Saúde e qualidade de vida do idoso: formação em Nutrição Geriátrica «é subvalorizada»
A Nutrição Geriátrica é uma temática “subvalorizada quer na formação pré-graduada como no Internato Médico de Medicina Interna”, segundo Sofia Duque, internista e membro do Secretariado do GERMI – Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). Para ajudar a colmatar esta falha na formação, o GERMI promoveu agora o 1.º Curso de Nutrição Geriátrica em Medicina Interna.
Alimentação exige "atenção especial" dos profissionais de saúde
Sofia Duque, com competência em Geriatria pela Ordem dos Médicos, realçou, em declarações à Just News, que "este curso veio preencher uma grande lacuna do curriculum médico". E explicou porquê: “Uma alimentação adequada pode ter um enorme impacto na saúde e na qualidade de vida da pessoa idosa, o que exige dos profissionais de saúde uma atenção especial.”
A internista sublinhou que o problema nutricional que mais afeta o doente geriátrico é a desnutrição. Contudo, “existem outras condições, como a fragilidade e a sarcopenia, que, não sendo exclusivamente do foro da Nutrição, obrigam a uma intervenção deste âmbito”.
Outras condições agudas e crónicas podem também implicar cuidados nutricionais especiais adaptados à fragilidade dos doentes idosos, “como a disfagia, a diabetes, a doença renal crónica, as úlceras por pressão, a fratura do colo do fémur e o consumo de determinados fármacos”.
"Aumentar a literacia dos idosos e dos seus cuidadores"
Sofia Duque alertou ainda para o facto de predominar, na sociedade, o falso mito de que “os mais velhos apenas necessitam de uma dieta simples, menos nutritiva e em menor quantidade”.
Para evitar este tipo de situações, a responsável acredita que se deve apostar “na otimização dos cuidados nutricionais a nível hospitalar e nos cuidados de saúde primários, estabelecer sistemas de rastreio de risco nutricional, aumentar a literacia dos idosos e dos seus cuidadores, bem como dos responsáveis por serviços que fornecem refeições”.
Apontou ainda a importância de o Estado poder comparticipar os suplementos nutricionais, que “são frequentemente considerados fundamentais para atingir as necessidades nutricionais dos idosos”.
"Desenvolvimento de soluções nutricionais"
A formação, que teve apoio da Nestlé Health Science, contou com a participação de 33 formandos, na maioria internos e especialistas em Medicina Interna, embora também tenham estado presentes médicos de família e outros profissionais de saúde que dão assistência aos mais velhos.
De acordo com Daniela Dias, nutricionista e Business Development manager da Nestlé Health Science, o apoio dado ao curso deveu-se “à aposta que a empresa tem na investigação e desenvolvimento de soluções nutricionais, no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas, sobretudo daquelas que apresentam necessidades nutricionais específicas, como os idosos”.
Daniela Dias.
A responsável salientou também que a aposta no curso e “nos vários produtos que ajudam a solucionar as condições que possam levar as pessoas a um risco de desnutrição” deve-se ao facto de cerca de “30% dos seniores estarem em risco nutricional”.
Questionada sobre o balanço que faz desta iniciativa, Sofia Duque afirma que o curso foi “muito bem-sucedido”, esperando-se a realização de outros no futuro, "para os quais já existem candidatos".