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Tratamento da dor em Portugal: existe evolução, mas «é demasiado lenta»

Em entrevista à Just News, a diretora da Unidade Dor do Hospital Garcia de Orta, Beatriz Craveiro Lopes, explica qual o ponto da situação do tratamento da dor em Portugal e conta o que a motivou a seguir esta área. No seu entender, o tratamento da dor tem vindo a evoluir, no entanto, de forma mais lenta que o desejável. Ainda assim, não deixa de salientar haver uma maior qualidade na referenciação e tratamento dos doentes por parte das várias especialidades médicas.

Na sua opinião, "verifica-se maior sensibilidade e preocupação no tratamento da dor, por parte das várias especialidades médicas e cirúrgicas hospitalares, assim como dos médicos de Medicina Geral e Familiar. Contudo, a qualidade do tratamento da dor nos doentes está ainda aquém do expectável."

Referenciação "de melhor qualidade"


Beatriz Craveiro Lopes esclarece que são referenciados às unidades de dor cerca de 1% dos doentes com queixas álgicas, sendo "este número é idêntico ao de outros países onde se pratica a Medicina da Dor". Considera que tal se deve "às campanhas que têm sido feitas junto das várias especialidades e, certamente, para isso terá também contribuído o elevado número de médicos internos e especialistas que fazem estágios de especialização e pós-graduação nas unidades de dor. Acredito que haja, de facto, uma relação de causa-efeito."

 


Pessoas "muito pouco compreendidas pela sociedade"


"Enquanto há muita sensibilidade para o tratamento da dor oncológica, o mesmo não é verdadeiro para a não oncológica, quer da comunidade em geral, quer da médica e de outros profissionais de saúde", afirma a responsável.

A especialista esclarece que "são pessoas muito sofridas e muito pouco compreendidas pela sociedade, tanto em casa como no trabalho, onde alguns nem sequer acreditam na sua dor. Muitos desses doentes refugiam-se na equipa que lhes trata a dor. Tenta-se compensá-los e mostrar-lhes que os profissionais estão conscientes da problemática da sua dor, que passa por acreditar e estar empenhado em tratá-los eficazmente."


"Nada se esconde"

Entre outros temas abordados na entrevista, publicada no jornal das 23as Jornadas da Unidade de Dor do Hospital Garcia de Orta, evento que decorre dia 29 de janeiro, Beatriz Craveiro Lopes explica o motivo que a levou a seguir Medicina da Dor:

"Eu sou anestesiologista, a minha primeira missão é tratar a dor. Foi uma opção profissional, mas muito motivada por uma experiência familiar próxima. Percebi como o facto de os profissionais de saúde não estarem sensibilizados para a dor e não a tratarem de forma correta condiciona a qualidade de vida dos doentes e dos seus familiares. É uma maldade não tratar um doente que sabemos que tem dor!"

Considera que a sua vivência pessoal "foi decisiva para abraçar esta área" e que, se voltasse atrás, "repetiria tudo, quantas vezes fossem necessárias. Tornou-se algo extremamente motivador. Se há coisa que o médico mais aprecia é ter o retorno por parte dos doentes e saber que estão muito melhores. É altamente gratificante."

Quanto aos casos de insucesso, também os há: "Infelizmente, não são só sucessos e, nesses casos, obviamente que não ficamos satisfeitos, mas dizemos frontalmente ao doente que não estamos a conseguir encontrar o rumo certo. Nada se esconde. Somos sinceros e frontais."






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