KRKA

Teste molecular da tuberculose no CH Médio Ave garante o «controlo da disseminação da doença»

"Nos dias de hoje as pessoas nem se lembram que a tuberculose existe, até porque temos uma terapêutica muito eficaz", afirma Helena Silva, diretora do Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA). No entanto, a médica adverte: "Face ao aumento significativo de migrantes oriundos de zona endémicas de tuberculose, é natural que os números aumentem."

Em declarações à Just News, recorda que "muitas destas pessoas vivem em condições de coabitação, são oriundas de países com uma taxa de prevalência elevada e muitas vezes têm uma tuberculose latente", sendo que "é preciso ter em atenção estes cenários para tentar controlar a disseminação da doença".


Helena Silva

Diagnóstico precoce

A existência de um diagnóstico precoce, face a uma doença "altamente contagiosa", é algo crítico quando se fala em tuberculose, salienta Helena Silva, acrescentando que, no caso específico do CHMA, a equipa de Patologia Clínica tem "uma larga experiência com o teste molecular, o que é uma mais valia para a área de influência do centro hospitalar", conforme explica:

"Instituímos a metodologia por biologia molecular em 2019 e é sem dúvida uma grande vantagem. Processamos a amostra e em cerca de duas horas temos o resultado cá fora. Temos trabalhado assim e temos tido efetivamente bons resultados. Portanto, passou-se de esperar 60 dias, com o exame cultural com sensibilidade baixa e que obriga a ter profissionais muito treinados, para duas horas já com o padrão de resistência."

E sublinha: "Não é só o diagnóstico da estirpe, mas é também o padrão de resistência associado a essa estirpe que é extremamente importante para instituir de imediato a terapêutica de primeira linha."


 O grupo de microbiologia que trabalha a tuberculose

"É possível trabalhar em segurança"

Segundo a responsável, a nível nacional o teste molecular "é algo que está aceite", mas manifesta alguma preocupação sobre se é um procedimento "que estará muito disseminado". O receio de Helena Silva foi reforçado pelos resultados de um questionário realizado recentemente durante um webinar sobre o tema, em que participaram mais de duas centenas de especialistas. Com alguma surpresa, verificou-se que "só 33% é que usavam o diagnóstico molecular para a tuberculose".

Esclarece também que "há ainda uma grande percentagem de laboratórios que não trabalham a tuberculose, desde logo, porque sempre foi um microorganismo muito exigente em termos de segurança para os profissionais de saúde". Contudo, considera que, "agora, é possível trabalhar em segurança, desde que não se trabalhem colónias vivas".



"Experiências no diagnóstico molecular da tuberculose em Portugal"

Tendo em conta as boas práticas implementadas pela sua equipa, Helena Silva foi convidada para partilhar recentemente a experiência do CHMA no webinar intitulado precisamente "Experiências no diagnóstico molecular da tuberculose em Portugal". De acordo com a médica, a iniciativa foi "muito interessante", até pelo facto de não ser um tema habitualmente discutido por especialistas:

"De facto, não tem sido muito abordado. Mesmo nos congressos anuais das sociedades médicas de Medicina Laboratorial e de Patologia Clínica, o tema não é tão desenvolvido como acho que poderia ser. É certo que não somos, atualmente, um país com uma elevada prevalência de tuberculose. Temos menos de 20 doentes/ano por cem mil habitantes e temos a doença mais ou menos controlada! No entanto, é um tema que irá reaparecer nas sociedades".

A maioria dos participantes no webinar, que contou com 230 inscrições, foram patologistas clínicos de variadas entidades de todo o país, mas a iniciativa contou também com profissionais que trabalham na área laboratorial, como técnicos de análise, biologistas, microbiologistas, biomédicos e farmacêuticos. "Penso que foi interessante para os colegas, quer dos hospitais centrais, quer dos hospitais mais periféricos", afirma Helena Silva.

É possível conhecer um pouco melhor o que foi abordado no webinar através do podcast "Conversa sobre a mycobacterium tuberculosis" ou na newsletter da Cepheid sobre "Diagnóstico de Mycobacterium tuberculosis no Centro Hospitalar do Médio Ave".


Elementos do Serviço de Patologia Clínica do CHMA

Incidência da tuberculose

Helena Silva reconhece que "é difícil sensibilizar colegas e autoridades. Como, felizmente, não temos um surto de tuberculose, é mais complicado implementar esse diagnóstico atempado", acrescentando:

"Os problemas de saúde mais mediatizados e que têm mais impacto têm soluções mais rápidas. Necessariamente, o decisor considera fazer todo o sentido que haja um maior investimento para que seja implementada uma técnica que vem diagnosticar mais atempadamente."

E, na opinião da diretora do Serviço de Patologia Clínica do CHMA, esse é precisamente um dos grandes desafios face à tuberculose, até porque "não deixa de ser preocupante o número de casos, que tem sido em crescendo. Houve mesmo um aumento de 4,5% a nível mundial, comparativamente a 2020/2021".

E como se explica este aumento mundial da tuberculose? "Durante os anos da pandemia estávamos todos muito orientados para o diagnóstico do SARS-CoV-2 e, portanto, trabalhámos muito nesse âmbito. Assim, havia um espaçamento muito grande entre os primeiros sintomas da doença e o seu diagnóstico. Tal proporcionou a contagiosidade da tuberculose."

Olhando para o futuro, Helena Silva considera que "está agora na altura de voltarmos a baixar os números, de estarmos mais atentos ao diagnóstico mais precoce e, sem dúvida, que o diagnóstico molecular é a principal ferramenta para que isso se possa fazer."

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda