Opinião
«Do ambulatório à Hospitalização Domiciliária, sem passagem pelo Serviço de Urgência»
Carina Silva
Assistente hospitalar graduada de Medicina Interna. Coord. da Unidade de Tratamento Ambulatório de Medicina Interna (UTAMI) do CHVNG/E
As unidades de ambulatório viabilizam o diagnóstico precoce e o tratamento rápido de fase aguda de descompensação, permitindo diminuir o número de urgências hospitalares e de internamentos em hospital de agudos. Estas unidades, estabelecendo o elo de ligação direto aos cuidados de saúde primários, permitem um acesso rápido e eficaz ao meio hospitalar.
Com a criação das mesmas, nasceu também a possibilidade de avaliação dos doentes em consulta urgente de Medicina Interna e a sua admissão direta nas unidades de Hospitalização Domiciliária.
No Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) existe uma interligação dinâmica entre a Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) e a Unidade de Tratamento Ambulatório de Medicina Interna (UTAMI) desde a fundação de ambas. Estas unidades são compostas por equipas de internistas, que valorizam a prestação de cuidados de maior qualidade ao doente em ambulatório e internamento.
A UTAMI foi criada no final de 2017, com o objetivo de otimizar os cuidados aos doentes agudos e crónicos agudizados. Para dar essa resposta, a Unidade começou a funcionar com duas vertentes complementares e interligadas: a Consulta Urgente de Medicina Interna e o Hospital de Dia Polivalente.
Carina Silva
A Consulta Urgente funciona diariamente e é realizada por um médico internista.
Os critérios de referenciação para a Consulta Aberta incluem: todas as situações que exijam reavaliação precoce pós-internamento ou pós-urgência, bem como doentes observados pelo seu médico de família e que apresentem:
– Necessidade de diagnóstico rápido;
– Doenças crónicas descompensadas passíveis de tratamento ambulatório;
– Indicação de terapêutica endovenosa (antibioterapia, correções hidroelectrolíticas, diuréticos, ferro) e/ou técnicas invasivas diagnósticas e/ou terapêuticas.
Deste modo, estes doentes podem ser reavaliados a curto prazo (habitualmente num período de 2 a 3 dias) na UTAMI, e realizar no mesmo dia exames complementares de diagnóstico e terapêutica endovenosa, bem como técnicas de diagnóstico e/ou terapêutica.
Para que a referenciação destes doentes possa ser feita, de forma mais célere e eficaz, o contacto ocorre:
– Por telemóvel para a equipa médica da UTAMI, para onde podem telefonar os médicos referenciadores (do Hospital ou das Unidades de Saúde Familiar/Centros de Saúde), e os doentes que já reconhecendo os sinais de descompensação da sua doença crónica possam pedir uma reavaliação, evitando assim o seu recurso ao Serviço de Urgência e Internamento;
– Por email, que pode ser utilizado pelos mesmos referenciadores.
A UTAMI do CHVNG/E foi criada no final de 2017
A UHD nasceu em 2018 e desde essa altura que existe uma dinâmica própria de trabalho em equipa que permite a observação urgente de um doente na UTAMI e o seu internamento direto no mesmo dia na UHD.
Até ao final de junho deste ano, foram admitidos desta forma 183 doentes. Os principais motivos de internamento foram: insuficiência cardíaca descompensada e quadros infeciosos (como celulites, pneumonias e pielonefrites agudas).
Do ponto de vista prático, um doente atendido pelo seu médico de família pode ser referenciado para a Consulta Urgente de Medicina Interna e ser observado na mesma num intervalo de 2 dias. No dia da sua observação em consulta, realiza estudo complementar e, se necessário, terapêutica endovenosa em Hospital de Dia.
Se o doente tiver critérios de internamento, é sempre preferida a UHD. É contactada a equipa da UHD, que verifica se o doente reúne os critérios de admissão. Se o mesmo se verificar, retorna a sua casa e no mesmo dia é admitido na UHD.
As vantagens deste modelo são inúmeras, começando pelo facto de se evitar um episódio de urgência, o doente ser observado e realizar estudo complementar no próprio dia e ter uma rápida admissão em internamento em UHD. Quando a gestão do doente em ambulatório deixa de ser possível, permite poupar dias de internamento convencional, minimizar custos e intercorrências.
Acreditamos que no futuro deixaremos de ter uma medicina centralizada no Serviço de Urgência e que valoriza uma maior qualidade e conforto na avaliação e admissão nos internamentos.
O artigo pode ser lido na edição de outubro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários, no âmbito de um Especial dedicado à Hospitalização Domiciliária, concebido em parceria com o Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.