Psiquiatras criam secção dedicada à Saúde Mental da Mulher: «Aqui estamos, para fazer avançar»

É uma das mais recentes secções especializadas da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental. Intitulada "Saúde Mental da Mulher", esta secção é presidida por Ana Matos Pires que, juntamente com mais uma dúzia de colegas, decidiram avançar com a ideia.

Segundo a responsável, que dirige o Serviço de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, "o
 habitual, quando se pensa em políticas de saúde, é vincular a ´saúde da mulher` à saúde infantil e da família". Contudo, "reduzir a saúde da mulher à saúde ´maternoinfantil` e à ´saúde reprodutiva` é limitativo e injusto".

Assim, na sua opinião, "são necessárias definições de ´saúde da mulher` que incorporem a sua saúde mental e física em si mesmo, sobretudo sabendo que, para além dos fatores biológicos e reprodutivos, o bem-estar da mulher é determinado pelos efeitos da carga de trabalho, do stresse, das guerras, das migrações e da violência, só para citar alguns deles".


Ana Matos Pires

"As mulheres são mais afetadas"

Considerando que "a integração de uma perspetiva de género na determinação de políticas de saúde obriga, forçosamente, à integração da saúde mental", Ana Matos Pires deixa claro que "as mulheres são mais afetadas e estão mais frequentemente sujeitas a causas sociais que contribuem para o eclodir de doenças mentais e sofrimento psicossocial."

E acrescenta: "O género determina o poder diferencial e o controlo que homens e mulheres têm sobre os determinantes socioeconómicos da sua saúde mental, o modo como o sujeito é tratado pela sociedade e a sua suscetibilidade e exposição a riscos específicos para a saúde mental."

E onde é que as diferenças de género ocorrem principalmente? "Nas taxas de perturbações mentais comuns, nomeadamente a patologia ansiosa e depressiva", refere a especialista, que desenvolve a ideia:

"Essas perturbações, que predominam nas mulheres, afetam uma em cada três pessoas na comunidade e constituem um grave problema de saúde pública. Violência de género, desvantagens socioeconómicas, status social baixo ou subordinado, responsabilidade pelos cuidados a terceiros são fatores de risco específicos para perturbações mentais comuns. Depressão, ansiedade, sintomas somáticos e altas taxas de comorbilidade estão significativamente relacionados a estes fatores de risco interligados e concorrentes, que predominam nas mulheres." 

Realça ainda que a perturbação de stresse pós-traumático (PTSD) após violência de género "torna as mulheres o maior grupo individual de pessoas afetadas por esta patologia."

De acordo com a médica, não há qualquer dúvida de que "o impacto da adversidade psicossocial cumulativa na saúde mental não foi investigado de forma adequada". Contudo, "as políticas económicas e sociais que causam mudanças repentinas, perturbadoras e severas nos rendimentos, no emprego e nas condições de vida aumentam significativamente a desigualdade de género e a taxa de perturbações mentais comuns".

Fatores em destaque


Ana Matos Pires, que assume também o cargo de coordenadora Regional da Saúde Mental da ARS do Alentejo, sintetiza vários fatores que afetam a saúde mental das mulheres, nomeadamente:

a) são as principais cuidadoras dos filhos e familiares mais velhos ou com doenças crónicas e incapacitantes -- esta sobrecarga é um fator de risco para o adoecer mental;

b) têm maior probabilidade de viver na pobreza do que os homens;

c) estão expostas a mais violência física e sexual que os homens, sendo que o abuso físico e sexual pode ter um impacto a longo prazo na saúde mental das mulheres, especialmente se não receberem nenhum tipo de apoio.

Objetivos da OMS no âmbito da saúde da mulher

A psiquiatra faz ainda alusão aos objetivos definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no contexto da saúde da mulher:

a) construir evidências sobre a prevalência e as causas dos problemas de saúde mental nas mulheres, bem como sobre os fatores mediadores e protetores”;

b) promover a formulação e implementação de políticas de saúde que atendam às necessidades e preocupações das mulheres ao longo do ciclo de vida;

c) aumentar a competência dos prestadores de cuidados de saúde primários para reconhecer e tratar as consequências para a saúde mental da violência doméstica, abuso sexual e stresse agudo e crónico em mulheres.


E é porque "o assunto é importante e o interesse dispensado tem sido reduzido", que Ana Matos Pires explica que surgiu a decisão da proposta de formalização da Secção de Saúde Mental da Mulher da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental". E deixa uma garantia: "Aqui estamos, para fazer avançar."

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