Resistência antimicrobiana: «É crucial identificar rapidamente os doentes infetados por MRSA»
"Saber com rapidez que um doente está colonizado ou infectado por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) é muito importante por dois motivos", afirma Pedro Crespo, infeciologista na ULS de Viseu Dão-Lafões e coordenador local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA).
De acordo com o responsável, "assim que conhecemos esse estado, podemos implementar medidas de isolamento adequadas e iniciar protocolo de descolonização e, com isso, prevenir a transmissão desta bactéria a outros utentes". Por outro lado, refere que "este diagnóstico permite adequar precocemente a antibioterapia em curso, reduzindo complicações e tempo de permanência hospitalar".
O médico, que vai partilhar a sua experiência no dia 10 de abril, num webinar precisamente intitulado "MRSA: Estratégias Inovadoras para o Controle da Resistência Antimicrobiana" e dirigido a profissionais de saúde, destaca a importância do tema e explica como é que a resistência antimicrobiana do MRSA complica o tratamento:
"O facto de um Staphylococcus aureus ser resistente à meticilina limita as alternativas terapêuticas utilizáveis. Como já abordado, a maior parte das alternativas terapêuticas de 1ª linha têm de ser administradas por via endovenosa e em meio hospitalar o que tem um impacto significativo na vida dos doentes."
Refere ainda que, "por outro lado, a necessidade de implementação de medidas de isolamento para conter a transmissão de MRSA, pode ter grande impacto (sobretudo psicológico) nos doentes. Os utentes que ficam sob medidas de isolamento podem sofrer consequências graves no seu bem-estar psicológico, sobretudo se estas medidas não lhe forem explicadas de forma adequada." E conclui: "Estes factores resultam em internamentos mais prolongados e perda de qualidade de vida.".jpg)
Pedro Crespo
"Só fazendo colheitas adequadas poderemos ter resultados fidedignos"
Relativamente ao que podem os profissionais de saúde fazer para (continuar) a melhorar a gestão e o tratamento do MRSA, Pedro Crespo refere que, "em primeiro lugar, é crucial identificar rapidamente os doentes infectados/ colonizados através de colheitas iniciais adequadas, dirigidas ao foco da infeção".
E faz questão de sublinhar a importância deste aspeto: "Só fazendo colheitas adequadas poderemos ter resultados fidedignos, para prescrever os tratamentos correctos, na dose, frequência, via de administração e duração recomendadas."
De seguida, considera que "é essencial explicar bem aos doentes por que precisam de medidas de isolamento adicionais e por que não podem circular livremente pelas enfermarias. Nenhum doente colonizado/ infectado por MRSA pode ser privado de cuidados, tanto a nível de exames como de tratamentos."
E acrescenta: "Pode haver necessidade de agilizar todos esses processos no ambiente hospitalar para que o utente mantenha resposta às suas necessidades, minimizando o risco para os restantes utentes. Se os doentes em isolamento entenderem o motivo desta situação, serão também eles agentes de prevenção da transmissão, compreendendo a necessidade de reforçar a higiene das mãos (tanto eles como as visitas e prestadores de cuidados), ficar num quarto individual e evitar proximidade com outros utentes no período de internamento."
Finalmente, após a alta hospitalar, alerta para a necessidade de "melhorar a adaptação dos cuidados prestados a estes utentes em contexto extra-hospitalar" e desenvolve a ideia: "Apesar de haver necessidade de cuidados adicionais, não há necessidade de implementar medidas tão restritivas como as utilizadas em meio hospitalar, uma vez que nem todos os conviventes serão tão susceptíveis a infecções como os que estão num hospital."
Afirma também que o reforço da higiene das mãos "pode ser suficiente para evitar a transmissão do MRSA em contexto de lares ou unidades de cuidados continuados", lamentando, contudo, que "ainda verificamos que o conhecimento sobre medidas de isolamento dos profissionais destas instituições nem sempre é o mais adequado".
Como muitos utentes infectados/colonizados por MRSA recorrem com regularidade a instituições prestadoras de cuidados de saúde, é crucial que a informação sobre o estado de colonização não se perca e seja transmitida entre prestadores de cuidados. Só assim se podem gerir as medidas de isolamento a implementar, bem como o momento indicado para as suspender.

Organizado pela Cepheid, o webinar que vai contar com a intervenção de Pedro Crespo realiza-se dia 10 de abril, sendo a inscrição gratuita. A iniciativa é dirigida a "todos os profissionais com interesse no controle da resistência antimicrobiana".


