«Temos criado projetos que visam estabelecer pontes entre os centros de autoimunidade»
Promover a atualização científica e construir uma rede de contactos entre os centros têm sido alguns dos principais focos da nova coordenação do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (NEDAI -SPMI), que iniciou funções há cerca de um ano. Carlos Carneiro adianta que, desde então, têm vindo a realizar Networks de Immunology, de forma muito regular, por todo o país, e a promover cursos dirigidos a médicos de família e a internistas.
“Connecting teams, transforming care” é o lema do XI Congresso Nacional de Autoimunidade/XXX Reunião Anual do NEDAI , evento agendado para 19 a 21 de junho, em Évora, onde será feito o relançamento da plataforma de Registo Informático de Doenças Autoimunes.
Carlos Carneiro: “Queremos promover a união das equipas, para que tal resulte numa transformação dos cuidados de saúde”
Um dos principais objetivos do NEDAI tem sido o de “chamar de novo a comunidade autoimune a participar ativamente no Núcleo”, afirma Carlos Carneiro, o seu coordenador desde julho de 2024. Seria a partir dessa premissa que foi decidido “criar um conjunto de projetos que visam estabelecer pontes entre os centros de autoimunidade”.
Para si, era muito relevante “promover a atualização científica e sobretudo construir uma rede de contactos entre os diversos centros, que fomentasse a discussão entre pares, a fim de se conseguir um diagnóstico mais precoce e adequado”.
Considerando que “não é possível olhar para o futuro sem ver o passado”, Carlos Carneiro reconhece “o papel fundamental das anteriores coordenações na abertura e prossecução de um caminho., que foi sendo construído ao longo dos últimos anos”.
A tão desejada reativação do Registo Informático de Doenças Autoimunes (RIDAI), criado em 2007, era algo que fazia parte dos seus planos prioritários para este mandato, e que deverá ser finalmente anunciada agora no Congresso, em junho. “Após alguns anos de inatividade, os colegas irão agora receber as credenciais para poderem registar aí os seus doentes”, sublinha o nosso entrevistado.
“Será uma mais-valia para o próprio médico, que poderá avaliar o perfil dos seus doentes, identificar o número de casos com determinadas patologias ou terapêuticas e analisar o grau de adesão e de resposta aos tratamentos através dos patient-reported outcomes”, comenta.
A partir deste Registo de âmbito nacional, poderão ser feitos “estudos observacionais, prospetivos, seguindo os doentes em ambiente de vida real, e aceites colaborações de instituições que pretendam aceder a esta base de dados para desenvolver outros projetos”. Assim, “este Registo irá afirmar-se como uma ferramenta fundamental para a prática clínica e a investigação no âmbito das doenças autoimunes”.
Sendo vários os centros de autoimunidade existentes no país, em hospitais públicos e privados, o Registo afigura-se “essencial para captar o panorama que se vive a nível nacional”, sublinha o internista, que dirige o Departamento de Doenças Autoimunes do Grupo HPA Saúde, prosseguindo:
“É importante que possamos perceber as diferenças que existem no país, para reforçarmos os laços entre os vários centros e, juntamente com as instituições e a própria Direção-Geral da Saúde, criarmos mecanismos capazes de promover a literacia em saúde e agilizarmos outro tipo de processos de diagnóstico. Com este registo uniformizado, também será mais fácil partilharmos a nossa realidade com os centros internacionais.”
O médico destaca que a reativação deste registo clínico permitirá ainda “mostrar o dinamismo e a força da Medicina Interna, ao traduzir o volume de doentes e de patologias complexas e multissistémicas vistas no dia-a-dia, em consulta”. Na verdade, “sabe-se que a MI segue muitos doentes autoimunes, mas se não houver nada documentado trata-se apenas de uma pretensão, daí a importância do RIDAI no panorama da autoimunidade”.
Sendo o NEDAI o gestor do REGISTO, Carlos Carneiro avança que o Núcleo será responsável pelo “envio de relatórios periódicos, a introdução de dados, a promoção de trabalhos científicos e a participação, de forma multidisciplinar, com a sociedade civil e empresas, na análise dos dados”.
NEDAI - Biénio 2024-2026:
COORDENAÇÃO
Coordenador: Carlos Carneiro - (Hosp. Particular do Algarve, Unid. Alvor) 1
Co-coordenador: António Marinho - (ULS de Santo António) 2
SECRETARIADO
Ana Campar - (ULS de Santo António)
Fernando Salvador - (ULS de Trás-os-Montes e Alto Douro) 3
Frederico Batista - (ULS de Amadora-Sintra) 4
Glória Alves - (ULS do Alto Ave) 5
José Delgado Alves - (ULS de Amadora-Sintra) 6
Margarida Jacinto - (ULS do Alentejo Central) 7
Natália Oliveira - (ULS do Tâmega e Sousa) 8
Sofia Pinheiro - (ULS de São José) 9.jpg)
A entrevista completa pode ser lida no Jornal Médico de junho 2025.

