USF Cruz de Celas: com o processo de Acreditação «não mudámos radicalmente, melhorámos»
Apesar dos vários constrangimentos em termos de recursos humanos e de espaço, os membros da equipa da Unidade de Saúde Familiar Cruz de Celas, em Coimbra, têm conseguido alcançar todos os objetivos a que se têm proposto, tendo sido Acreditados em Qualidade no início deste ano. Com um grande espírito de equipa e de união e sempre centralizados no utente, vão continuar focados na melhoria da sua qualidade, com o objetivo de prestar um melhor atendimento e serviço assistencial a quem os procura.
A USF Cruz de Celas, tema de reportagem na edição de setembro do Jornal Médico, foi inaugurada em 2007, exatamente no mesmo dia (5 de fevereiro) da sua “gémea” USF Briosa, também em Coimbra, cidade que até então não dispunha de qualquer unidade de saúde familiar.
O processo não foi fácil, mas a sua coordenadora, Fátima Branco, admite que valeu a pena, sublinhando que o seu êxito só foi possível devido ao espírito de equipa de todos os profissionais, à união e ao seu empenho e determinação, que lhes permitiu ultrapassar todos os obstáculos.
A unidade começou a ser pensada em 2005 e a sua candidatura foi apresentada em 2006. Em entrevista à Just News, Fátima Branco explica que se tratou de “um processo muito particular e, até, um pouco marginal”, obrigando os elementos, por exemplo, a trabalhar à noite, nas suas próprias casas ou nas instalações da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, que lhes disponibilizou uma sala.
Em 2009 passaram a modelo B e mantiveram-se a este ritmo até 2014, altura em que começaram a trabalhar na Acreditação em Qualidade, tendo obtido o nível Bom, em fevereiro de 2016. Entretanto, Miguel Mesquita, na altura coordenador da Unidade, reformou-se, sendo substituído nesse cargo por Fátima Branco.
Centralidade no doente
É sob o lema “Inovação, rigor e humanização, sempre na senda da excelência”, que a equipa acolhe os seus utentes. Fátima Branco refere que têm como valores a equidade, a responsabilidade, a satisfação, a qualidade e a assertividade. Porém, salienta que o item mais importante, e ainda não mencionado, é a centralidade no doente. “Trabalhamos em função do utente. Só existimos porque ele existe e precisa de nós.”

Definindo o processo de Acreditação como “extremamente gratificante, mas muito trabalhoso”, a coordenadora da unidade refere que, basicamente, o que esta lhes trouxe foi uma “normalização” de procedimentos e de acompanhamento. Contudo, personalizado no que deve ser. “Não mudámos radicalmente, melhorámos”, frisa.
O espaço físico é o grande problema da USF. A coordenadora afirma que seria “irrealista”, numa altura destas, estar a pedir novas instalações. No entanto, refere ser muito importante que, pelo menos, as atuais sejam aumentadas.
“O espaço é muito limitado, temos salas de espera muito pequenas e mal localizadas, precisamos de mais gabinetes de consulta e de melhorar as salas de tratamento”, indica, sublinhando que esta é a grande ambição da equipa.
Ter internos e alunos em formação "é uma lufada de ar fresco"
A formação pré e pós-graduada de Medicina e Enfermagem, tanto a nível nacional como internacional, tem grande importância na vida e na dinâmica desta USF.
“Para nós, é primordial ter internos e alunos em formação. É uma lufada de ar fresco. São muito disponíveis, gostam de participar e desenvolvem muita investigação. São uma mais-valia enorme, desde o primeiro ao último ano”, indica Fátima Branco. Atualmente, a unidade conta com 10 internos de MGF nos vários anos de formação.
No que respeita à Enfermagem, realizou-se o ano passado, pela primeira vez, uma pós-graduação sobre feridas e úlceras, em parceria com a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. “Trabalha connosco a enfermeira Lourdes Hidalgo, que fez um mestrado nesta área, e recebemos profissionais que vieram de fora.”
A coordenadora garante que se vai continuar a trabalhar no processo de Acreditação em Qualidade, "com o objetivo de alcançar o nível Excelente". Além disso, pretende-se desenvolver mais a área da investigação e, como já foi referiu, aumentar as instalações.
Modelo de equipa de família: uma grande mais-valia

À semelhança das anteriores reportagens publicadas pelo Jornal Médico sobre as USF, são também entrevistados outros profissionais da unidade. Em declarações à Just News, Paula Rodrigues, enfermeira interlocutora, afirma o modelo de equipa de família é uma grande mais-valia para utentes e profissionais e é o que distingue as USF dos tradicionais centros de saúde.
“O objetivo é estabelecer uma relação com o utente, para que haja um maior envolvimento em termos de cuidados de saúde e em que o enfermeiro e o médico façam parte integrante das decisões, em termos das opções de saúde do indivíduo”, refere.
Aceitar sugestões "que nos ajudaram a crescer"
Já Elsa Costa, assistente técnica, afirma ter “muito orgulho” em trabalhar na USF Cruz de Celas e ter estado envolvida na sua criação e desenvolvimento. “Os utentes falam muito bem da nossa USF e nós também notamos que estão satisfeitos, o que nos dá um grande alento”, indica, acrescentando que o feedback positivo faz com que trabalhem mais e melhor.
“Quando estamos satisfeitos, o trabalho rende de uma forma totalmente diferente do que se estivermos num sítio onde não gostamos do que fazemos”, menciona. 
A assistente técnica observa ainda que, apesar de trabalhoso, o processo de Acreditação deu à equipa “alguma ajuda” em termos de organização. “Aceitámos sugestões vindas de fora, que nos ajudaram a crescer, tal como os inquéritos feitos aos utentes, que também nos deram muita confiança.”
Programa “Cuidar do Cuidador”
Devido ao aumento da esperança média de vida da população e, consequentemente, ao crescimento do número de pessoas dependentes, existem cada vez mais “cuidadores informais”. O programa “Cuidar do Cuidador”, criado e realizado por uma enfermeira da USF Cruz de Celas, Lourdes Hidalgo, tem como objetivo minimizar os efeitos deletérios da prestação continuada de cuidados, tanto na saúde física como psicológica do cuidador.
Lourdes Hidalgo conta que a ideia surgiu após ter identificado uma necessidade de aconselhamento e intervenções específicas nesta população.
“Existe evidência de que o stress do cuidador é um fator que contribui para um aumento do risco de adoecer, nomeadamente com depressão e doenças cardiovasculares”, afirma, acrescentando que os cuidadores desleixam, por vezes, a sua saúde.
Internos muito satisfeitos com o local de formação

Joana Rodrigues, Andreia Lobo e Ana Cleto.
Andreia Lobo e Joana Rodrigues são médicas internas do 1.º ano da especialidade, estão na USF Cruz de Celas desde janeiro de 2016 e afirmam que a experiência está a ser muito positiva. Ambas consideram que o facto de haver formação pré e pós-graduada de Medicina e de Enfermagem e de acolheram também alunos estrangeiros é benéfico para todos, uma vez que lhes permite uma grande troca de experiências.
Ana Cleto encontra-se no 3.º ano do internato e confessa que está a “adorar” ser médica de família. O próximo ano será o último do internato de Ana Cleto, que assume “não ser fácil sair”. “Somos muito bem tratados, há um grande espírito de equipa entre todos, vai ser muito complicado ir embora”, conclui.

A coordenadora da USF sublinha a importância do "espírito de equipa de todos os profissionais, o seu empenho e determinação" para ultrapassar os obstáculos do processo de Acreditação.

A reportagem completa sobre a USF Cruz de Celas, onde são desenvolvidos vários outros temas pelos profissionais, bem como partilhados os testemunhos de alguns utentes, pode ser lida na edição de setembro do Jornal Médico.


