Equipa da USF Prof. Guilherme Jordão homenageia o «mestre e amigo» Guilherme Jordão
No dia em que se assinalou o 3.º aniversário da USF Prof. Guilherme Jordão, 27 de setembro de 2024, a equipa decidiu homenagear postumamente o médico e professor que lhe dá o nome. “Culto” e “focado” foram algumas das características usadas para descrever o “mestre e amigo”, que teve um papel central na criação da especialidade de MGF.
Entre familiares, colegas e representantes institucionais, a cerimónia que honrou a memória e a vida de José Guilherme Jordão, através do descerramento de um memorial, contou com a presença de dois elementos do Conselho de Administração da ULS de Santa Maria, Carlos Martins, o seu presidente, e Eunice Carrapiço, a diretora clínica para a área dos CSP.
“Tenho estimulado que se honre a memória daqueles que serviram as instituições e dedicaram a sua vida em prol dos doentes, dos colegas e do país”, começou por referir Carlos Martins, lembrando que “a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa foi a sua casa, onde iniciou a sua carreira, se doutorou e fez grande parte do seu percurso de vida”.
Carlos Martins
Destacou “a sua forma peculiar de formar, partilhar, estimular e motivar equipas”, recordando ainda a máxima “Small is beautifull” que José Guilherme Jordão defendia, e que admite ser também partilhada por si: “Digo muitas vezes ‘Para grandes problemas, pequenas soluções’. Este pensamento também o definia enquanto pessoa. No meio da complexidade de ser médico, professor e investigador, tinha capacidade de olhar para dentro, para as pessoas, e de tentar motivá-las para grandes questões a partir de pequenas soluções.”
Francisco Carvalho, coordenador desta USF, foi quem abriu e encerrou esta cerimónia, e logo começou por destacar o “orgulho imenso por a equipa poder dizer ‘amanhã vou para a USF Prof. Guilherme Jordão’”, definindo-o como “um grande cidadão, homem, colega e amigo para todos, nomeadamente para a comunidade médica”.
“Estava por fazer a mais importante (r)evolução na medicina portuguesa do século XXI”
A cerimónia contou ainda com os testemunhos de dois médicos que tiveram a honra de privar bem de perto com José Guilherme Jordão. Armando Brito de Sá, médico de família na USF Conde Saúde, foi um dos seus discípulos, e começou por recordar o fatídico dia 23 de agosto de 2003 como “a marca de um antes e um depois”.
Caracterizando-o como “um homem culto e um observador atentíssimo a tudo o que o rodeava”, distingue que tal lhe permitia “estabelecer conexões por vezes surpreendentes e inesperadas”. O colega distinguiu ainda “o extremo foco que colocava naquilo que fazia e a sua capacidade de estudo permanente”.
Armando Brito de Sá
Sublinhou ainda “a visão clara que tinha do trajeto tanto para a nossa especialidade, como para a medicina no seu conjunto, de forma a servir melhor as pessoas”, ressalvando tratar-se de “uma visão flexível, que lhe permitia mudar de opinião e propor novos caminhos com base na informação disponível. Nesse sentido, Jordão não era um homem do seu tempo; era um homem, invariavelmente, um passo à frente do seu tempo”.
Armando Brito de Sá recordou ainda “o mestre que era, com um gosto genuíno por ensinar, o que se estendia à interação diária”, e ainda “o amigo que era, sempre atento, sem ser intrusivo, que cuidava da sua equipa”.
Também Mário Bernardo, cirurgião geral, que foi amigo e companheiro de vida académica e profissional de José Guilherme Jordão, usou da palavra para enaltecer como aquele “entendeu que estava por fazer a mais importante (r)evolução da medicina portuguesa do século XX – a criação da especialidade de MGF, com reconhecimento pela Ordem dos Médicos e espaço por direito próprio a um lugar no ensino universitário, acompanhada pela criação das adequadas estruturas dos CSP”.
“Todos sabem que o Zé Guilherme foi um dos atores mais importantes desse processo”, frisou, acrescentado que “o país e os seus cidadãos estão ou deviam estar-lhe muito devedores”. Terminou testemunhando como era “um homem bom, inteligente e culto, características que estiveram na base do excelente trajeto que foi a sua vida”.
Rita Molinar (médica de família da unidade), Carlos Martins, Eunice Carrapiço e Francisco Carvalho
Especialista desde 1983
José Guilherme Jordão participou na organização do 1.º Internato Complementar de Clínica Geral, tendo sido eleito representante do Grupo de Internos de Clínica Geral da Zona Sul. Foi assessor do secretário de Estado da Saúde entre 1981 e 1983. Contribuiu para a elaboração do primeiro regulamento dos Centros de Saúde. Colaborou estreitamente com a APCG, mais tarde designada APMGF. Especialista em Clínica Geral desde 1983, desenvolveu uma forte atividade clínica e de ensino pré e pós-graduado.
Entre várias funções, foi coordenador de Internato de Clínica Geral da Zona Sul, diretor do Instituto de Clínica Geral da Zona Sul e membro da Comissão Internacional de Revisão do Ensino Médico. Em 1993, doutorou-se em medicina e, três anos depois, ingressou no Departamento de Educação Médica da FMUL, sendo professor auxiliar convidado e regente de Clínica Geral e Medicina Comunitária.
Foi mestre e diplomado em Educação Médica, e membro da direção da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Educação Médica. Foi presidente da Associação de Docentes e Orientadores de Clínica Geral. Faleceu aos 52 anos de idade.