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Maus tratos a crianças e jovens: «Se há risco, a criança não sai do hospital»

Há uns 7 anos que o Núcleo Hospitalar de Apoio à Criança e Jovem em Risco (NHACJR) do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga (CHEDV), coordenado pela pediatra Virgínia Monteiro, tem vindo a informar os profissionais que lidam com crianças e jovens para a temática dos maus tratos, prestando o respetivo apoio.

“Mesmo os técnicos que lidam com as crianças no dia-a-dia não se sentem muito confortáveis com os casos de maus tratos", sublinha Virgínia Monteiro.

De acordo com a médica, "a sensibilização dos nossos colegas para lidarem com as situações de risco/suspeita de maus tratos como se fosse uma doença qualquer é um trabalho contínuo. A não pensarem só nas doenças físicas, nos acidentes fortuitos, mas também em algo que é infligido voluntariamente”.

Na sua opinião, este é um trabalho crucial, já que, "muitas vezes, é tratado o traumatismo e não se pensa no que poderá estar por detrás”, sublinhando ser necessário “um trabalho contínuo de sensibilização, até mesmo de investimento na formação”. No fundo, trata-se de “estimular nos colegas, sejam eles médicos, enfermeiros ou auxiliares, a construção de uma outra perspetiva, mais abrangente, da criança”.


Jordana Sousa, Denise Schmitt, Virgínia Monteiro e Maria José Silva

Coordenado por Virgínia Monteiro, o Núcleo integra ainda a enfermeira Jordana Sousa, a neonatologista Denise Schmitt e a assistente social Maria José Silva.

“Se há risco, a criança não sai do hospital"

Maria José Silva, assistente social, conta que, quando surge uma situação de maus tratos na Urgência, por exemplo, ela é avaliada conjuntamente com o pediatra e poderá conduzir à sinalização da criança junto do tribunal ou da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ).

Uma coisa é certa: “Se há risco, a criança não sai do hospital, e quando sai é acompanhada.”


Maria José Silva

“A decisão é sempre tomada em conjunto e de forma articulada”, frisa Maria José Silva, acrescentando que “o Serviço Social colabora com o pediatra a conduzir a situação no caso de encaminhamento à Medicina Legal, a enviar informação ao Tribunal, se for necessário reter, a decidir pelo internamento como salvaguarda da criança”.

O mais frequente: negligência ativa

Santa Maria da Feira não é diferente do resto do País quanto ao tipo de maus tratos mais frequentemente observado. Virgínia Monteiro diz que “é, de longe, a negligência”, mais propriamente a negligência ativa, isto é, existindo a possibilidade de prestar à criança os cuidados de segurança, afeto, saúde, higiene, etc., tal não se verifica.

“Mas depois há os casos mais complicados, como os abusos sexuais, os maus tratos físicos e psicológicos...”, desabafa, para além de que, frisa, “as problemáticas também vão mudando”.


Virgínia Monteiro

E justifica a sua observação referindo as intoxicações medicamentosas voluntárias em adolescentes que no CHEDV se registam quase todas as semanas, na maioria dos casos com antidepressivos e ansiolíticos.

Cabe ao Serviço Social fazer o diagnóstico da situação, procurando apurar, desde logo, se a mesma  já é conhecida do NACJR do centro de saúde, da CPCJ, do tribunal… “Não vamos trabalhar aquela família quando alguém já está a fazê-lo na comunidade”, afirma Maria José Silva.

Jordana Sousa, que está mais ligada ao internamento, afirma que os enfermeiros estão igualmente atentos ao que os rodeia:  “Lidamos 24 horas por dia com os pais, vamos avaliando o seu comportamento com as crianças e, caso observemos algo desajustado, comunicamos logo à assistente social”.


Uma atenção especial aos recém-nascidos


Denise Schmitt está mais ligada à Neonatologia. Não hesita em afirmar que, “a partir do momento em que a mãe escolhe o nosso hospital para que o seu filho aqui nasça, a nossa responsabilidade é ter a certeza de que aquele bebé vai para um meio minimamente seguro, com as condições básicas para o receber”.

Médicos e enfermeiros estão atentos e quando suspeitam de alguma necessidade de intervenção atuam conjuntamente com o Serviço Social. E o que pode suceder com um recém-nascido? “Desde maus tratos a negligência, como a falta de cuidados básicos de higiene, que se pode traduzir em infeções graves e reinternamentos...”, explica Denise Schmitt.

A médica esclarece ainda que, “muitas vezes, deixamos as famílias referenciadas e marcamos consultas no centro de saúde”, havendo igualmente toda a atenção sobre as consultas que ocorrem a nível hospitalar. O acompanhamento mantém-se mesmo quando, nalguns casos, há necessidade de retirar o bebé e ele é colocado num centro de acolhimento.



Reunião aberta à comunidade em Santa Maria da Feira


“Crianças e jovens em risco – Desafios éticos e culturais” é o tema da reunião que o NHACJR vai promover no próximo dia 9 de março, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira.

Trata-se uma reunião aberta à comunidade em geral e onde não deixarão de estar presentes, nomeadamente, os responsáveis dos núcleos existentes em cada um dos dois ACES da área de influência do CHEDV, que integra os hospitais de Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e São João da Madeira.

Virgínia Monteiro explica que o evento “será muito dirigido para aquilo que são as nossas preocupações mais recentes, que têm que ver com os problemas éticos, as migrações...”

Maria José Silva desenvolve um pouco mais a ideia: “Temos tido alguns casos relacionados com refugiados que vivem na nossa comunidade e que nos têm levantado questões de ordem cultural e religiosa”, refere a assistente social, dando o exemplo do pedido de circuncisão de um bebé apresentado por um cidadão muçulmano e que levou o Núcleo a solicitar a colaboração da Comissão de Ética do CHEDV.

O programa pode ser consultado aqui.

A participação no Encontro é gratuita. 
Para efetuar a inscrição é necessário enviar email com o nome completo para: nhacjr@chedv.min.saude.pt 


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