«Em Portugal confunde-se Medicina Desportiva com Traumatologia Desportiva»
“A Medicina Desportiva deverá centrar-se na procura da saúde orgânica do atleta, de modo a que este possa ter o seu maior desempenho físico e mental.” As palavras de Jaime Milheiro, diretor da Clínica Médica do Exercício do Porto (CMEP), surgem no âmbito da sessão que decorre esta sexta-feira, no Porto, e onde será apresentado o "Projeto de Acompanhamento Clínico para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020".
Em declarações à Just News, o médico, que integra a Direção de Medicina Desportiva, estrutura recém criada pelo Comité Olímpico de Portugal, afirma que, “no nosso país, a Medicina Desportiva confunde-se com Traumatologia Desportiva”.
"Conhecer o atleta como um todo"
Segundo o especialista em Medicina Desportiva e em Medicina Física e de Reabilitação, a maior parte das situações que levam os atletas a procurar ajuda médica são os entorses e as lesões musculares. No entanto, adverte, “é importante transmitir aos novos especialistas que a Medicina Desportiva não é uma medicina passiva e que a necessidade de conhecer o atleta como um todo, assegurando o seu equilíbrio, é fulcral”.
De acordo com o especialista, "a verdade é que há ainda muitas pessoas que não entendem as diferenças entre a Traumatologia Desportiva e a Medicina Desportiva" e acrescenta: “Enquanto a Traumatologia Desportiva consiste, essencialmente, no tratamento e eventual prevenção de lesões, a Medicina Desportiva é muito mais abrangente”.
Segundo Jaime Milheiro, "o equilíbrio orgânico do atleta envolve o conhecimento de múltiplos sistemas nutricionais, fisiológicos, endócrinos, psicológicos, entre outros".
Faz também questão de sublinhar que o acompanhamento médico é importante não só nos atletas de topo, mas também nos amadores, "sobretudo para que estes possam otimizar a sua performance física e profissional, beneficiando assim em termos globais de saúde".
Comité Olímpico de Portugal cria Direção de Medicina Desportiva
O debate desta sexta-feira será subordinado ao tema “Projeto de Acompanhamento Clínico para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020”, cuja apresentação estará a cargo de Jaime Milheiro.
O médico faz questão de salientar a importância da nova Direção do Comité Olímpico de Portugal (COP), que tomou posse em março de 2017, ter decidido criar uma Direção de Medicina Desportiva, encabeçada por José Gomes Pereira e coadjuvada por Jaime Milheiro. O objetivo é "supervisionar todas as necessidades dos atletas até aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020".
Anteriormente, os atletas eram seguidos pelas Federações ou pelos seus próprios médicos. “Com todo o respeito pelos clínicos, o COP achou por bem estar a par de tudo o que se passa com os atletas e contratou uma equipa para poder acompanhá-los, falando a mesma linguagem, assegurando que os mesmos estão a ter o devido acompanhamento médico-fisiológico para desempenharem da melhor maneira a sua função”, explica.
Equipa multidisciplinar presta um apoio médico contínuo
A Direção de Medicina Desportiva tomou posse em maio de 2017 e o seu primeiro passo foi reunir todas as Federações que estão na égide do Comité "e explicar-lhes que a partir de agora irá existir um acompanhamento até aos Jogos Olímpicos em 2020, que consiste no apoio médico quer às Federações, quer aos clubes", afirma Jaime Milheiro.
Esclarece ainda o a equipa integra não só médicos, como fisiologistas, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e conta com uma linha de apoio para exames complementares de diagnóstico e acompanhamento informativo anti-dopagem.
Portugal leva, habitualmente, 80-100 atletas aos Jogos Olímpicos. Neste momento, fazem já parte do programa de acompanhamento da Direção de Medicina Desportiva 41 atletas em 13 modalidades desportivas.
O 64.º Convívio Científico do CMEP terá lugar pelas 19.00h, na Sala de Conferências da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto. A participação na sessão pode ser confirmada através do email: cmep@cmep.pt.