Reabilitação do doente com AVC: musicoterapia em foco no Hospital de São João
O Serviço de Medicina Física e de Reabilitação (MFR) do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), dirigido por Fernando Parada, assinala, na próxima quinta-feira, dia 30 de março, o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral (AVC), com um sarau matinal aberto à população subordinado ao tema “Musicoterapia na afasia”.
Em declarações a Just News, Fernando Parada explica que “a musicoterapia é uma técnica usada durante o processo de reabilitação das alterações da linguagem que podem aparecer na sequência de um AVC”, desenvolvendo que esta metodologia é usada quotidianamente pelas terapeutas da fala daquele Serviço.
Segundo o responsável, a importância da afasia no contexto do AVC é grande, podendo exprimir-se de variadas formas, que deverão ser devidamente identificadas e avaliadas, de modo a estabelecer a estratégia de tratamento mais adequada.
Equipa de MFR do CHSJ.
"Uma equipa bem diferenciada"
“Pelo impacto que podem ter, as sequelas do AVC implicam uma abordagem multiprofissional que só uma equipa bem diferenciada pode oferecer, como é o caso do Serviço de MFR do CHSJ”, refere.
Fernando Parada faz questão de sublinhar que “temos uma equipa muito motivada e humana, trabalhamos muito bem em conjunto”. E, por outro lado, em termos formativos, “os vários profissionais – médicos, enfermeiros e terapeutas – são cada vez mais diferenciados, o que é muito importante na prestação de cuidados”.
O responsável destaca ainda o facto de existirem "poucos serviços de MFR em Portugal que tenham um polo privativo para internar os doentes agudos". Tal "implica mais trabalho, mas é muito gratificante" e possibilita a realização de tratamentos "mais precoces e intensivos, contribuindo para uma melhor recuperação das pessoas.” Um exemplo é o dos utentes vítimas de acidente vascular cerebral (AVC).
Partilhar os efeitos do AVC em livro
A coordenação do evento, que se iniciará pelas 11.00h, no átrio do piso 2 do Hospital de São João, está a cargo de Maria José Festas, uma das responsáveis pela Consulta de AVC do Serviço de MFR do CHSJ, de quem partiu a ideia de abordar o tema da musicoterapia e a quem caberá a abertura do sarau.
Em seguida, Fernando Parada fará um comentário ao livro de José Cardoso Pires "De profundis, valsa lenta". De acordo com aquele fisiatra, “José Cardoso Pires foi um escritor de reconhecido mérito que, tendo sofrido um AVC, publicou a sua experiência como doente, dando-lhe um cunho literário muito interessante”.
Serão ainda apresentadas as experiências da terapeuta da fala Alzira Carvalho, "com musicoterapia para afásicos", e da professora de canto Sara Carneiro.
Maria do Carmo Cunha, antiga doente, irá falar sobre “O canto como musicoterapia para o afásico”. O evento termina com a intervenção da Tuna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, sob o lema: “O canto como lazer”.
Trabalhar "sempre em equipa multiprofissional"
Maria José Festas, coordenadora do evento que se realiza dia 30 de março, é fisiatra e está no Serviço de MFR do CHSJ desde 1994. Em entrevista à Just News, publicada na última edição da revista LIVE Medicina Física e de Reabilitação, a médica contou que a maioria dos problemas do foro neurológico que segue manifesta-se após um AVC:
“Faço o acompanhamento destes casos desde que estão internados na Unidade de AVC, passando pelo internamento de MFR, até à alta e à sua integração na comunidade.” Este regresso à vida habitual "implica, muitas vezes, a visita domiciliar".
“Temos uma equipa que se desloca ao domicílio para ver quais são as necessidades da pessoa, nomeadamente, em termos de produtos de apoio”, frisa. Tal como no restante Serviço, o trabalho no internamento de MFR é sempre em equipa multiprofissional, envolvendo médicos fisiatras, enfermeiros de reabilitação e fisioterapeutas.
“Não nos podemos esquecer do trabalho essencial da terapeuta da fala ou da terapeuta ocupacional, consoante as necessidades e limitações de cada pessoa”, lembra. O facto de cada caso ser diferente é o que mais fascina Maria José Festas na MFR, pois, “todas as pessoas são diferentes e é preciso ir ao encontro do que mais precisam”.
E dá um exemplo. “Dar uma injeção de toxina botulínica para aumentar a flexibilidade do braço pode parecer pouco, mas é muito, porque a pessoa passa a conseguir vestir o casaco sem ajuda.”
É possível "viver com qualidade"
Mesmo sabendo-se que, em muitos casos, o doente não vai ficar funcional a 100%, Maria José Festas realça que a equipa trabalha no sentido de se “aceitar a nova condição de vida, ajudando-se a pessoa a ultrapassar a fase de luto e a perceber que, apesar das limitações, pode viver com qualidade”. Para a médica, este é dos momentos mais desafiantes da sua intervenção, porque as reações divergem de pessoa para pessoa.
O programa completo pode ser consultado aqui.