suas várias vertentes, mesmo com poucos recursos.”
O diretor do PPCIRA, Paulo André Fernandes, também falou na sessão de abertura e relembrou que, “a partir de 2050, se prevê que, todos os anos, venham a morrer 10 milhões de pessoas por causa da resistência aos antibióticos, um número superior às doenças neoplásicas”. É assim importante evitar que esta previsão seja uma realidade.



