Centro de Reabilitação do Norte: Unidade de Reabilitação Cardiorrespiratória organiza I Jornadas
A realização das I Jornadas de Reabilitação Cardiorrespiratória do Centro de Reabilitação do Norte (CRN), que decorrem durante esta semana, nos dias 20, 21 e 22 de outubro, "surge inserida no âmbito da atividade promovida pela recém-inaugurada Unidade de Reabilitação Cardiorrespiratória do CRN, abrangendo internamento e ambulatório", explica a fisiatra Sofia Viamonte.
A coordenadora da Unidade de Reabilitação Geral de Adultos e responsável pelo Núcleo de Reabilitação Cardiorrespiratória do CRN acrescenta tratar-se de "uma aposta clara da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) nesta área de intervenção".
Referenciação para "programas estruturados e integrados"
Segundo a especialista, "apesar do elevado nível de evidência científica associada à Reabilitação Cardiovascular e Pulmonar, estas constituem, ainda hoje, áreas deficitárias no nosso país".
Desta forma, salienta que a Comissão Organizadora pretende "sensibilizar as diferentes sociedades científicas (Medicina Física e de Reabilitação, Cardiologia, Pneumologia e Medicina Geral e Familiar) para esta problemática". Por outro lado, visa promover, simultaneamente, "a partilha de conhecimento e de experiência entre as especialidades médicas e outros profissionais de saúde envolvidos na abordagem destas patologias".
De acordo com Sofia Viamonte, considerou-se ser "essencial atribuir, nestas Jornadas, especial destaque à necessária articulação entre a Medicina Geral e Familiar (MGF) e a Medicina Física e de Reabilitação (MFR)". O intuito é o de "fornecermos aos doentes da região Norte -- e, particularmente, da região de Gaia e Grande Porto -- os melhores cuidados de saúde para os doentes com patologia cardiovascular e pulmonar, alertando assim para a importância da sua referenciação para programas estruturados e integrados".
Programas implementados em regime de internamento
A fisiatra sublinha que "não existia, em Portugal, nenhuma unidade de Reabilitação Cardiorrespiratória com infraestruturas, recursos humanos especializados e um modelo organizacional que possibilitasse a implementação deste tipo de programas em regime de internamento". Uma realidade bem distinta "da que se verifica na grande maioria dos países europeus, que privilegiam este tipo de cuidados diferenciados".
Desta forma, a integração da Unidade Cardiorrespiratória no CRN permitiu "dar resposta a esta necessidade na região Norte do país, sendo também extensível a todo o território nacional, atendendo às especificidades que compreende, quer na avaliação diagnóstica diferenciada, quer na abordagem multidisciplinar em diferentes contextos".
Articulação com os cuidados de saúde primários "é essencial a diversos níveis"
Sofia Viamonte adianta que "tem existido da nossa parte um investimento na criação de protocolos de referenciação com a MGF, bem como com os hospitais de agudos da região Norte, no sentido de possibilitar e dinamizar a orientação de doentes para os programas de reabilitação já implementados, inclusive em regime de internamento (por exemplo, após evento cardíaco agudo ou exacerbação da doença pulmonar crónica)".
Na sua opinião, os meios existentes no CRN, ao nível de equipamento e diferenciação dos recursos humanos, "permitem ainda o melhor ajuste do plano de reabilitação instituído nos doentes internados neste Centro, por exemplo, com lesões medulares, encefálicas ou doenças neuromusculares". Doenças essas que "cursam muitas vezes com comprometimento importante da função respiratória e cardiovascular, constituindo uma importante causa de morbilidade e mortalidade". 
Sofia Viamonte, Aníbal Albuquerque (cardiologista), João Carlos Winck (pneumologista), Rúben Almeida (diretor clínico do CRN), Inês Machado Vaz (fisiatra), Elisabete Monteiro (secretariado) e Ana Lima (fisiatra).
Relativamente à articulação com os CSP, é considerada como sendo "essencial a diversos níveis, devendo ser, idealmente, o mais próximo e direta possível" e explica: "Cada vez mais o sistema de saúde presta cuidados integrados a todos os indivíduos e orienta-se para ser centrado na pessoa, mas baseado em equipas. Nesse sentido, privilegiamos o contacto e a comunicação assídua com os médicos assistentes, partilhando a informação e o conhecimento, visando a melhoria dos cuidados prestados."
A fisiatra refere ainda que, "além dessa recetividade para com os colegas de MGF, a SCMP encontra-se a desenvolver, juntamente com a coordenação dos ACES Gaia e Espinho/Gaia, um projeto que prevê a consultoria em regime presencial de um médico fisiatra do CRN nos centros de saúde destes dois agrupamentos.
Prevenção primária cardiovascular
"Consideramos que os principais desafios se colocam -- para além da reabilitação -- na prevenção, mais concretamente, na prevenção primária cardiovascular", afirma a responsável pelo Núcleo de Reabilitação Cardiorrespiratória, alertando que "os fatores de risco cardiovascular ainda atingem em Portugal proporções pandémicas, com importante repercussão económica sobre o Sistema Nacional de Saúde, apesar do esforço desenvolvido pela DGS nesse sentido".
Indica ainda que "o impacto das estratégias de intervenção nestas áreas é, portanto, por nós reconhecido, com potencial aplicabilidade em diversas situações clínicas". Enquadram-se neste domínio os utentes que "apresentem risco aumentado para desenvolverem manifestações da doença aterosclerótica, para os quais não existiam programas multiprofissionais estruturados com base na população-alvo".

Proporcionar programas de Reabilitação multidisciplinares
Sofia Viamonte faz questão de referir que o CRN "está ainda empenhado em proporcionar programas de Reabilitação multidisciplinares destinados à otimização dos cuidados respiratórios de doentes em ventilação prolongada, para os quais não existe qualquer estrutura organizada no nosso país, apesar do número significativo de doentes com necessidade de ventilação assistida na realidade nacional".
E acrescenta: "Tendo em conta a complexidade clínica da maioria destes doentes, a SCMP tem consciência de que se impõe a criação de estruturas multidisciplinares que possibilitem o avanço na abordagem da reabilitação ventilatória e global destes doentes".



