Sociedade de Oncologia quer criar boletim de saúde para sobreviventes de cancro, em parceria com MGF
A presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), Gabriela Sousa, desafiou os médicos de família a trabalharem em conjunto com os oncologistas na criação de um boletim de saúde para os sobreviventes de cancro, à semelhança do que existe para as grávidas ou para as crianças. O repto foi lançado no 19.º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar, que terminou no domingo, em Viseu, tendo sido imediatamente aceite.
"O desafio é, sobretudo, no sentido de podermos trabalhar em conjunto na elaboração de um plano de cuidados do sobrevivente. Seria bom para as duas especialidades ter um manual, alguma coisa onde pudéssemos convergir, colocar as nossas preocupações relativamente a determinado doente em concreto e que fosse um veículo de comunicação entre os serviços de Oncologia e os centros de saúde”, explicou Gabriela Sousa.
A oncologista do IPO de Coimbra, atual presidente da SPO, associou-se ao congresso anual da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) para proferir uma palestra sobre o tema “Sobreviventes: a dimensão do problema”, com um duplo propósito: chamar a atenção para o facto de o fim do tratamento não significar, muitas vezes, o fim da doença e para pedir apoio na criação do plano do sobrevivente.
Rui Nogueira, presidente da APMGF, aceitou o desafio de imediato: “Não faltam razões para trabalharmos em conjunto, para desenvolvermos alguns instrumentos que possam facilitar a comunicação, de modo a encontrar caminhos para os doentes oncológicos.”
Segundo Gabriela Sousa, o objetivo de criar um plano de cuidados para o sobrevivente de cancro visa promover uma interligação entre os serviços de Oncologia e os cuidadores, que são, na maior parte das vezes, os médicos de família. Nestes boletins, que também chamou de “vias verdes”, constaria informação sobre diagnósticos, tratamentos realizados, sequelas previstas pelos tratamentos, contactos e recomendações específicas, por exemplo, ao nível da dieta ou exercício físico.
A presidente da SPO lamentou ainda o impasse em torno do Plano Oncológico Nacional. Sublinhou que, desde 2012, “não foram desenhados mais planos com metas bem definidas”, tendo a Comissão Coordenadora Nacional para as Doenças Oncológicas definido somente algumas prioridades. “Já comunicámos a disponibilidade para trabalhar na construção de metas”, acrescentou.
O 19.º Congresso Nacional de MGF decorreu entre os dias 25 e 27 de setembro, no Instituto Politécnico de Viseu – em simultâneo com o 14.º Encontro Nacional de Internos e Jovens Médicos de Família –, sendo de registar a aproximação entre médicos de família e oncologistas.