A Ginecologia «tomou conta do meu destino»

Aos 64 anos, foi escolhido para liderar a Federação Portuguesa das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FPSOG). Mais um cargo que encara com “muita determinação e com gosto”. Daniel Pereira da Silva interessou-se pela Ginecologia, no decorrer do curso de Medicina, e desde então dedica-se à saúde da mulher. Foi, inclusive, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia e alvo de uma homenagem muito especial no decorrer do XIII Congresso de Ginecologia.



Em entrevista de fundo à Just News, publicada no Jornal do XIII Congresso Português de Ginecologia, distribuído aos participantes do evento, o presidente da FPSOG começa por recordar o sentimento e objetivos quando, há 40 anos, estava a terminar a sua licenciatura em Medicina:

"Nessa altura, já estava determinado que queria seguir a especialidade de Ginecologia. Foi uma cadeira muito marcante pelo que aprendi e posso dizer que tive a felicidade de ter encontrado, naquela época, pessoas fantásticas que me influenciaram nesta opção. É o caso do Prof. Henrique Miguel de Oliveira. Uma figura fascinante, apaixonado pela vida e pelas coisas, um Mestre que nos transmitia a paixão pela especialidade."

Daniel Pereira da Silva estagiou no serviço de Ginecologia da Maternidade Bissaya Barreto, na altura sob a direção de Aurélio Lopes Ferreira, e afirma que, "naquela altura, o ambiente que se vivia na maternidade também me contagiou por completo. Vários profissionais, com uma experiência profissional muito rica e que tinham acabado de vir de África, após o 25 de abril, ensinaram-nos muito. Posso dizer que a Ginecologia tomou conta do meu destino."

Serviço de Excelência pela "forma humana como tratávamos as doentes"

Relativamente ao período em que assumiu o cargo de diretor do Serviço de Ginecologia do IPO de Coimbra, de 1996 a 2013, explica o que mais o marcou nessa experiência:

"Entrei para o IPO em 1978. Passei muitos anos a lidar com a doença oncológica, ginecológica e mamária, e foi algo que marcou muito a minha personalidade. No IPO, trabalha-se de forma multidisciplinar, o que é muito enriquecedor, mas o que mais nos toca não é a natureza da doença, é a desestruturação que provoca no indivíduo. Por mais rico que tenha sido o percurso de vida de um doente, tudo fica em causa quando recebe o diagnóstico. São momentos muito complexos, muito dolorosos, sobretudo de dor na alma." E acrescenta: "Temos de estar atentos e, sempre que possível, disponíveis para intervir. Pode ser a nível pessoal, familiar, técnico, social, alimentar…"

Refere ainda que, quando o Serviço foi considerado de Excelência, "perguntaram-me o que nos distinguia". A sua resposta "foi imediata". Apesar do Serviço de Ginecologia do IPO de Coimbra procurar ser exemplo a nível do que melhor se pode fazer sob o ponto de vista técnico – cirurgia minimamente invasiva, tratamento pioneiro na cirurgia de tumores iniciais do cancro do colo do útero, ente outras –, "o segredo estava no sentido de responsabilidade de todos os profissionais e na forma humana como tratávamos as doentes. Esse é o património do IPO."

FSPOG: "o segredo está no diálogo"

Quanto à Federação Portuguesa das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FPSOG), Daniel Pereira da Silva considera "uma honra e um privilégio" ser presidente e espera "conseguir harmonizar a interligação entre as diferentes sociedades que agregam os mesmos interesses no que diz respeito à saúde da mulher." Afirma que a Federação deve também "ter um papel junto das entidades públicas, alertando-as para os problemas que afetam as mulheres. E, obviamente, representar as várias sociedades a nível internacional."

Questionado sobre qual a forma de manter a defesa e a representação das várias sociedades científicas que integram a FPSOG, Daniel Pereira da Silva não hesita:
"Através do diálogo constante. Todas as sociedades da FPSOG apresentam as mesmas pretensões e dificuldades, logo o segredo está no diálogo. É preciso colocar as pessoas a conversar umas com as outras de forma construtiva."

E sublinha: "O grande mérito deste projeto é das várias sociedades e não da FPSOG. Julgo que a Federação expressa a nossa maturidade, a nossa capacidade de diálogo, a visão de que a nossa causa é comum – o desenvolvimento da Obstetrícia e Ginecologia e pugnar por uma Medicina de Excelência na área da saúde da mulher."

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