Opinião

«Crónica de uma crise anunciada: a necessidade de reforçar o número de enfermeiros em Portugal»


Luís Filipe Barreira

Bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE)



Na semana passada, no International Health Forum, em Cascais, Josep Figueras, diretor do Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, mostrou-se surpreendido com o baixo número de enfermeiros em Portugal, especialmente quando o comparava com o elevado número de médicos.

Recorde-se que o nosso país tem 7,4 enfermeiros por mil habitantes, quando a média da OCDE é de 9,2. Quanto a médicos, Portugal tem 5,6 médicos por mil habitantes, acima da média da OCDE, que é de 3,7.

Josep Figueras não considerou racionais estes números, adiantando que, provavelmente, estaríamos perante um problema de partilha de competências.

A verdade é que há muito que a Ordem dos Enfermeiros vem alertando para uma falta crónica de enfermeiros. Há muitos serviços que não cumprem os números mínimos necessários para se prestarem cuidados de qualidade e em segurança.

No estudo “Os Profissionais do SNS: Retrato e Evolução”, elaborado pelo Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública, tornado público em março passado, conclui-se que, em 2022, e apenas no SNS, estavam em falta 13.791 enfermeiros, o que corresponde a 27% da força de trabalho. Possivelmente, em 2024, este número já terá aumentado.

Paradoxalmente, o anúncio do despedimento de enfermeiros, na sequência da cessação dos respetivos contratos de trabalho, que se está a verificar nas ULS de Tâmega e Sousa e de Coimbra, é um sintoma de que a gestão de recursos humanos do SNS tem de mudar.

Estes enfermeiros não são dispensáveis, são necessários. Aliás, mesmo contando com estes elementos, ainda se continuariam a verificar carências naqueles serviços.

Os responsáveis das ULS confessam que precisam dos enfermeiros, mas que não têm alternativa, uma vez que se verifica a cessação dos seus contratos.

No imediato, para além de definir estratégias para a contratação de mais profissionais, é preciso que a nova equipa do Ministério da Saúde encontre uma solução urgente para a regularização dos vínculos precários dos enfermeiros, para se poder manter a estabilidade e a continuidade nos serviços de Saúde.

E, mais do que isso, é necessário equiparar o modelo de recrutamento dos enfermeiros com o de outras profissões da Saúde, permitindo uma gestão mais autónoma das necessidades de recursos humanos nas ULS.

Assim, além de conseguimos otimizar a distribuição e a alocação de profissionais, garantindo uma melhor resposta às solicitações do sistema de Saúde, também estaremos a respeitar a dignidade do exercício da profissão de enfermeiro.

 

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