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«Areias movediças: Sem enfermeiros não existe segurança no Sistema de Saúde»


Pedro Melo



Uma casa sem alicerces não consegue aguentar-se firme, nem resistir às intempéries. Como tal, ninguém ousaria viver numa casa sabendo que não há investimento nos seus alicerces.

Na casa que é o Sistema Nacional de Saúde (sejam o Serviço Nacional de Saúde, sejam as instituições privadas e de âmbito social), os enfermeiros representam os seus alicerces. Sem Enfermeiros nada funciona, nem existe segurança no Sistema de Saúde.

Se perguntássemos a qualquer cidadão ou cidadã se iria a um serviço onde a taxa de mortalidade é elevada, certamente a resposta seria que não. Mas vários estudos revelam que por cada enfermeiro a menos num serviço, a mortalidade dos doentes aumenta exponencialmente.

Significa, por isso, que, sabendo que Portugal se encontra abaixo dos ratios da OCDE em dotações de enfermeiros, existe o risco de aumentar a mortalidade, comparativamente com outros países.

O desinvestimento nas dotações de enfermeiros e, realço aqui, dos enfermeiros especialistas nos contextos onde devem estar, tem um impacto enorme na diminuição da qualidade e segurança dos cuidados prestados aos cidadãos e cidadãs.

A inexistência de uma carreira atraente, remunerações baixas face à formação e responsabilidades e condições de trabalho dificultadoras, têm motivado a emigração de enfermeiros altamente qualificados para outros países.

Imaginem um reservatório com pouca água, única fonte de hidratação de um país, que o governo decide furar, escoando rapidamente a água para outros reservatórios de outros países, que já se encontravam com níveis de água satisfatórios. É este o cenário em relação à Enfermagem em Portugal.

Em breve, se nada se fizer em contrário, os alicerces do Sistema de Saúde Português ficam com uma tal fragilidade que acabará este por ruir. Principalmente o Serviço Nacional de Saúde, onde os Enfermeiros e Enfermeiras portugueses têm desde a sua criação, potenciado o sucesso de sucessivas reformas, sem qualquer retorno de gratificação face às mesmas.


Pedro Melo

É, pois, altura dos portugueses e portuguesas decidirem se querem viver numa casa sem alicerces, viver num SNS sem Enfermeiros, ou com profissionais tão desmotivados e sobrecarregados, que se afundam em processos de stress profissional e Burnout que aumentam ainda mais o risco para os clientes.

Aproxima-se uma fase de burden da tolerância e em breve atinge-se um ponto de difícil retorno, quanto à segurança dos cuidados de Enfermagem em Portugal. É verdade que os Enfermeiros são o maior grupo profissional da saúde, é verdade que o investimento nestes tem um impacto maior do que noutros profissionais do setor.

Mas também é verdade que investimento não é sinónimo de despesa. Investir nos Enfermeiros e Enfermeiras em Portugal é prevenir mortes, melhorar a qualidade de vida das pessoas, responder de forma acertada aos desafios futuros da demografia envelhecida em Portugal e esse investimento potencia ganhos económicos (sejam eles financeiros, sociais e até mesmo culturais).

Investir na Enfermagem é investir em sementes de futuro e as sementes de futuro germinam em alicerces de segurança.

Sem os alicerces da Enfermagem, o SNS desmorona. Estamos a desenvolver um pântano de areias movediças, onde a base da economia de qualquer país se afunda: a saúde dos cidadãos e cidadãs. Quanto mais pobres mais doentes e quanto mais doentes mais pobre! Será que é esse o futuro que queremos?



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