USF Santiago: 18 anos a evoluir para não estagnar
“Por mérito do antigo coordenador e de toda a equipa, temos conseguido manter não só um bom trabalho como também um verdadeiro espírito de equipa, de inovação e de melhoria da qualidade”, distingue Nadina Duarte Sousa. Médica da USF Santiago há 17 anos, assumiu a sua coordenação em dezembro de 2024, na sequência da saída do antigo e, até então, único coordenador, Manuel José Carvalho, que foi assumir a presidência da ULS da Região de Leiria.
As inúmeras iniciativas organizadas fora do horário laboral contribuem substancialmente para alimentar a união entre todos os profissionais desta Unidade, localizada em Marrazes, às portas da cidade de Leiria.
A USF Santiago foi a primeira a erguer-se sob este modelo na região de Leiria e uma das primeiras em Portugal. “Esta era uma zona muito rural, repleta de quintas, e que, a partir de 2000, cresceu bastante com a construção de vários empreendimentos, tornando necessário reforçar a oferta de médicos de família”, explica Nadina Duarte Sousa.
Na altura, o edifício onde está sediada foi construído propositadamente com a finalidade de a albergar. Pouco tempo depois, haveriam de para ali transitar as sedes do Centro de Saúde Dr. Arnaldo Sampaio e da Unidade de Saúde Pública Região de Leiria, a UCC Arnaldo Sampaio de Leiria, a URAP Pinhal Litoral - Polo Dr. Arnaldo Sampaio e ainda uma delegação do Gabinete do Cidadão.
Mais recentemente, a USF Martingil integrou o edifício, que se situa na localidade de Marrazes, a 2 km do centro de Leiria. Após alguma cisão da equipa inicial, verificaram-se certas reformulações, entre as quais resultou a entrada da atual coordenadora, em maio de 2008, ainda enquanto interna, acompanhando a sua orientadora de internato. 
Nadina Duarte Sousa
Após um período de maior mudança em todos os grupos profissionais, nos últimos anos, a equipa tem-se mantido estável, havendo apenas alterações na sequência da ocupação de cargos noutros locais, como sucedeu recentemente com Manuel José Carvalho e, há mais tempo, com a médica Denise Cunha Velho, que foi presidir ao Conselho Clínico e de Saúde do ACES Pinhal Litoral e assumiu depois a função de diretora clínica para a área dos CSP na ULSRL.
Rapidamente esses lugares têm sido preenchidos, “apesar da grande falta de médicos de família em Leiria”, justificação que atribui ao “espírito de equipa que se foi construindo e mantendo ao longo dos anos”.
Para tal têm contribuído as iniciativas que vão sendo organizadas, fora do horário laboral, por vezes envolvendo as próprias famílias, para “estimular o espírito de grupo”. No fim-de-semana que antecedeu a reportagem da Just News, realizada no início de abril, parte da equipa juntou-se para fazer um programa de spa e almoço, em Alcobaça, e na semana seguinte estava previsto efetuar-se uma caminhada em Alvados, Porto de Mós, seguida de almoço.
Uma vez por ano, os profissionais desta USF fazem questão de realizar um passeio durante um fim-de-semana, que apelidam de “ida às lulas”, em alusão ao livro O nosso icebergue está a derreter, de John Kotter, uma fábula sobre ser-se bem-sucedido num mundo em constante mudança.
“Para que uma equipa funcione, é preciso que todos aprendam a trabalhar juntos”, salienta a médica. É a partir dessa filosofia que se organiza então uma deslocação à terra natal de algum dos profissionais, geralmente do interno mais velho, sendo os familiares também convidadas a participar. O passeio de 2024 aconteceu na Serra da Lousã, pelas aldeias de Xisto.
A coordenadora salvaguarda haver momentos de discussão, no entanto, “todos estão à vontade para dizer aquilo que pensam, expor as suas fragilidades, e disponíveis para corrigir e tentar melhorar”. É com essa visão que procura “auscultar os colegas, antecipar cenários e distribuir funções atendendo às potencialidades de cada um”.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o processo da acreditação, atribuída pela primeira vez em 2018 e entretanto já renovada. A nossa interlocutora recorda que esse trabalho foi iniciado após terem enfrentado a ausência de duas médicas, por licença de maternidade, durante praticamente dois anos. “É já uma equipa madura, que tem conseguido gerir e organizar o seu trabalho mesmo perante algumas ausências prolongadas de profissionais”, comenta.
A melhoria da segurança e da acessibilidade proporcionada pela Comissão de Utentes
Em 2024, foi criada a Comissão de Utentes da USF Santiago, a primeira devidamente organizada e registada, na cidade. Presidida pelo médico de família Hélder Roque, conta com uma direção constituída por elementos de vários ramos profissionais.
Com vários pilares de ação, alguns deles prendem-se com a humanização dos cuidados e a melhoria da acessibilidade e segurança. Foi graças a esta equipa que a Câmara Municipal de Leiria passou a disponibilizar, desde novembro de 2024, um vigilante a tempo completo na entrada do edifício, para acolher e orientar os utentes, e garantir a segurança. A par, esta Comissão tem encetado esforços no sentido de melhorar a sinalização da entrada e deslocalizar os lugares de estacionamento reservados a pessoas com mobilidade reduzida, para facilitar o seu acesso à Unidade.
Nadina Duarte Sousa reconhece que a Comissão de Utentes “dá voz aos utentes e tem tentado melhorar o seu acesso à Unidade”. Outra das ações que implementaram e que tem “funcionado muito bem” é a realização mensal de sessões de literacia em saúde, de acesso aberto e gratuito.
Até ao momento, já exploraram temas relacionados com Nutrição, Cardiologia e Oncologia, procurando falar sobre “como prevenir e como viver com doença”.

“Em 17 anos, a USF Santiago formou 22 médicos de família, alguns dos quais são atuais coordenadores de unidades”
Manuel José Carvalho foi, até assumir a função de presidente do CA da ULS da Região de Leiria, em janeiro de 2025, o primeiro e único coordenador da USF Santiago. Embora, com 68 anos, já pudesse estar aposentado, o médico de família decidiu embarcar neste novo desafio, não deixando de guardar com grande carinho os 18 anos durante os quais coordenou esta USF.
“Sempre tivemos grande competência técnica, aliada a um bom ambiente de trabalho, que era resultado de um trabalho diário! E esta foi a primeira Unidade a ser acreditada e reacreditada no distrito, mérito também da Dr.ª Nadina Duarte Sousa, que foi a grande responsável pelo processo. Era o meu braço direito e foi a minha sucessora, numa transição perfeitamente pacífica”, refere.
Ter assistido a essa evolução da colega, que viu formar-se na USF, é um dos acontecimentos que mais o orgulham. “A componente formativa é uma das nossas mais-valias, que sempre valorizei. Em 17 anos, a USF Santiago formou 22 médicos de família, sendo a Unidade com mais especialistas formados na região. Aliás, dos atuais sete médicos, quatro foram aqui internos”, adianta.
Manuel José Carvalho
O antigo coordenador nota que a equipa procura “ser exigente com os internos que acolhe, tentando que estes tragam também algum aporte”, e sempre partilhou essa visão com os mais jovens: “Dizia-lhes sempre: ‘Quero que a USF tenha um crescimento exponencial e não aritmético, por isso, peçam-me o máximo em termos de condições de trabalho, mas deem-nos também alguma coisa.”
A existência de um espaço de trabalho destinado aos internos é exemplo da exigência que Manuel José Carvalho tinha, no sentido de “criar condições para os colegas fazerem uma boa formação”.
Esta contemplava sempre uma componente de gestão. “A todos os internos eu ofereci a leitura do livro O nosso icebergue está a derreter e todos passavam um mês a acompanhar-me no trabalho de gestão, bem como à Dr.ª Denise Cunha Velho, quando presidiu ao Conselho Clínico e de Saúde do antigo ACES Pinhal Litoral. Sempre me preocupei em dar-lhes mais competências além da assistencial, e o resultado desse trabalho é o facto de sete dos 22 internos que formámos serem atuais coordenadores ou membros dos conselhos técnicos de novas USF”, conta..jpg)
A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico de maio 2025.

