«A integração e personalização de cuidados respiratórios deve ser um objetivo de todos»
Para Pedro Leuschner, coordenador do Núcleo de Estudos de Doença Respiratória (NEDResp) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, não há qualquer dúvida quanto ao caminho a seguir para serem prestados melhores cuidados ao doente respiratório:
"Deve existir uma forma de trabalho complementar entre a Medicina Interna, a Pneumologia, a Imunoalergologia, a Medicina Geral e Familiar (MG) e até a Fisiatria, tão essencial na reabilitação respiratória, que privilegie a coordenação, integração e personalização de cuidados respiratórios."
Até porque “o doente respiratório pode, hoje, estar bem e não precisar de vir à consulta programada, mas amanhã, porque o ar está mais particulado, porque fumou mais ou porque teve uma infeção vírica, pode estar pior e precisar de aconselhamento”. Desta forma, “torna-se essencial que as especialidades se consigam articular para garantir uma resposta rápida”.
Pedro Leuschner
A título de exemplo, diz conhecer vários hospitais periféricos que têm um pequeno número de pneumologistas a desempenhar uma carga de trabalho elevada, "onde existe uma excelente relação com a Medicina Interna, confiando a Pneumologia, inclusivamente, uma parte dos cuidados àquela especialidade".
Para si, é evidente a importância do papel do internista nesta área, porque “além de a doença respiratória ser uma patologia muito frequente nos doentes que acompanhamos, é preciso tê-la em consideração na maior parte das prescrições médicas, uma vez que, regularmente, não se apresenta como o problema principal, mas o associado, merecendo algum ajuste terapêutico”.
Uma equipa focada em promover a aproximação às especialidades
Assim, uma das ambições da coordenação do NEDResp para o triénio 2021-2023 é justamente a aproximação às especialidades, bem como a idealização/constituição de consultas específicas, dinamização de oportunidades formativas, implementação de protocolos de orientação e criação de parcerias, que vão “desde os prestadores de cuidados respiratórios domiciliários até aos fornecedores de oxigénio”.
O tema estará, aliás, em foco já esta sexta-feira e sábado, durante a 3.ª Reunião Anual do NEDResp, que decorrerá na Escola Superior de Educação de Viana do Castelo.
Pedro Leuschner, que é internista do CHUPorto, realça ainda que “é preciso procurar a convergência de esforços, partindo para a organização de uma rede, seja a nível de cada uma das organizações, seja na ligação à SPMI, ou ainda às demais sociedades”.
Pedro Leuschner, Cláudia Ferrão e Alfredo Martins
Pedro Leuschner vem suceder a Alfredo Martins, internista do Hospital da Luz Arrábida, na coordenação do NEDResp, e o seu grupo de trabalho segue a tradição de ser caracterizado por pertencer, ter pertencido ou manter grande proximidade ao CHUPorto.
Na realidade, trata-se de um centro hospitalar onde “a Medicina Interna sempre esteve particularmente afeta ao diagnóstico e tratamento dos doentes respiratórios”.
“O pulmão nas doenças sistémicas”
Cláudia Ferrão, secretária do NEDResp e internista militar do Hospital das Forças Armadas do Polo do Porto, é quem assume a figura de presidente da comissão organizadora desta 3.ª Reunião do NEDResp.
O lema escolhido foi “O pulmão nas doenças sistémicas”. De acordo com a médica, "o cerne do internista, aquilo que o empolga verdadeiramente são as doenças sistémicas, pelo que daí surgiram as três grandes temáticas a tratar: O enfoque nas doenças sistémicas com envolvimento pulmonar – obesidade, imunodeficiências e doenças granulomatosas não infeciosas."
Cláudia Ferrão
Por um lado, será abordada a “Obesidade e doença pulmonar”, considerando que “essa é a grande epidemia deste século e existe uma interação com a doença do pulmão”, o que levará à abordagem da sua fisiopatologia e da relação com a asma e a DPOC.
Seguidamente, serão tratadas as “Imunodeficiências”, tanto primárias, que “comprometem muitas vezes o pulmão, pretendendo-se discutir o seu diagnóstico, padrões de envolvimento e complicações associadas”, como adquiridas, decorrentes de doenças crónicas, infeções agudas ou crónicas, transplantes ou modalidades de tratamento.
“Numa realidade em que os doentes têm cada vez mais comorbilidades, muitos são aqueles que estão sob terapêutica imunossupressora e biológica, ou quimioterapia, levando a alterações funcionais e estruturais do pulmão”, explica.
As “Doenças granulomatosas não infeciosas” que acometem o pulmão serão também alvo de análise, pretendendo-se “facilitar a abordagem diagnóstica e promover uma discussão clínica acerca da necessidade de terapêutica, particularmente da sarcoidose e da vasculite ANCA”.
Estes temas serão abordados já este sábado, quando serão também apresentados trabalhos e anunciados os vencedores. O dia anterior ficará marcado pela realização de três cursos. Este evento será híbrido e estima-se que junte uma centena de participantes.
Elementos da Comissão Organizadora da 3a Reunião do NEDResp com o coordenador do Núcleo: Marta Brandão Calçada, Sara Montezinho, Joana Simões, Isabel Rodrigues Neves, Cláudia Ferrão, Pedro Leuschner
O programa da reunião pode ser consultado aqui.