Unidade de Neuropsiquiatria da F. Champalimaud tem equipa diferenciada e multidisciplinar
“O embrião mais pequenino de onde surgiu esta Unidade, pelo menos do ponto de vista da nossa atividade científica, remete-nos muito provavelmente para o ano de 2013”, começa por explicar Albino Oliveira Maia. De certa forma, fica assim justificado o facto de se ter aproveitado um evento realizado em 2023 para comemorar os primeiros 10 anos do projeto.
O seu coordenador coloca as coisas de forma muito clara: “Se pensarmos na criação de um serviço estruturado, com múltiplos profissionais, dedicados em simultâneo à investigação e à clínica, eu diria que 2019 é
verdadeiramente o ano da mudança. Um marco importante na nossa atividade que resulta do desafio que nos foi lançado para ficarmos cá em dedicação plena, com o objetivo de fazer crescer a Unidade.”
Albino Oliveira Maia refere-se a si e a outro psiquiatra, Bernardo Barahona Corrêa, que começaram a orientar na Fundação Champalimaud projetos de investigação desenvolvidos por bolseiros de doutoramento e pós-doutoramento. Projetos esses que, contudo, estavam ligados a uma estrutura clínica “que funcionava apenas em alguns dias da semana, nas tardes em que nós estávamos alocados em consulta”.
Albino Oliveira Maia
O coordenador da Unidade de Neuropsiquiatria adianta: “A permanência cá a tempo inteiro deu-nos oportunidade de fazer crescer não só a nossa atividade de investigação mas também a clínica e a própria formação clínica. Ora, isso implicou, obviamente, a vinda de psicólogos, de enfermeiros e, mais recentemente, de um neurologista, o que nos permitiu construir uma equipa diferenciada, multidisciplinar e que trabalha em conjunto.”
O que se verifica relativamente à estimulação magnética transcraniana é, no seu entender, um bom exemplo do que acabou de afirmar: “A possibilidade de não só disponibilizarmos tratamentos com a utilização dessa técnica mas de também organizarmos formação de qualidade nesta área para médicos de diferentes serviços de Psiquiatria do país é algo que tem vindo a evoluir praticamente desde 2019.”
Por outro lado, “temos recebido igualmente internos que nos procuram com o objetivo de obterem informação complementar em investigação básica e clínica. É algo que fazemos com muito gosto porque isso não só nos tem permitido enriquecer o seu conhecimento como também nós próprios beneficiamos dessa interação com os vários serviços que querem colaborar connosco”.
Albino Oliveira Maia explica que a missão da Unidade de Neuropsiquiatria não se limita a prestar serviço às diferentes unidades oncológicas do Centro Clínico Champalimaud: “Como estrutura com propósitos clínicos próprios, recebemos muitos doentes que não têm qualquer problema do foro da Oncologia e que chegam da comunidade, essencialmente com doença neurológica e/ou psiquiátrica e a quem oferecemos um atendimento especializado.”
E exemplifica com a resposta que é dada, em termos de intervenção psicoterapêutica, no que à perturbação obsessivo-compulsiva diz respeito, em que a mesma está integrada numa estrutura que dispõe de psiquiatras e de neuromodulação, permitindo atender casos mais graves.
“No domínio da Neurologia, lidamos com as doenças do movimento empregando as estratégias de avaliação e de tratamento mais avançadas, com exceção da estimulação cerebral profunda, que não realizamos, embora façamos investigação nessa área, bem como no âmbito farmacológico, estudando moléculas novas, como é o caso das substâncias psicadélicas”, refere.
Consulta de Neuromodulação
Para além de se dar resposta aos doentes que chegam à Unidade pela via da Psiquiatria de Ligação ou porque contactam diretamente a instituição, Albino Oliveira Maia diz que se tem procurado estimular a referenciação por médicos externos à Fundação Champalimaud, “o que faz aumentar a qualidade dos cuidados que prestamos e valoriza a nossa ação”.
O responsável refere-se principalmente à procura que tem tido a denominada Consulta de Neuromodulação, por parte de psiquiatras, mas não só, “que nos contactam e pedem a nossa colaboração na organização desse modelo de tratamento, caso consideremos ser o ideal para o doente em causa”. E prossegue:
“O que neste momento nós estamos a oferecer é a estimulação magnética transcraniana, que consiste num equipamento que dispõe de uma bobina que, através da passagem de corrente elétrica com determinadas
propriedades, vai induzir um campo magnético que altera as propriedades de funcionamento da zona do cérebro que pretendemos atingir. As principais áreas a que nos temos dedicado têm sido a da depressão resistente ao tratamento e a da perturbação obsessivo-compulsiva, porque acabam por ser aquelas sobre as quais temos mais e melhor conhecimento.”
Referindo que o primeiro aparelho terá chegado à Fundação Champalimaud em 2018, originalmente para ser usado em projetos de investigação envolvendo estudos de neurofisiologia, “tornou-se rapidamente uma arma muito útil para doentes que tenham dificuldade em obter uma resposta para o seu problema de outra forma”.
Uma equipa onde todos estão “a tempo inteiro”
É manifesto o orgulho de Albino Oliveira Maia no grupo de profissionais que integram a Unidade de Neuropsiquiatria, estrutura que “tem tido um desenvolvimento gradual, mas dando passos pequenos, procurando crescer de forma orgânica e promovendo uma relação muito sólida entre nós”.
Recorda os tempos iniciais, partilhados com os seus colegas Bernardo Barahona Corrêa e Joaquim Alves da Silva, que acabou por se dedicar mais à atividade de investigação, sendo substituído pelo psiquiatra José Oliveira.
Lembra a chegada da enfermeira Patrícia Fernandes Pereira, a quem se juntou entretanto o seu colega João Estrela, também especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica e refere os nomes dos psicólogos Jaime Grácio e Sílvia Almeida e da mais recente aquisição nesta área, Carolina Seybert. E há que acrescentar as entradas mais recentes de um outro psiquiatra, Gonçalo Cotovio, e do neurologista Marcelo Mendonça.
“Praticamente todos têm algum tipo de responsabilidade, não só sob o ponto de vista clínico como também ao nível da investigação, e apenas três dos elementos não são ainda doutorados”, adianta Albino Oliveira Maia.
Mas só quando o coordenador da Unidade de Neuropsiquiatria mostra a fotografia de grupo feita no início deste último verão – e reproduzida nestas páginas – se percebe a dimensão que acaba por atingir a estrutura que está sob a sua responsabilidade, em que não podem ser deixados de fora, por exemplo, os estagiários de Psicologia, os vários estudantes de doutoramento e de mestrado, ou, por exemplo, a coordenadora de ensaios clínicos.
A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico de novembro 2025.

