VIH/SIDA nos cuidados de saúde primários: «apostar no diagnóstico precoce é importantíssimo»

São diversas as barreiras e dificuldades sentidas pelos profissionais de saúde dos cuidados de saúde primários na abordagem ao doente infetado por VIH. Em entrevista à Just News, publicada na última edição do Jornal Médico, António Carlos da Silva, coordenador da Unidade de Saúde Pública do ACES Amadora, afirma que “embora o VIH/SIDA seja considerado uma doença crónica, ainda se mantêm muitos estigmas do passado”.

De acordo com o médico, há barreiras associadas aos serviços – administrativas, culturais, crenças, tabus e mitos –, quer dos profissionais, quer dos doentes.

Há também obstáculos relacionados com fatores económicos, pois, “muitos dos doentes não podem faltar ao trabalho para ir às consultas, conforme protocolos definidos nos serviços de Infeciologia”.

Para António Carlos da Silva, uma das maiores dificuldades prende-se com a compatibilidade entre as agendas dos CSP e os cuidados hospitalares, tendo em conta as contratualizações existentes.

Adicionalmente, há obstáculos na adesão à terapêutica, porque os doentes muitas vezes têm outras patologias associadas. Segundo refere, “as mudanças frequentes de especialistas e de locais de consultas são fatores condicionantes à adesão à terapêutica e ao insucesso terapêutico”.

O clínico acrescenta que os doentes que não têm a sua situação regularizada no país também têm dificuldades no acesso ao Sistema Nacional de Saúde, o que muitas vezes é responsável por um diagnóstico tardio. Aponta ainda a existência de entraves na implementação de testes rápidos nos CSP, tendo em conta o tempo que é destinado às consultas (contratualização).

Além disso, muitas vezes estes doentes recorrem aos CSP em situações de urgência, não sabem informar da medicação em curso, o clínico não domina estes medicamentos, o que pode conduzir a riscos de interações terapêuticas.

Ligação entre os CSP e os cuidados hospitalares funciona com “deficiências” e “dificuldades”


Na ótica de António Carlos da Silva, também a ligação entre os CSP e os cuidados hospitalares no âmbito do VIH/SIDA funciona com “algumas deficiências e dificuldades”.



“Da minha experiência, o sistema de referenciação via ALERT funciona num só sentido, os sistemas informáticos utilizados têm incompatibilidades que não permitem ter acesso aos dados que os especialistas inserem na Plataforma de Dados da Saúde (PDS)”, menciona. E acrescenta:

“A existência de uma boa ligação tem muitas vantagens, nomeadamente na comunicação, no tempo de espera e na troca de experiências, entre outras.”

De acordo com o médico, “a grande aposta dos serviços de saúde, principalmente nos CSP, passa por um grande investimento na educação e na promoção para a saúde, na prevenção e no diagnóstico precoce. Não esquecendo que a sexualidade não acaba aos 65 anos e que, devido aos avanços terapêuticos, cada vez mais temos diagnósticos tardios”.

O nosso entrevistado considera que, atualmente, os desafios na área do VIH/SIDA são muitos, porque “o VIH/SIDA é uma doença do comportamento, as grandes campanhas não tiveram os resultados esperados e há que adaptar as estratégias aos conhecimentos e às realidades dos serviços de saúde, da situação socioeconómica e financeira da população em geral e de alguns grupos alvos”.

Na sua opinião, “é preciso apostar novamente na educação para a saúde, principalmente no âmbito da Saúde Escolar e noutros programas ligados aos jovens e em grupos específicos”.

“Apostar no diagnóstico precoce é importantíssimo, mas os serviços têm de estar preparados para dar respostas de uma forma rápida e integrada. Não esquecendo que existem recursos comunitários que trabalham nesta área que devem ser integradas na resposta que se pretende ser holística ao VIH/SIDA”, conclui.




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