«Somos o único Serviço de Doenças Infeciosas a nível nacional a ter uma UCI dedicada»

A integração de unidades de Cuidados Intensivos (UCI) nos serviços de Doenças Infeciosas é “uma prática muito corrente no mundo, mas que as instituições portuguesas que já a implementaram no passado decidiram entregar à Medicina Intensiva”, afirma o infeciologista Paulo Figueiredo.

Contudo, na ótica do médico que coordena a UCI do Serviço de Doenças Infeciosas do São João, "essa integração é fundamental sobretudo pelo facto de as doenças emergentes trazerem consigo associada a palavra ‘pânico’ e ninguém melhor que os infeciologistas para saber qual é o mecanismo de transmissão dos vários agentes e poder conter o medo”.


Paulo Figueiredo

A título de exemplo, recorda a forma como o VIH foi encarado inicialmente, “em consequência dos mitos sobre a sua transmissão, que muito prejudicaram os doentes”.

Paulo Figueiredo acredita que os sete infeciologistas e os demais internos e enfermeiros dedicados à área terão muito trabalho pela frente, pois, “continuará a haver muito movimento, mesmo que se aposte bastante na prevenção, já que a população envelhece cada vez mais e adquire outras patologias”.

De facto, “mesmo com a tentativa de evitar o surgimento de infeções com a vacinação, a verdade é que as pessoas conseguem ter tão grande longevidade graças ao uso de medicação que vai alterando mais a sua imunidade."

E acrescenta: "Há muitos fármacos produzidos em catadupa de alta eficácia para determinada doença que têm efeitos colaterais relacionados com a diminuída imunidade dos doentes, levando a que novos agentes entrem no seu organismo e que agentes antigos causem infeções mais graves."

E, nesse sentido, Paulo Figueiredo manifesta qual é um dos seus principais desejos: "Expandir a UCI para uma ala maior."



Quartos com "sistemas modernos de pressão negativa"

Conforme Paulo Figueiredo explica, as 10 camas que compõem a UCI estão numa área de pressão negativa, “que garante a segurança da equipa na presença de agentes infeciosos transmitidos pela via aérea”, e estão preparadas para receber doentes adultos de gravidade ligeira, média e máxima.

Desde setembro de 2022, após a execução de obras de remodelação de quatro quartos que pertenciam ao Internamento, a sua gestão passou a ficar ao cuidado da UCI.

Dois dos quatro quartos são de alta eficácia de isolamento, com dupla antecâmara e circuitos independentes, destinados a receber “casos suspeitos ou confirmados de doença emergente ou facilmente transmissível e fatal, como a febre hemorrágica”.

Apesar de haver mais quartos com antecâmara noutras instituições, o infeciologista destaca que “não terão este grau de eficácia, associado a sistemas modernos de pressão negativa (AVAC), que garantem um regular gradiente de pressões entre o quarto e o exterior”.

Tal permite que estes quartos sejam usados “para socorrer e para isolar doentes, mas também para permitir a configuração de um laboratório de alta segurança, onde se podem fazer trabalhos de microbiologia”.

O médico esclarece que “rapidamente se percebeu que era preciso dar formação a sangue novo para garantir a continuidade deste trabalho no futuro” e que essa “capacidade formativa estava diretamente dependente da polivalência, sendo a equipa capaz de receber qualquer patologia”.

Nesse sentido, e estando esta UCI integrada na rede de camas de cuidados intensivos do CH, há momentos em que recebem também patologias alheias ao foro da Infeciologia.



“Este hospital deu-me toda a formação de que eu precisava”

Paulo Figueiredo nasceu no Porto e, após frequentar a FMUP, desenvolveu todo o seu percurso formativo no Hospital de São João, concretamente o internato de Formação Geral e o de Doenças Infeciosas, bem como a subespecialização em Medicina Intensiva. “Este hospital deu-me toda a formação de que eu precisava”, destaca.

Aí se tem mantido enquanto especialista, à exceção de uma curta passagem que fez pelo Hospital de Vila Real, no início da carreira. O interesse pela Medicina Intensiva foi surgindo à medida que se ia deparando com “doentes em estado grave, com patologias como o sarampo e a meningite, que, hoje em dia, são muito mais raras, mas que, à época, conduziam muitas vezes à morte”. Tal levou-o a “sentir necessidade de poder atuar de forma mais intensiva”.

Após vários anos de trabalho, no início de 2023 assumiu a coordenação desta valência.



A reportagem completa ao Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João, com entrevistas a diversos profissionais, pode ser lida na última edição do jornal Hospital Público.

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