90 anos ao serviço das pessoas com diabetes, «ajudando-as a viver como se não tivessem a doença»

José Manuel Boavida, diretor do Programa Nacional da Diabetes da Direção-Geral da Saúde, afirma que 90 anos de vida de uma instituição como a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) "obriga a reconhecer o seu percurso e a forma como singrou, até se tornar uma referência a nível nacional e internacional".

O responsável recorda que, "já em 1926 ao discurso preponderante na época, caritativo e piedoso da Rainha Amélia, a APDP e o seu fundador Dr. Ernesto Roma, se opunham com uma visão que defendia uma postura ativa e participativa das pessoas com diabetes. Ao ponto de nos cartazes da altura se anunciar que as pessoas com diabetes deviam ir à APDP aprender a administrar a insulina que lhes permitia viver e trabalhar como se não fossem doentes."



Educar o doente


Na sua opinião, "com esta mudança de atitude, a APDP, compreendendo o caráter crónico e a necessidade de adaptação permanente da alimentação, da atividade física e da insulina, mostrou ser uma associação avançada e revolucionária para o seu tempo, que acreditava nas palavras do Prof. Pulido Valente, inspiradas pela visão de Ernesto Roma: ´…na diabetes, mais do que em qualquer outra doença, o médico deve ser um educador, mais do que tratar o doente, deve ensiná-lo a tratar-se a ele próprio.`” 


Acrescenta o diretor do Programa Nacional da Diabetes que "foi neste sentido que nasceu e fez o seu caminho a autogestão da doença, partindo de uma educação, seja em grupo ou individual." Ou seja, "muitos anos antes de se pensar na importância da ligação entre terapêutica e educação para a saúde já a APDP recorria a essa estratégia para combater o flagelo da diabetes."




Formar profissionais de saúde

Em artigo publicado na atual edição do Jornal Médico, José Manuel Boavida faz questão de recordar o contributo de Manuel Sá Marques, "o sucessor de Ernesto Roma", que refere ter sido "também um visionário, ao afirmar que não bastava educar as pessoas com diabetes, era preciso também dar formação aos profissionais de saúde, e que, com a epidemia nascente da diabetes, era necessário sair das paredes da APDP".

E dá o exemplo de que, hoje em dia, através da Escola da Diabetes, são realizados "cerca de 50 cursos por ano, destinados a todos os interessados em desenvolver os seus conhecimentos sobre esta patologia, incluindo a Pós-graduação em Diabetes".

Destaca também, o “Seminário de Sesimbra”. De periodicidade anual e já com 16 edições, o evento funciona como "espaço de reflexão sobre as áreas da educação terapêutica, sobre a complexidade da relação entre as pessoas e os profissionais de saúde, sobre a pedagogia, a comunicação, o empowerment…".


Intervenção nos cuidados de saúde primários

Relativamente à ligação a instituições nacionais e internacionais, adianta que "a APDP – reconhecida como primeiro Centro de Educação pela International Diabetes Federation – vai coordenar o programa ´Gosto` para pessoas em risco de desenvolver a diabetes e que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, do Programa Nacional para a Diabetes, da Direção-Geral da Saúde, e do Ministério da Saúde, e o programa ABC Diabetes, que consiste em sessões educativas realizadas nos cuidados de saúde primários, dirigidas a pessoas recentemente diagnosticadas com diabetes."




Lutar pela integração social

José Manuel Boavida considera que a APDP "podia ter-se fechado em si, sem divulgar a informação que foi adquirindo ao longo dos anos. Não sei se teria sobrevivido."


Contudo, sublinha, "não foi isso que aconteceu. Foi e é uma instituição de portas abertas ao conhecimento, às novas tecnologias, ao serviço das pessoas com diabetes, ajudando-as a viver como se não a tivessem, lutando pela sua integração social e pelo seu bem-estar, para combater a diabetes e procurar a sua cura. É esta a missão que norteia a atividade da APDP, a sua seiva e o seu sangue."




De forma a prestar homenagem ao trabalho desenvolvido pela APDP e pelos seus profissionais, a Just Newspublica, na atual edição do Jornal Médico, um Suplemento dedicado inteiramente aos 90 anos da Associação, e que conta com a colaboração de mais de duas dezenas de especialistas e de personalidades, da APDP, mas não só. O Suplemento dá a conhecer várias das vertentes da Associação e o seu real impacto na sociedade, ajudando a compreender porque razão a APDP é considerado um caso de estudo a replicar em qualquer país.

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