USF Villa Longa: equipa avançou há 20 anos com «um espírito muito forte de mudar as coisas»

Foram 15 as equipas que participaram no denominado Projeto Alfa – o embrião das unidades de saúde familiar (USF). Uma delas foi uma das extensões do Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria, que é, atualmente, a USF Villa Longa, situada em Vialonga, no concelho de Vila Franca de Xira, e que é tema de reportagem na mais recente edição do Jornal Médico.

A USF Villa Longa existe desde dezembro de 2007, mas o modelo organizacional já tinha mudado em 1997, quando a equipa decidiu participar no Projeto Alfa. Desde então, muito trabalho tem sido feito "com paixão e entusiasmo", mas faltam melhores instalações e mais recursos humanos, explica João Ferreira, atual coordenador da USF Villa Longa e que há 20 anos integrava a equipa.

“Não sabíamos como ia ser o futuro, se a nova organização dos cuidados de saúde primários prevista no Projeto Alfa ia ser aceite após as experiências - piloto, mas não faltou força de vontade para mostrar que os CSP tinham de mudar”, afirma João Ferreira, manifestamente satisfeito por o projeto ter vingado.




“Não se podia continuar a ter o antigo modelo de cuidados primários, onde as pessoas apareciam de madrugada para conseguir ter uma consulta, quando as próprias condições de trabalho impediam prestar melhores cuidados de saúde.”

Mesmo contra as vozes mais céticas e revoltadas de alguns colegas, João Ferreira lembra-se que a equipa avançou com “muito força de vontade e com um espírito muito forte de mudar as coisas, mesmo que tivéssemos que dar mais horas do nosso trabalho, que não eram pagas”.


Projeto Alfa: "Um tiro no escuro"


Na altura, quando foram convidados para fazer parte dos 15 projetos-piloto, o centro de saúde localizava-se num prédio de habitação que fora adaptado e que nem sequer tinha elevador. “Foram necessárias algumas adaptações nas instalações em termos de equipamento, mas também de gabinetes”, recorda José Mendonça, que era então o responsável pela unidade.

As resistências não se fizeram esperar. “Era um tiro no escuro e éramos vistos como os que gostam de experimentar coisas novas.” Mais do que uma questão de resistência às mudanças, o problema estava, segundo José Mendonça, no “receio de alguns médicos perderem o seu status quo e o seu estatuto profissional ao deixarem de trabalhar de forma isolada, como era habitual”.


Manuela Victor, João Ferreira e José Mendonça.

Uma das médicas convidadas para integrar o início do projeto foi Manuela Victor, que viria a ser coordenadora da USF quando esta foi constituída. Desse tempo, lembra-se, sobretudo, “da paixão e do entusiasmo de todos os profissionais, apesar de termos de trabalhar mais horas”, refere.

Ao fim destes anos, sente um “enorme orgulho” por ter feito parte de uma das equipas iniciais das atuais USF. “Lembro-me que não nos importávamos muito se iríamos ter o apoio da tutela mais tarde, apenas queríamos mostrar que valia a pena mudar a maneira de prestar cuidados.” E continua: “Ganharam os profissionais de saúde, mas sobretudo os utentes.”




Enfermeira de família: "uma intervenção mais direta e completa"


Está há cinco anos na USF Villa Longa, tendo vindo diretamente do Hospital Reynaldo dos Santos, atual Hospital de Vila Franca de Xira. “Nunca tinha conhecido o modelo USF, a única experiência nos CSP remontava aos tempos de estágio, quando só ainda havia o antigo modelo de centro de saúde”, esclarece a enfermeira Rosa Terrinha.




“Não foi um choque porque colegas meus já me tinham dado uma ideia do trabalho que se realizava na USF.” Independentemente da falta de experiência em ambiente USF, gostou do que viu.

“Percebi que se trabalhava de uma forma muito diferente do que acontecia nos antigos centros de saúde, as pessoas tinham acesso a melhores cuidados e a organização era muito melhor.”

Ser enfermeira de família é algo que a satisfaz profissional e pessoalmente. “Consegue-se ter uma intervenção mais direta e completa, porque conhecemos melhor a pessoa que está à nossa frente e a sua história clínica, além de sabermos quem é a sua família.” Também “é muito agradável quando verificamos que os utentes já vêm ter com o seu enfermeiro de família, que nos identificam como ao seu médico”.



“Todas as pessoas têm médico de família, o atendimento é menos complicado”

É um dos mais recentes membros da equipa, estando na USF Villa Longa apenas desde maio de 2009. “Trabalhava numa extensão do Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria, a do Forte da Casa, e só conhecia o modelo antigo”, explica Cristina Roque, secretária clínica.

Quando chegou percebeu que as coisas numa USF eram diferentes. “O trabalho é muito organizado e funcionamos realmente numa equipa multidisciplinar.  É fácil falar com o médico e com a enfermeira.”



Para os utentes, a vida também foi facilitada. “Todos têm um médico de família, logo o atendimento é diferente, não se veem filas longas, de madrugada, à porta da USF, para marcar consulta…”

Quanto às novas instalações, acredita que, mesmo que não sejam as ideais, a equipa vai conseguir adaptar-se.




Equipa empenhada em “trabalhar na capacitação do doente”


Foi sob o lema “Comunicar a Saúde” que a USF Villa Longa organizou, em outubro, o seu grande evento anual: as Jornadas da unidade.

Relativamente ao tema escolhido para esta 4.ª edição, Joana Ramalho, presidente da Comissão Organizadora, salienta que “a comunicação e a educação para a saúde dos utentes foi sempre um dos principais objetivos da nossa USF”.



Para a médica de família, “o nosso projeto só faz sentido se trabalharmos na capacitação do doente, melhorando a sua adesão a comportamentos saudáveis e responsáveis”.

Contudo, uma vez que a unidade serve “uma população carenciada, com baixo nível de escolaridade e literacia, onde alguns utentes têm dificuldades até na expressão da língua portuguesa, a mensagem que passa nem sempre é compreendida e assimilada na globalidade”.

Desta forma, "a utilização de imagens simples, dispersas pelas salas de espera, para passar mensagens importantes, a aposta no site da USF têm sido algumas estratégias para melhorar a comunicação com os utentes", refere Joana Ramalho, sublinhando: "Ter o conhecimento das nossas fragilidades como comunicadores é sempre o primeiro passo, motivando à melhoria".

 
"Aprender com as boas práticas"


Dirigidas a profissionais de saúde, "quer dos cuidados de saúde primários quer hospitalares", as Jornadas da USF Villa Longa caracterizam-se pela abrangência do público-alvo, salienta Joana Ramalho.  

A especialista de MGF afirma que os temas das mesas, das comunicações livres e dos workshops "pretendem despertar o interesse a médicos (incluindo alunos de medicina e internos de qualquer especialidade), enfermeiros e alunos de enfermagem, secretários clínicos e todos os restantes profissionais ligados à saúde". 

E acrescenta: "Queremos aprender com as boas práticas e, nesse sentido, a diversidade será sempre enriquecedora".

USF Villa Longa: Uma equipa dinâmica, a comemorar 20 anos de um novo modelo organizacional e, a par dos cuidados prestados, preocupada em “trabalhar na capacitação do doente”.




A reportagem completa sobre a USF Villa Longa pode ser lida na edição de janeiro do Jornal Médico.

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