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«Fisioterapia nos cuidados de saúde primários: desafios para uma intervenção integrada»


Paulo Pereira

Fisioterapeuta, ACES Dão Lafões



O Decreto-Lei 28/2008 definiu a Reforma dos CSP. Esta definiu que estes seriam divididos em unidades funcionais com as quais são contratualizados ganhos em saúde da população inscrita, seja a nível do acesso aos cuidados, seja em indicadores de saúde.

Os fisioterapeutas, na sua grande maioria, estão integrados nas Unidades de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP). Tendo em conta o perfil de competências dos fisioterapeutas (APFisio, 2020), nos CSP, e especificamente nas URAP, a Fisioterapia tem a possibilidade de intervir ao longo de todo o ciclo de vida da pessoa, seja ao nível da gestão da saúde, como na gestão da doença.

E é também nesta unidade que estão integrados a esmagadora maioria dos profissionais das áreas técnico-científicas, além da MGF e da Enfermagem, nomeadamente, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, profissionais de saúde oral, outros terapeutas e meios de diagnóstico. Perante esta enorme multidisciplinaridade, esta é a unidade onde estão reunidas as condições para a prestação de cuidados de saúde integrados e centrados na pessoa.

Nesta unidade, o fisioterapeuta, perante um problema identificado, tem de se perguntar: “O que é que a Fisioterapia pode fazer para aumentar a resolutividade do problema identificado?”. “O que a Fisioterapia vai fazer é o suficiente?”. “O que falta? Quando falta? Como falta?”. A estas questões, a resposta é sempre a prestação de cuidados de saúde integrados.

Saliento que a Fisioterapia realiza a sua intervenção tendo por base a evidência científica e essa evidência mostra que as condições clínicas alvo de intervenção da Fisioterapia (e de outas disciplinas da saúde) são multifatoriais, sendo influenciadas por determinantes ecobiopsicossociais e que existem limites nas competências dos fisioterapeutas que, quando atingidos, nos apontam para a integração de cuidados com as outras áreas da saúde.

Isto acontece na intervenção junto da pessoa com lombalgia, diabetes, hipertensão arterial, obesidade, depressão, entre outras, mas também na pessoa com multimorbilidade.


Paulo Pereira

Num contexto atual de recursos escassos (cerca de 200 fisioterapeutas nos CSP), como podem os fisioterapeutas responder às necessidades identificadas? Uma solução é definir uma intervenção prioritária de acordo com o RISCO identificado.

Ao estratificar o risco, pode ser definida onde é realizada a intervenção e essa definição irá possibilitar a definição do tipo de intervenção. Existem já excelentes exemplos de uma intervenção da Fisioterapia de acordo com uma estratificação do risco, como na pessoa com lombalgia (projeto SPLIT), na prevenção de quedas (MOVE.TE), mas também fisioterapeutas a intervir em equipas de saúde onde se prestam cuidados de saúde integrados em pessoas com diabetes, depressão, hipertensão arterial, dor crónica...

Reforço que na lombalgia e cervicalgia, no topo das causas para YLDs (Global Burden of Desease, 2019), é urgente o investimento de recursos de Fisioterapia nos CSP.

A prestação de cuidados de saúde integrados e centrados na pessoa será uma realidade crescentemente efetiva, desde que as URAP possam evoluir a nível organizacional, por forma a possibilitar uma contratualização onde se mostre os ganhos em saúde para as pessoas alvo de intervenção dos fisioterapeutas nos CSP.



O artigo pode ser lido na edição de setembro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários e integra um Especial sobre o Encontro Nacional das URAP.

Dirigido a profissionais de saúde e entregue nas unidades de saúde familiar (USF) de Portugal, esta publicação da Just News tem como missão a partilha de boas práticas, de boas ideias e de projetos de excelência desenvolvidos no âmbito do SNS, visando facilitar a sua replicação.

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