Em termos de reprodução medicamente assistida, «estamos ao nível dos melhores»

Pedro Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), não tem dúvidas em afirmar que, em Portugal, “do ponto de vista daquilo que é a atividade clínica e laboratorial em PMA, estamos ao nível do que se faz, em termos mundiais, nos centros mais diferenciados”.

A cerca de um mês de distância do 9.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, que terá lugar em Albufeira, entre 9 e 11 de maio, Pedro Xavier destaca a participação na reunião de um conjunto significativo de palestrantes internacionais. Mas logo faz questão em frisar que, embora se pretenda que "nos tragam o aporte no que respeita àquilo que se está a fazer nos centros mais desenvolvidos, na verdade, estamos a falar de uma partilha de experiências”.


Pedro Xavier 

Na opinião do presidente da SPMR, Portugal tem, de alguma forma, acompanhado a evolução que se vem registando em matéria de Medicina da Reprodução. Aliás, considera mesmo que se assistiu a “uma autêntica revolução nesta área desde que a nossa Sociedade foi criada, há perto de 50 anos”.

“Quando a SPMR foi fundada, em 1978, a abordagem dos doentes com infertilidade era muito mais médica, mais medicamentosa e cirúrgica. Hoje em dia, essa dimensão do tratamento continua a ser importante, mas a procriação medicamente assistida (PMA) passou a ser a grande protagonista na abordagem terapêutica da infertilidade”, sublinha o médico, lembrando que “o nascimento de Louise Brown aconteceu precisamente no ano de criação da nossa Sociedade”.

Pedro Xavier destaca a importância da diferenciação dos ginecologistas/obstetras em Medicina da Reprodução, subespecialidade criada em Portugal há pouco mais de uma dúzia de anos, “o que veio permitir identificar claramente quem são os médicos que se dedicam mais à PMA”. O nosso entrevistado foi, aliás, um dos primeiros especialistas a obter esse título, em 2011, frisando não ser uma área propriamente muito fácil para recrutar novos médicos:

“Exige uma diferenciação muito longa, pois, aos 6 anos do curso de Medicina há que acrescentar 1 ano de internato comum, mais 6 anos de internato da especialidade e outros 2 de subespecialidade. Mesmo assim, o número de colegas dedicados à Medicina da Reprodução tem vindo a aumentar.”



Sessão conjunta com a Sociedade Espanhola de Fertilidade

Referindo-se ao programa científico do 9.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, o presidente da SPMR diz que um dos aspetos que mereceu uma especial atenção na sua construção foi “a abordagem das diferentes áreas profissionais que se dedicam à Medicina da Reprodução, nomeadamente, a Embriologia, a Psicologia, a componente Clínica/Médica e a Enfermagem”.

Outra preocupação da Comissão Organizadora e Científica foi a de que “os vários centros de PMA nacionais, públicos e privados, participassem também no programa, com palestrantes ou moderadores”. De referir que há em Portugal uma dezena de centros públicos e outros 16 privados autorizados, mobilizando perto de quatro centenas de diferentes profissionais.

Um dos temas que Pedro Xavier destaca no Congresso deste ano prende-se com o debate em torno da proposta de protocolo terapêutico desenvolvido em Portugal respeitante à transferência de embriões criopreservados, “um tratamento cada vez mais comum”.



A sessão conjunta com a Sociedade Espanhola de Fertilidade, cuja moderação é assegurada por Pedro Xavier e o seu congénere, Juan Espinós, é outro momento alto do Congresso.

“Vamos debater um conjunto de temas que são transversais na sua pertinência, quer em Portugal como em Espanha, desde logo os aspetos éticos e legais da gestação de substituição, neste momento, muito importante entre nós. Palestrantes espanhóis debruçar-se-ão sobre o estado atual da lei da PMA e farão o ponto da situação dos registos no seu país.

O Congresso de Albufeira ficará também marcado pela eleição do sucessor de Pedro Xavier à frente da SPMR, que terminará dois mandatos de 3 anos cada à frente desta Sociedade.