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Apoio domiciliário a doentes respiratórios crónicos: ACES Maia/Valongo reduz internamentos

“Os resultados, obtidos em tão pouco tempo, são espantosos!", afirma Gustavo Ferreira, presidente do Conselho Clínico e de Saúde do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) Grande Porto III - Maia/Valongo, a propósito do projeto Centro de Apoio Integrado ao Doente com Ventilação Mecânica Prolongada (CAI_VENT).

O responsável não podia estar mais contente com os resultados já obtidos: "É incrível como a qualidade de vida destes doentes melhorou significativamente em apenas alguns meses. Há pessoas que há anos não saíam de casa e que agora já vão ao café ou ao jardim."


Gustavo Ferreira

No seu entender, a grande mais-valia do CAI_VENT está precisamente no impacto que tem junto do doente e da sua família, mas também no próprio SNS.

“Com menos internamentos prolongados, menos agudizações, menos infeções e menos idas às urgências, evitam-se gastos desnecessários. Além disso, conseguiu-se ter 46 camas fora do hospital, permitindo ao mesmo tempo proporcionar um acompanhamento altamente dedicado e especializado", refere Gustavo Ferreira.

Para o médico, o sucesso deve-se também ao facto de existir uma “equipa fantástica”. Gustavo Ferreira assegura que “todos os seus elementos, sejam dos cuidados de saúde primários (CSP), do Hospital de São João ou das empresas de equipamentos, acreditam no projeto e dedicam-se bastante e isso faz, inevitavelmente, a diferença".



O responsável faz questão de reforçar esta ideia, salientando que "não são apenas profissionais especializados, com elevadas competências técnicas, são também muito humanos. Além de se estabelecer uma comunicação sem quaisquer reservas entre todos os elementos, independentemente de se tratar de cuidados primários ou secundários”.

Apesar do ânimo ser elevado face aos resultados alcançados, este responsável mostra-se preocupado com o futuro do projeto: “A questão está na sua própria sustentabilidade, porque até as verbas a que tivemos direito não chegam a tempo e horas. E seria importante ajudar também doentes menos graves.”

Apresenta uma solução possível: “Teoricamente, poder-se-ia integrar este projeto na atividade base do ACES e contemplar os custos no orçamento dos CSP, o que permitiria ter uma equipa dedicada.”

Adotar a sinergia na área dos cuidados paliativos 

Gustavo Ferreira manifesta ainda o desejo de que o CAI_VENT possa vir a ser replicado noutras regiões: “A doença respiratória crónica está em crescimento e é preciso dar uma resposta de qualidade aos doentes, vistos como um todo. Este projeto, de fácil implementação, pode ser perfeitamente um bom modelo.”


Fernando Filgueiras e Gustavo Ferreira

Entretanto, a base organizacional já está a ser adotada por um outro projeto de integração de cuidados do ACES Maia/Valongo, como conta Fernando Filgueiras, diretor executivo do ACES Maia/Valongo.

O responsável adianta que, na área dos Cuidados Paliativos, "esperamos, dentro em breve, constituir duas equipas". E sublinha: "Esta articulação entre diferentes níveis de cuidados é uma mais-valia para os ACES, os hospitais e, sobretudo, para os doentes e seus cuidadores.”


Gustavo Ferreira, José Sousa (enf.), Rui Pedro Silva, Fernando Felgueiras, Daniela Fernandes (enf.ª) e Sérgio Magalhães

CAI_VENT permitiu “colmatar um vazio no SNS, na área respiratória”

Uma das presenças habituais nos domicílios é Sérgio Magalhães, enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação da Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) de Ermesinde. Dos mais novos aos mais idosos, encontra as mais variadas situações, quer do ponto de vista clínico como social, tendo em comum a necessidade da VMP.

“São doentes com algum grau de complexidade, que necessitam de fazer ventilação durante 12 horas ou mais – nalguns casos 24 horas – e que, antes do projeto, viviam em casa, com medo de ir à rua”, relata.


Sérgio Magalhães

Apesar de ser verdade que, como enfermeiro de reabilitação, já fazia parte das suas competências prestar cuidados em contexto domiciliário, sem articulação, os resultados não eram os mesmos. “Era uma resposta desfragmentada. Para se ter sucesso na reabilitação respiratória, que ainda é uma área muito pobre no país, torna-se imperativo haver comunicação entre os diferentes cuidados e a própria comunidade”, defende.

“Esta sinergia que existe entre todos os elementos do CAI_VENT permitiu, assim, colmatar um vazio no SNS na área respiratória”, frisa.

Na equipa trabalha com mais enfermeiros – uns especialistas em Reabilitação, outros em Saúde Mental e Psiquiátrica, Médico-Cirúrgica e Comunitária –, mas também com médicos, fisioterapeutas, psicólogos, técnicos de Cardiopneumologia e assistentes sociais. “O ambiente é muito bom, acreditamos todos no projeto”, afirma.

Uma das principais tarefas da equipa é quebrar mitos. “As pessoas acreditam que não podem sair de casa e da cama, que não conseguem subir ou descer escadas, que o equipamento tem de estar sempre ao pé da cama... Todas estas ideias têm de ser desmistificadas”, diz Sérgio Magalhães. Para isso, otimiza-se o estado de saúde da pessoa, para lhe mostrar o que consegue fazer.

“Os equipamentos evoluíram bastante, as empresas dão um apoio importante e com este projeto há as condições necessárias para evitar o isolamento”, conclui.



Ficar em casa não afeta apenas a mobilidade, mas também a saúde mental: “Existe uma maior predisposição para a depressão e para a ansiedade. Por vezes, podem não querer sair devido ao quadro ansioso e ao receio de terem uma crise de falta de ar grave.”

Sérgio Magalhães refere que são já várias as histórias felizes que se podem contar: “Um dos casos que mais me marcou foi o de um senhor que conseguiu ir ao batizado da sua neta. Nesse caso, envolvemos toda a equipa, inclusive, a empresa de cuidados respiratórios domiciliários que lhe prestava assistência, mas também o próprio restaurante.”
 
Outro caso que mostra como o projeto está a fazer a diferença foi o de um utente que passou a ir ao ginásio da UCC para praticar um programa de exercícios adequados à sua condição clínica e que lhe permitem otimizar a função respiratória:

“Este doente cumpria muito bem a terapêutica e fazia, inclusivamente, os exercícios em casa, porque fornecemos pedaleiras e halteres. Mas não saía à rua com segurança e o facto de ter conseguido ir ao ginásio foi uma forma de ele perceber que era capaz e que não tinha de ficar circunscrito ao domicílio.”


Rui Silva e Sérgio Magalhães

Rui Silva, da UCC Valongo, que também é especialista em Enfermagem de Reabilitação, descreve outro caso, o de "um senhor idoso que, devido às sequelas estruturais torácicas de uma enfermidade que o atingiu na infância, é ventilado há muitos anos".

Conforme explica, "primeiramente, o nosso objetivo era melhorar a sua condição funcional, para lhe proporcionar mais tempo de autonomia na rua, mas percebemos que seria possível otimizar a sua performance ventilatória com um programa de exercício adaptado no ginásio da UCC. Atualmente, há perspetivas de fazer a sua atividade diária fora de casa. Isto era impensável quando o conhecemos.”

Para o enfermeiro não há qualquer dúvida. Na sua opinião, "a chave do sucesso do projeto está na multi e na pluridisciplinaridade" e dá um exemplo: "O facto dos profissionais do hospital se deslocarem ao domicílio faz que fiquem com uma noção mais exata do que pode desencadear um quadro de agudização, já que o problema pode estar na higienização do aparelho, na forma como se coloca a máscara, ou, por exemplo, no uso errado dos inaladores, que é algo muito comum...”


Amândio Camilo

“Respiro melhor e sinto-me mais seguro e confiante”

Amândio Camilo tem 75 anos e mora em Valongo. Devido a uma doença na infância, tem uma alteração da parede torácica, o que não facilita a função respiratória. Apesar de fazer VMP há muito tempo, a sua vida melhorou bastante desde que usufrui do apoio da equipa do projeto CAI_VENT.

“Mudaram-me o equipamento e tornei-me mais autónomo. Até já vou ao ginásio. Estou muito feliz!”, afirma. As noites difíceis também já não são um problema: “Respiro melhor e sinto-me mais seguro e confiante, por isso, estou muito grato a toda a equipa.”



A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico dos cuidados de saúde primários de novembro, que inclui entrevistas com profissionais do ACES Porto Oriental e do Hospital de São João.

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