Infeciologistas formados no S. João «têm contribuído para a criação de serviços noutras instituições»

A transferência de infeciologistas formados no Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar de São João (CHUSJ) para outras instituições penaliza, de certa forma, o seu funcionamento. No entanto, a sua diretora, Lurdes Santos, encara esta mudança com positivismo, pois “representa o crescimento e a valorização da especialidade no meio hospitalar”.

Uma das funções da médica, ao longo dos anos, tem sido precisamente ajudar a estimular a formação da equipa, incentivando e auxiliando, desde logo, os internos a realizar trabalhos, elaborar protocolos e participar em cursos e outras atividades formativas.

Nesse sentido, o São João acabou por tornar-se uma “fonte geradora de especialistas bem formados, que têm contribuído para a criação de serviços noutras instituições”, salienta Lurdes Santos. O Hospital de Braga e o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa são dois exemplos paradigmáticos.


Lurdes Santos: “Um dos meus objetivos é que os internos tenham aqui uma preparação exemplar que lhes permita serem requisitados por todos”

Menor referenciação, menos deslocações de utentes

A diretora vê esta situação com bons olhos, pois “reflete a importância crescente que a Infeciologia tem em toda a dinâmica hospitalar”. Como explica, “com a dificuldade atual de tratar infeções, a sua complexidade nos imunodeprimidos e nos doentes com dispositivos e ainda o aumento de resistência aos antimicrobianos, fazendo-nos regressar, por vezes, à ‘era pré-antibiótica’ por escassez de opções, o conhecimento e a intervenção da Infeciologia torna-se relevante”.

Esta transferência de recursos humanos para outras instituições acaba por resultar numa maior capacidade assistencial desses serviços, que resulta numa mais valia bem identificada e destacada por Lurdes Santos:

“O número de doentes referenciados por outros hospitais do distrito (para o S. João) reduziu bastante, graças à capacidade de resposta que agora têm para gerir um maior leque de patologias.” 

Ainda assim, a responsável refere que, “por vezes, o diagnóstico e tratamento dos doentes é um desafio, porque a evolução que tem existido em certos domínios não tem acompanhado o crescendo de complexidade dos doentes”.

Nesse contexto, são frequentes as situações de “doentes imunodeprimidos que desenvolvem infeções por agentes menos comuns, como fungos, formas atípicas de tuberculose ou de outros agentes infeciosos muito complexas e difíceis, que exigem envolvimento multidisciplinar”.



Reforço dos recursos humanos face à crescente dinâmica


É certo que as várias saídas de profissionais, quer para integrar ou criar outros serviços, quer para assumir posições de liderança no campo da Saúde, são encaradas de forma positiva por Lurdes Santos, que faz questão de olhar para o SNS de uma forma holística. No entanto, também é um facto incontornável que estas saídas "ainda não foram completamente repostas".

O desafio é maior porque "três outros colegas infeciologistas desempenham funções no âmbito do GCL-PPCIRA e do PAPA, estando essencialmente alocados ao Centro de Epidemiologia Hospitalar". Assim, uma das suas principais prioridades é o reforço dos recursos humanos, para garantir resposta à atividade da UCI e do Ambulatório, até porque "é cada vez maior".

E que dinâmica é essa? “Além das consultas hospitalares, fazemos ainda consulta descentralizada na cadeia de Custóias (de VIH, mensalmente) e na Associação Abraço. Nesta última, realizamos Consulta de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) aos doentes que têm comportamentos de risco. Desde março, sete meses após a inauguração, começámos a ir também semanalmente à Sala de Consumo Assistido do Porto, onde fazemos consultas e tratamentos de VIH e de hepatite, a doentes previamente rastreados. E a breve prazo devemos iniciar a Consulta de PrEP, com todos os desafios inerentes.”

Acresce ainda a atividade formativa pré e pós-graduada, e de urgência, com uma escala de 12 horas para apoio ao Serviço de Urgência e de 24 horas à Unidade de Cuidados Intensivos, sendo que esta última “seria beneficiada com o reforço de especialistas”.


Equipa do Serviço de Doenças Infeciosas do CHUSJ

Resposta imediata a doenças emergentes

Mas não só. Há ainda uma grande motivação em desenvolver (novos) projetos. Uma das ambições é desenvolver e consolidar a Unidade de Doenças Emergentes, “através de formação, seleção de materiais e organização de equipas, de tal forma que haja um conjunto de profissionais preparados para responder imediatamente a qualquer suspeita”.

Em fase de implementação está o projeto “Uma só Saúde”, já aprovado pelo CHUSJ, considerando, desde logo, “a interligação das resistências aos microbianos com o uso de pesticidas e de antibióticos nas rações dos animais e na agricultura, mas também a interface entre o reino animal e muitas doenças zoonóticas”.


Lurdes Santos: “As previsões apontam para que em 2050 haja mais mortes por infeções por bactérias muito resistentes a antibióticos do que por doenças oncológicas ou outras”

A manutenção das formações dirigidas a colegas é ainda outro dos desígnios de Lurdes Santos e da sua equipa. “Sempre gostei de incentivar a formação e, até ao surgimento da pandemia, dinamizámos várias, na área da hepatite C, por exemplo", refere.

E acrescenta: "Este ano, já organizámos a 15.ª edição do Curso de Pós-Graduação em Antimicrobianos, com uma duração de sete semanas, que atrai colegas de todo o país, o Curso de Medicina de Viagem e um outro Curso de Infeções do SNC, para além de termos colaborado noutros, como num curso de antibioterapia dirigido a internos de MGF e num curso pré-congresso nacional dirigido também a infeções de SNC."



A reportagem completa ao Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João, com entrevistas a diversos profissionais, pode ser lida na última edição do jornal Hospital Público.

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