«Tornar a aterosclerose uma doença rara implica atuar multifatorialmente»

Tornar rara uma doença que afeta tanta gente é um objetivo que não será nada fácil de concretizar! Anabela Raimundo, que vai presidir à Comissão Organizadora do XXXIII Congresso Português de Aterosclerose, está bem ciente disso quando reconhece que se trata, de facto, de uma “ambição ambiciosa”!

No entanto, sempre vai dizendo que, “porventura, até teremos à nossa disposição mais armas do que achamos ter para conseguir concretizar esse desejo”. E até considera realista pensar que é possível, fazendo uso das soluções terapêuticas que vão surgindo, “tornar realmente o processo aterosclerótico clássico menos frequente e com gravidade inferior”.


A especialista de Medicina Interna enumera os cinco principais fatores de risco cardiovascular que estão por detrás desta condição que afeta as artérias: hipertensão, diabetes, dislipidemia, tabagismo e obesidade.

Chama-lhes os Big Five da aterosclerose, embora haja outros responsáveis, como a poluição atmosférica, o aquecimento global, a doença psiquiátrica, algumas patologias obstétricas e ginecológicas ou a componente genética.


Anabela Raimundo

“Os grandes causadores de aterosclerose são razoavelmente comuns na nossa prática clínica diária e muita vezes associam-se no mesmo doente. A hipertensão, por ser tão comum, é provavelmente a que tem um maior peso; o tabagismo será com certeza mais problemático em sociedades onde ainda não há políticas antitabágicas; a diabetes e a obesidade, com o crescimento exponencial que estão a ter, vão ser um drama num futuro próximo...”, afirma a médica do HLL. 

No caso particular da dislipidemia, a preocupação de Anabela Raimundo aumenta sobremaneira, pois, “os dados que temos mostram que, nas
duas primeiras décadas deste século, os nossos doentes têm estado, globalmente, a ser muitíssimo mal tratados, sendo muito baixa a percentagem  daqueles que revelam ter o valor-alvo de colesterol aconselhável”.

A médica refere-se ao estudo LATINO, realizado entre 2001 e 2019, envolvendo mais de 78.000 doentes, entre os 40 e os 80 anos, acompanhados na ULS de Matosinhos. Os resultados, publicados em 2023, revelaram que uma grande percentagem dos que apresentavam risco cardiovascular elevado ou muito elevado não tinham o nível de colesterol LDL controlado.

“Quando abordamos o problema da aterosclerose devemos fazê-lo de uma forma global. Não basta tratar só a hipertensão, apenas a dislipidemia, ou somente a diabetes. Se queremos realmente tornar a aterosclerose uma doença rara temos que a enfrentar multifatorialmente. Sabemos bem que se cada um dos fatores por ela responsáveis for bastante bem controlado, o que significa, nomeadamente, reduzir a um valor muito baixo o nível lipídico, conseguiremos obter alguma regressão da placa aterosclerótica”, afirma Anabela Raimundo.

Na sua opinião, a estratégia mais acertada é, sem dúvida, a da prevenção. Nessa medida, “seria suposto proceder à avaliação do risco cardiovascular de todos os indivíduos com mais de 40 anos e, em função do resultado individual – e se for caso disso –, decidir, por exemplo, se deve fazer uma estatina ou um anti-hipertensor”.

E mais: “Devemos insistir nas recomendações para a prática de um estilo de vida saudável, que implica não fumar, não ter peso a mais, praticar regularmente atividade física e adotar uma alimentação adequada, promovendo uma medicina preventiva, sempre mais vantajosa do que a medicina curativa.”



33.º Congresso da SPA

Anabela Raimundo já era sócia da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose quando Francisco Araújo a convidou para fazer parte da atual Direção, de que aquele internista é neste momento o presidente.

O mais recente desafio que lhe apresentaram foi o de presidir ao XXXIII Congresso Português de Aterosclerose, que vai decorrer na Figueira da Foz, nos próximos dias 31 de outubro e 1 de novembro.

Profissionais ligados à investigação e médicos de várias especialidades – com evidente destaque para internistas, cardiologistas, médicos de família e endocrinologistas – preenchem um Programa que, como não poderia deixar de ser, é muito abrangente. Afinal, trata-se de uma reunião dedicada à aterosclerose, uma condição que, afetando as artérias – nomeadamente as que irrigam o coração, o cérebro, os rins e os membros inferiores –, pode atingir qualquer órgão.

Os fatores de risco cardiovascular do século XXI, onde se incluem as mudanças climáticas, a medicina de precisão na prevenção desse risco e o impacto das complicações obstétricas no mesmo são apenas três dos temas que vão estar em debate.


De destacar ainda as mesas conjuntas da SPA com a Sociedade Portuguesa de Cardiologia e a Sociedade Portuguesa de Hipertensão.

A notícia completa pode ser lida na edição de outubro do Jornal Médico.

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