USF-AN reclama «urgência» em parar emigração de médicos e enfermeiros
É necessário parar a “sangria” de recursos humanos “do mais alto valor para Portugal”, sendo por isso “urgente pôr termo à emigração de médicos e enfermeiros”. O alerta partiu da USF-AN (Unidade de Saúde Familiar – Associação Nacional), que apresentou, nas instalações da Ordem dos Médicos, no Porto, aquilo que designa por “7 ameaças e 7 medidas" para os cuidados de saúde primários (CSP) e que deverão acontecer no início da nova legislatura política.
“Como só no ano passado emigraram 387 clínicos -- mão-de-obra qualificada que custou dinheiro ao país --, esperamos que no novo ciclo que se aproxima, seja qual for em termos governativos, não se diga só que se vai contratar, mas que se criem condições para fixar todos os médicos e enfermeiros de família que se formam em Portugal”, advertiu João Rodrigues, membro do Conselho Consultivo da USF-AN, em conferência de imprensa em que participou o presidente da Associação, Bernardo Vilas Boas.
Lembrando que a emigração de enfermagem é muito diferente da médica (apesar de tudo, só o ano passado, “10 enfermeiros por dia pediram autorização à Ordem para exercer a sua atividade no estrangeiro”), João Rodrigues lembra que, no caso dos médicos, estamos a falar da “emigração de especialistas”, algo que “é muito mais pesado para o erário público”.
Aliás, como frisou o também coordenador da USF da Lousã, no caso dos médicos “estamos a falar de seis anos de licenciatura, mais um ano, e mais quatro”, ou seja, “só se resolve o problema do especialista que emigrou ao fim de 11 anos…”. No entanto, o que mais preocupa a USF-AN é “não terem sido tomadas medidas para que os concursos ocorressem na devida altura, nem criadas condições para que os jovens especialistas não emigrassem, embora a “bandeira deste Governo fosse dar um médico de família a cada português”.
A associação USF-AN, por intermédio de Bernardo Vilas Boas, salienta ainda a ausência de uma verdadeira política de recursos humanos, a ausência de reconhecimento do enfermeiro de família como especialista em saúde familiar, a falta de uma carreira para os secretários clínicos, cuja profissão “não é reconhecida e valorizada”, e ainda a “quase nula aposta nas outras profissões de saúde”.
Quanto a recursos humanos, Vilas Boas alertou para o facto de haver profissionais que, estando nas USF, “não estão providos do seu contrato no quadro e não têm mobilidades consolidadas”. A restrição ao número das USF foi outra das “graves ameaças” evidenciada pelo dirigente associativo: “O despacho [que previa a abertura de 33 USF em 2015] apenas foi publicado em junho e fica muito aquém
das expectativas e necessidades.” Aliás, acrescentou, “se acontecer como o ano passado, só será cumprido em 50%”.
Quanto ao sistema de informação, é visto por esta associação como “o verdadeiro calcanhar de Aquiles” dos CSP. “No momento atual, segundo um estudo, 64% dos coordenadores da USF consideram inadequado o equipamento informático”, refere o médico de família, lembrando que está a decorrer o 3.º aniversário da Plataforma de Dados da Saúde [PDS], assinalado a 7 de julho, mas, segundo o estudo, “44% dos médicos estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a PDS”. Também a plataforma de prescrição médica “apresenta níveis de insatisfação de 55%”, indica Bernardo Vilas Boas.