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Serviço de ORL do Egas Moniz conseguiu colocar mais de 100 implantes cocleares em 2022

Os profissionais do Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), que se encontra localizado no Hospital de Egas Moniz, terminaram o ano de 2022 em festa, com a colocação de 103 implantes cocleares, o que deixou o grupo orgulhoso, sobretudo pelos “excelentes resultados obtidos”, como frisa Pedro Escada, que também coordena o Centro de Referência em Implantes Cocleares.

Atingir a intervenção n.º 100 num só ano é algo significativo e compreende-se que o facto seja celebrado. Basta ver que o programa de implantações cocleares pioneiro em Portugal, iniciado em 1985 no CHUC, apenas conseguiu atingir esse número escassas semanas antes, em novembro.



O diretor do Serviço de Otorrinolaringologia do CHLO, que inclui na sua estrutura a Unidade de Surdez, conta que esta foi criada em 1995, inicialmente chamada Consulta de Surdez Infantil. Este terá sido o começo do acompanhamento dos doentes surdos no Hospital de Egas Moniz, um percurso marcado por outras duas datas importantes:

Em março de 2007 era colocado o primeiro implante coclear e em maio de 2017 surgia o Centro de Referência em Implantes Cocleares, agrupando os serviços de ORL do CH de Lisboa Ocidental, CHU de Lisboa Central e Hospital Cuf Infante Santo (atual Cuf Tejo).

"Sempre fomos diferentes e inovámos"

Em declarações à Just News, Pedro Escada destaca, essencialmente, o acompanhamento multidisciplinar proporcionado, neste caso, aos doentes que se submetem a uma implantação coclear.

Pedro Escada

Além de otorrinolaringologistas, enfermeiros, audiologista, terapeuta da fala e psicóloga, a equipa conta, até, com uma professora do Ensino Especial e uma interlocutora de Língua Gestual Portuguesa (LGP), surda profunda, abrindo as portas ao bilinguismo, aliás, “algo muito contestado ao longo dos anos”, como sublinha o diretor.

“Há pouco tempo ainda se defendia a ideia de que a criança surda não deveria desenvolver duas formas de comunicação – oralidade e LGP --, para que uma não atrasasse a outra. Mas nós sempre fomos diferentes e inovámos! Atualmente, já é sabido que quanto mais informação a pessoa surda receber mais capacidades tem para comunicar”, afirma Pedro Escada.

E observa: “Quando aqui chegam pela primeira vez e falam LGP com a interlocutora, os pais ficam surpreendidos. É a ponte perfeita. A Prof.ª Assunção O’Neill, responsável pela criação da Unidade de Surdez, teve essa visão de fazer a integração da LGP e da oralidade muito antes do tempo.”



"Lutar para que os doentes tenham as melhores condições e dispositivos"

A primeira cirurgia de implantação coclear realizada no Hospital de Egas Moniz contou com o apoio do cirurgião espanhol Manuel Manrique, de Navarra, e foi feita numa mulher de 40 anos, cabeleireira de profissão, que apresentava uma surdez neurossensorial de grau profundo bilateral.

De referir que a equipa passou a fazer implantação coclear autonomamente logo a partir da segunda intervenção. A ligação do Serviço de ORL do HEM à área dos implantes cocleares também acaba por ficar marcada pelo facto de Pedro Escada e Assunção O’Neill terem participado, em 2015, na elaboração das Normas de Orientação Clínica da Implantação Coclear em Portugal.

Não menos importante foi também a definição do Acordo-Quadro do Ministério da Saúde para aquisição de implantes cocleares. Os dois especialistas integraram o painel de peritos que definiu as características mínimas obrigatórias dos dispositivos e o seu preço máximo. O primeiro Acordo-Quadro data de 1998, tendo sido atualizado em 2018, com uma nova versão a surgir em 2021.

“Isto é advocacy, algo que os médicos também devem fazer: lutar para que os doentes tenham as melhores condições e dispositivos”, salienta Pedro Escada.


Pedro Escada, Assunção O`Neill e Ricardo Santos

“Os bons resultados devem-se muito à excelente equipa envolvida no programa”

Assunção O’Neill, que esteve ao lado de Pedro Escada na colocação do  histórico 100.º implante, não hesita em afirmar que “os implantes cocleares vieram mudar o tratamento da surdez, tornando-o muito promissor”, considerando que “são, sem dúvida, a forma tecnicamente mais sofisticada para conseguir a reabilitação auditiva”.

Particularmente sensibilizada para o problema da surdez infantil, considera ser “a multidisciplinaridade e a dedicação da equipa, associada a uma investigação muito assertiva”, o que permite aos profissionais do Egas Moniz ajudar crianças com surdez pré-lingual que, se implantadas até aos 3  anos, “vão ter uma qualidade de vida semelhante à dos meninos ouvintes”.



A intervenção cirúrgica para colocação de um implante coclear nesse grupo etário de tão tenra idade é, aliás, feita no Hospital São Francisco Xavier, pela simples razão de que é naquela unidade do CHLO que está localizado o Serviço de Pediatria, com todo o apoio especializado inerente. Todas as restantes crianças e adultos são intervencionados no HEM.

Assunção O’Neill, que se formou na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e fez o internato no Egas Moniz, hospital onde ficou até hoje a trabalhar, faz questão de frisar que “os bons resultados obtidos com a colocação de implantes cocleares devem-se muito à excelente equipa envolvida no programa”.



"Felizmente, a maior parte dos casos é de sucesso."

Ricardo Santos, 38 anos, que reconhece ter optado pela ORL por ser uma especialidade médica e cirúrgica e, para além disso, “muito versátil”, é o terceiro médico do Serviço que surge especialmente ligado ao Centro de Referência em Implantes Cocleares.


Tendo-se formado pela FMUL, fez o internato da especialidade no hospital onde se mantém. “Participo ativamente nas cirurgias de implantação, mas também em todo o processo de reabilitação auditiva, onde faço o acompanhamento de doentes das mais diversas idades”, refere, reconhecendo:

“É muito gratificante assistir à sua evolução. Os utentes ouvem mal ou não ouvem de todo e, passado pouco tempo, conseguimos fazer com que passem a ouvir e sejam mais independentes e autónomos. Felizmente, a maior parte dos casos é de sucesso.”



A intervenção da enfermagem no incremento da qualidade de vida dos doentes

Bruno Nogueira, 40 anos, é, desde 2012, o enfermeiro responsável pela valência de ORL do HEM. Conta que o bloco operatório foi o seu “primeiro emprego”, do qual não pretende desligar-se, estando, neste momento, a frequentar o Mestrado de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

“Sempre considerei esta atividade aliciante, devido à sua especificidade e à diferenciação que  representa. A implantação cirúrgica deste dispositivo é, por vezes, a única forma de ajudar uma pessoa com perda de audição severa ou profunda de restabelecer a sua capacidade de percecionar o som ambiente que a rodeia. Representa um incremento significativo na sua qualidade de vida e na capacidade de comunicação”, afirma Bruno Nogueira.


Bruno Nogueira

E explica que, enquanto enfermeiro de perioperatório, “tenho como funções garantir a segurança e o bem-estar do utente durante o processo cirúrgico, nas fases pré, intra e pós-operatória. Colaboro com a equipa médica na agilização do procedimento cirúrgico, garantindo a presença e funcionamento de todo o equipamento e dispositivos necessários ao sucesso da cirurgia. Acresce a responsabilidade de garantir que são seguidas as normas de segurança e os protocolos de qualidade”.

Considera que o facto de poder integrar o programa do HEM que se dedica à colocação de implantes cocleares é “bastante gratificante”, sendo “uma oportunidade de crescimento profissional única”.

Assegura ainda que, na sua ausência, “temos um conjunto de enfermeiros integrados e capacitados para desempenhar todas as funções neste tipo de cirurgia, de forma a garantir o devido apoio à equipa médica, com a absoluta segurança e qualidade dos cuidados prestados”.



A reportagem completa pode ser lida no último jornal Hospital Público.

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