South Side of the Heart 2024 assinala 30 anos da Cardiologia de Intervenção do HGO

“Fomos sempre procurando formas de contornar os obstáculos que iam surgindo. Nunca desistimos”, frisa Cristina Dantas Martins, a coordenadora adjunta da Intervenção Coronária na Unidade de Cardiologia de Intervenção do Hospital Garcia de Orta (HGO).

Nos próximos dias 10 e 11 de outubro, este evento, organizado pelo Serviço de Cardiologia do HGO e presidido pelo seu diretor, Hélder Pereira, permitirá revisitar as conquistas de três décadas e antecipará passos futuros.



“Quando tratámos o primeiro doente com enfarte, em 1994, a angioplastia coronária era uma técnica inovadora e a sua realização num hospital sem cirurgia in house era controversa. Hoje em dia, é aceitável fazê-la, mas, na altura, a sua implementação foi difícil”, começa por recordar Cristina Dantas Martins.

Recentemente, “com as TAVI, voltámos a passar pelo mesmo processo”, adianta, notando que, “à luz da ciência e das melhores práticas médicas, o implante percutâneo da válvula aórtica deve ser feito na presença de cirurgião cardíaco”. Apesar de o HGO não ter essa especialidade, “essa realidade não demoveu a equipa do Laboratório de Hemodinâmica de tratar os seus doentes, estabelecendo uma parceria com um hospital que tivesse essa valência, neste caso, o Hospital de Santa Cruz, que prevê a deslocação de cirurgiões cardíacos ao HGO, para estarem presentes na sala a fim de poderem intervir caso surja alguma complicação”.

O programa foi iniciado em 2023 e, atualmente, já estão a ser tratados doentes de forma bimensal, o que “é muito relevante, porque a lista de espera é grande e a mortalidade destes doentes enquanto se encontram a aguardar a realização de TAVI não é negligenciável”.


Cristina Dantas Martins

“É muito importante a partilha das complicações para podermos melhorar para o futuro”

“O programa foi pensado e elaborado de modo a promover a partilha de conhecimentos e a discussão saudável sobre os diversos temas clínicos”, avança, acrescentado que, “além da introdução teórica sobre determinado tema atual e relevante da cardiologia de intervenção, é privilegiada a apresentação de casos clínicos, que promova a discussão entre os diferentes profissionais do painel e também com a assistência”.

Haverá ainda tempo para a discussão de complicações, através de casos clínicos diversos, “para partilhar o tipo de complicações, por vezes inesperadas, que surgem, o procedimento adotado pelos operadores, e o que os vários centros teriam feito nessa situação, reconhecendo, no entanto, que as ações num momento de stress são imprevisíveis”. Ainda assim, “é muito importante a partilha das complicações para podermos melhorar para o futuro, tendo sempre como foco o tratamento do doente em segurança”.

“É um trabalho de equipa, em que cada um conta”

O dia 11 ficará marcado pelo apresentação de várias temáticas, como a doença coronária calcificada ou a utilização da imagem intracoronária para ajudar na orientação e no tratamento dos doentes, a discussão de casos clínicos e ainda a sessão comemorativa dos 30 anos de cardiologia de intervenção no HGO.

Na véspera, serão realizados quatro workshops, dirigidos não apenas à classe médica, mas também a enfermeiros e técnicos de Cardiopneumologia. “É importante que as partilhas se estendam a todos os grupos, porque a sala de hemodinâmica não é feita só de médicos. Para que a cardiologia de intervenção funcione bem, tem de haver médicos, enfermeiros e técnicos de Radiologia e de Cardiopneumologia atualizados. É um trabalho de equipa, em que cada um conta”, realça.



“O Prof. Hélder Pereira faz a diferença”

Se o Laboratório de Hemodinâmica do HGO celebra 30 anos de existência, Cristina Dantas Martins cumpre 28 de carreira. Foi em 1996 que iniciou o internato de Cardiologia no Serviço de Cardiologia do HGO, tornando-se na primeira interna daquele Serviço, e durante esse período apaixonou-se pela cardiologia de intervenção, o que a tem levado a trabalhar praticamente sempre no Laboratório de Hemodinâmica.


Hélder Pereira

Apesar de reconhecer que o sucesso do Laboratório se deve a um trabalho de equipa, a médica evidencia que “o Prof. Hélder Pereira, que coordena o Laboratório desde a sua abertura e que em 2010 acumulou a direção do Serviço, faz a diferença, pelas suas capacidades técnicas e de liderança”.

A primeira edição do South Side of the Heart aconteceu em 2018. Cada reunião tem-se centrado num tema diferente, como a ecografia e os protocolos de referenciação da MGF para a Cardiologia.


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