Cepheid Talks

Substâncias psicadélicas: SPACE dá a conhecer a sua utilização em perturbações psiquiátricas

São já cerca de 150 os membros da Sociedade Portuguesa de Aplicação Clínica de Enteógenos (SPACE). Criada em maio do ano passado por um grupo de médicos de Psiquiatria, tem marcado presença em vários eventos científicos.

Divulgar "estudos e práticas recentes"

Ao longo deste período de tempo, o feedback recebido tem sido "surpreendentemente positivo", afirma Pedro Mota, reconhecendo que "o interesse mostrado por outros profissionais tem superado as nossas expectativas, o que nos motiva a conceptualizar novos projectos". 

Em declarações à Just News, explica que a presença da SPACE em congressos médicos tem um objetivo muito claro: Procurar levar até esse público não só perspetivas históricas e socioculturais do uso medicinal destas substâncias, "mas sobretudo divulgar estudos e práticas recentes da sua utilização em várias perturbações psiquiátricas".

As reações não têm sido indiferentes: "Claro que é um tema que desperta naturalmente alguma curiosidade e que levanta, inevitavelmente, muitas dúvidas que procuramos esclarecer com base naquilo que a ciência internacional nos tem transmitido."


Inês Figueiredo (Hospital Fernando Fonseca) e Mafalda Corvacho (CH UAlgarve), membros da SPACE, nas Jornadas Atlânticas da Saúde Mental, que decorreram em Cascais (março 2022)

Ketamina no SNS

De acordo com Pedro Mota, "muito recentemente começaram a surgir em Portugal os primeiros grupos de investigação científica nesta área, ligados tanto a instituições privadas, como a instituições de ensino públicas, pelo que tem sido muito interessante a partilha de experiências também nesse contexto".

E adianta uma novidade: "Em 2021 foi instituído o primeiro modelo de tratamento com terapia assistida por ketamina num hospital do Serviço Nacional de Saúde (SNS), algo que, atendendo aos resultados até à data, notavelmente servirá de incentivo para que noutros hospitais e serviços de Psiquiatria haja mais técnicos a procurar formação nesta área.

Uma terapia com "benefícios a longo prazo" 

Pedro Mota faz questão de salientar a importância de "não colocarmos a tónica exclusivamente na ação das substâncias em si", já que "a terapia psicadélica é um tipo de prática psiquiátrica que envolve uma combinação de terapia farmacológica e psicológica".

Indica também que, "ao contrário da maioria das terapias farmacológicas que atualmente estão disponíveis no tratamento de doenças psiquiátricas, o paciente não necessita de tomar um fármaco diariamente e de forma prolongada."


E como se processa esse tratamento? "Nesta modalidade terapêutica a substância psicadélica é geralmente administrada em apenas uma ou poucas sessões, com dosagens específicas e, geralmente, resultam em experiências subjetivas imediatas que podem ser profundamente significativas e com benefícios a longo prazo", esclarece o presidente da SPACE.

Esta realidade torna a modalidade "particularmente distinta da generalidade dos métodos terapêuticos ditos convencionais. Esta conceptualização não é, contudo, algo recente ou novidade no panorama internacional da Psiquiatria."



Alguns dos elementos dos Corpos Sociais da SPACE: Pedro Mota (CH Tâmega e Sousa), Catarina Cunha - vogal da Direção (Hospital de Magalhães Lemos), Mafalda Corvacho - secretária da Assembleia Geral (CHU Algarve) e Pedro Sousa Martins - presidente do Conselho Fiscal (CH Nordeste)

Pareceu-nos importante fomentar esta discussão em Portugal

Pedro Mota lembra que os primeiros tratamentos deste tipo surgiram na década de 1950 e "perduraram por mais de 20 anos (ainda que distantes dos padrões de ética e de segurança hoje aplicados)". Entretanto, deu-se "um renascimento encorajador com os ensaios clínicos promovidos desde a primeira década deste novo século".

Esta evolução justifica-se pela "quebra de preconceitos e estigmas da sociedade nos últimos 20 anos", mas não só. A explicação assenta, "sobretudo, nas limitações dos tratamentos psiquiátricos em determinadas populações e pela ausência de desenvolvimento de um número significativo de novos fármacos nas últimas décadas, particularmente se comparado às restantes áreas da Medicina".

E acrescenta: "Atentamos com muito interesse às práticas e investigações clínicas que têm vindo a ocorrer noutros países da Europa e do Mundo. Face aos resultados encorajadores de ensaios clínicos e início da sua implementação em vários estabelecimentos de saúde, pareceu-nos importante que em Portugal partíssemos do mais básico e fomentar esta discussão e partilha de conhecimentos sobre a aplicação clínica de substâncias psicadélicas."

Divulgação de ciência numa "área particularmente estigmatizada"

Questionado sobre se a criação da SPACE exigiu alguma coragem, face ao estigma existente, Pedro Mota considera que não: "Ainda que esta seja uma área particularmente estigmatizada por diferentes motivos, mesmo entre profissionais, assumimo-nos como uma associação científica pelo que priorizamos a divulgação de ciência, analisando-a e discutindo-a de forma crítica."

Além disso, indica que fez sentido avançar com o projeto "precisamente por também nos apercebermos que este é um interesse partilhado por um número significativo de colegas".

Intervenção da SPACE no IX Congresso de Alcoologia (outubro 2021)

Representação nacional e "papel fulcral" do Conselho Científico


Apesar de ser recente, a SPACE tem também promovido algumas ações, como o Ciclo de Webinares, que "promove uma interação muito estimulante entre organizadores, palestrantes e membros associados" e que se vai prolongar durante todo o ano de 2022. 

Outra iniciativa disponível em formato online e on-demand, é o curso introdutório “Saúde Mental e Psicadélicos” que tem o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM).

Quanto aos seus membros, a grande maioria são técnicos de saúde mental de todas as regiões do país, "literalmente de Bragança a Faro". A verdade é que já existia uma ligação prévia entre vários dos membros e "rapidamente nos apercebemos que também essa distribuição geográfica poderia ser útil para o cumprimento dos objetivos da associação", recorda Pedro Mota, que é médico interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS).

Mais recentemente, foi também constituído o Conselho Científico, composto por elementos de várias instituições hospitalares e académicas do país, que "são fulcrais para que os vários projetos que temos desenvolvido e outros que estamos a planear sejam devidamente orientados".

E se é certo que a SPACE está "particularmente direcionada a um público profissionalmente ligado à área da Saúde Mental, bem sabemos que há pessoas de diferentes outros backgrounds que têm interesse e procuram conhecer um pouco melhor estes tratamentos".

Assim Pedro Mota deixa o convite: "Qualquer pessoa que tenha interesse nesta área pode tornar-se membro associado da SPACE através do nosso site."

seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda