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Reorganização do Centro de Saúde de Sete Rios inclui a criação de novas USF

"Queremos um centro de saúde mais próximo do utente, mais resolutivo, que no fundo corresponda ao que as pessoas precisam e valorizam, que é ver ali o maior número dos seus problemas resolvido", explica Eunice Carrapiço, diretora executiva do ACES Lisboa Norte. Tendo este propósito em vista, foi criado um grupo de trabalho "com a missão de concretizar esse objetivo”.

Foi então considerado que o CS de Sete Rios seria o local certo para procurar implementar esse projeto, envolvendo "uma transformação organizativa mas também da própria infraestrutura".



"Evitar a criação de ilhas isoladas do arquipélago"

Com uns 40 médicos e 30 enfermeiros, o edifício foi construído nos anos 70 e nele funciona a maior UCSP (unidade de cuidados de saúde personalizados) do país, no que respeita à população inscrita e ao número de profissionais que ali trabalham.

Em declarações à Just News, a diretora executiva do ACES Lisboa Norte considera que estão reunidas as condições para “promover o trabalho em equipa” próprio do modelo USF (unidade de saúde familiar), mas “não deixando perder algumas das características que continuam a ser vantagens que o CS de Sete Rios apresenta”.


Eunice Carrapiço

“Importa que todos tenham interesse em que esta reorganização aconteça, até porque é manifestamente impossível trabalhar com uma mega equipa sem originar muito desperdício e bastante redundância”, salienta Eunice Carrapiço. Mas a vontade dos profissionais vai mesmo no sentido de que essa alteração organizativa aconteça o mais rápido possível.

Feitas as contas, prevê-se que o edifício possa vir a albergar quatro USF,  devendo manter-se ali a funcionar uma UCSP. A estratégia será conciliar o “espírito de equipa” próprio do modelo USF, mas “combatendo a tendência que por vezes existe neste tipo de unidades de se formarem ilhas que, por falta de ‘pontes’, acabam isoladas do arquipélago”.

"Absorver um pouco da cultura organizacional neste agrupamento"

Antes de assumir a direção da ACES Lisboa Norte, Eunice Carrapiço liderou, entre 2016 e fevereiro de 2020, a Equipa Regional de Apoio ao Desenvolvimento dos CSP da ARSLVT e, desde o início de 2019, que coordenava um projeto denominado “Centro de Saúde + Próximo”.

Este foco na proximidade e na criação de "pontes" terá certamente contribuído para a melhor adaptação ao que se seguiria após suceder a Manuela Peleteiro no cargo de diretora executiva do ACES Lisboa Norte em meados de fevereiro, precisamente dias antes de surgirem em Portugal os primeiros casos diagnosticados de covid-19.  

“Quando aqui entrei, a minha ideia era, em primeiro lugar, conhecer as equipas, absorver um pouco da cultura organizacional neste agrupamento, e a partir daí perceber quais as áreas em que os profissionais valorizariam mais o meu contributo. Vir para cá com ideias preconcebidas, sem conhecer a realidade, seria um disparate absoluto”, afirma Eunice Carrapiço. Esperava-a um ACES com quase 600 profissionais e perto de 267 mil utentes.

Foram mais ou menos duas semanas até a epidemia de covid-19 começar a manifestar-se em Portugal. “Nessa altura, assistimos à necessidade de reorganizar muito rapidamente os serviços. Dia a dia, quase de hora a hora, era necessário cumprir com aquilo que eram as orientações que nos chegavam da Direção-Geral da Saúde e, naturalmente, da ARSLVT. Depois entrámos em fase de mitigação e a 26 de março procedemos à abertura da nossa primeira e, até agora, única área dedicada à covid-19”, refere.


Eunice Carrapiço com João Ramires e Isabel Oliveira, respetivamente, presidente e vogal de Enfermagem do Conselho Clínico e de Saúde
 
Área Dedicada Covid-19 - Comunidade Lisboa Norte "foi montada num fim-de-semana"

Foram, na altura, identificadas duas unidades que reuniam as condições ideais para acolher a ADC, uma das quais ficou logo excluída por estar localizada na área do Pulido Valente, um hospital considerado ‘limpo’. Acabou por ser o edifício da USF Rodrigues Miguéis o escolhido, com a consequente “transferência” dos utentes dessa USF e dos próprios profissionais que os acompanham para o CS de Sete Rios.

Eunice Carrapiço conta que a Área Dedicada Covid-19 - Comunidade Lisboa Norte – cuja coordenação entregou à médica de família Esmeralda Cunha, que está à frente da USF Dona Amélia de Portugal – “foi montada num fim de semana”, com o próprio ACES a tratar das adaptações necessárias, como, por exemplo, a aquisição dos acrílicos para os balcões de atendimento. 

O espaço oferece todas as condições: “Em primeiro lugar, porque não fica junto a edifícios habitacionais. Trata-se de uma zona ampla, com muito estacionamento em redor e bastante acessível em termos de transportes. É um edifício novo, com uma configuração que tornou fácil a criação de um circuito de ‘sujos’ e outro de ‘limpos’ e com uma entrada pelas traseiras para os profissionais, em instalações que, inclusive, dispõem de duches.”

Integralmente constituídas por voluntários, cada uma das seis equipas fixas que asseguram, 7 dias por semana (das 8h às 20h), o funcionamento da ADC – Comunidade Lisboa Norte é constituída por dois médicos, dois enfermeiros e um secretário clínico. A hipótese de abrir uma segunda ADC está, neste momento, posta de parte, porque “estamos a ter uma evolução muito favorável relativamente à pandemia”.

"A relação médico-doente é algo muito diferenciador desta especialidade”

Quando entrou na faculdade, em Lisboa, Eunice Carrapiço imaginava que um dia haveria de ser pediatra. Mas o estágio que fez logo no 1.º ano com o médico de família Luís Rebelo e a “experiência muito gira” que viveu com uma colega já no final do curso marcaram o seu futuro profissional – nunca mais esquecerá as 6 semanas que passaram nas ilhas das Flores e do Corvo a fazer Medicina Geral e Familiar.

“Entretanto, começava a falar-se no conceito de USF, um novo modelo organizativo nos CSP, e foi aí que pensei em seguir MGF, achei que era uma especialidade muito abrangente. E depois tinha uma componente de que eu sempre gostei muito, a questão da comunicação, da relação médico-doente, algo absolutamente central e muito diferenciador desta especialidade”, justifica.


Eunice Carrapiço

"Foi uma grande oportunidade de crescimento profissional e pessoal fazer a especialidade com o Prof. Victor Ramos”, reconhece. Eunice Carrapiço envolveu-se, entretanto, de forma ativa, no processo de passagem da UCSP São João do Estoril a USF, em 2014, desafiando o ex-orientador a integrar essa unidade. Esteve depois a tempo parcial na USF Benfica Jardim, em Lisboa, antes de assumir responsabilidades, a tempo inteiro, na ARS de Lisboa e Vale do Tejo.

Durante o Internato Médico da especialidade e a seguir, já com o título de MGF, desenvolveu atividades de formação para internos e equipas multiprofissionais de cuidados de saúde primários em várias áreas.

Na ARSLVT, Eunice Carrapiço foi coordenadora da Equipa Regional de Apoio (ERA) ao Desenvolvimento dos Cuidados de Saúde Primários (2016-2020) e coordenadora regional dos Programas de Rastreio de Base Populacional (2017-2020).




A entrevista completa pode ser lida na edição de maio do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários- publicação distribuída todos os meses a profissionais de todas as unidades de cuidados de saúde primários do SNS.

O que nos move: Partilhar projetos e boas práticas, aproximar os profissionais, valorizar as equipas e o SNS.

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