Medicina familiar em Almada e Seixal: GIMGAS «reduz o isolamento entre as unidades»

Ao longo dos dias 17 e 18 de abril realiza-se, no Campus Universitário Egas Moniz, a 4.ª edição das Jornadas do GIMGAS (Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal). 



 “Melhor prestação de cuidados"

Além da habitual partilha e atualização de conhecimentos que as jornadas proporcionam, Cátia Sapateiro, coordenadora da Comissão Organizadora (assim como Maria Inês Domingues e Tiago Moreira), sublinha que o evento realiza-se “com vista à melhor prestação de cuidados, sendo sempre este o objetivo final da formação dos médicos internos".

Em entrevista à Just News, a médica interna da USF Fernão Ferro Mais, explica que, norteadas por este princípio, "as jornadas procuram trazer temas que sejam do interesse das pessoas e que resultem de necessidades formativas sentidas pelos médicos, de modo a poderem fazer melhor na sua prática clínica. É pedido a todos os palestrantes que transmitam os temas, tendo em conta a perspectiva e os recursos disponíveis ao médico de família."

Maria Inês Domingues, Tiago Moreira e Cátia Sapateiro.

Urgências e emergências


A escolha dos temas a abordar nas jornadas foi cuidadosamente decidida pela Comissão Organizadora, que teve em conta uma sondagem das necessidades formativas dos internos de Medicina Geral e Familiar deste ACES, realizada no início do ano. É nesse contexto que dois dos workshops abordam temas não muito habituais, como é o caso das “Urgências e Emergências no Centro de Saúde”.

De acordo com Maria Inês Domingues, da USF Amora Saudável, o médico de família "deve ter competências clínicas para gerir os problemas de saúde urgentes e identificar os emergentes", acrescentando que, na prática da Medicina Geral e Familiar, "é ainda necessário saber abordar uma panóplia de outras situações de doença aguda". 

A propósito do tema, Tiago Moreira, atualmente integrado na USF Pinhal de Frades, recorda que, "ainda recentemente, socorri uma doente com uma reacção anafiláctica, que apresentava já uma dificuldade respiratória marcada, onde foi necessário agir rapidamente e com segurança, pois tratava-se de uma situação potencialmente fatal". 

Na sua opinião, "estas situações life-saving são relativamente raras para um médico de família no entanto, pela sua gravidade, exigem um conhecimento sistematizado e imediato, pelo que um workshop sobre este tema nos pareceu indispensável e a adesão dos participantes corroborou a nossa expectativa".



Alguns membros da Comissão Organizadora numa das últimas reuniões de trabalho de preparação das jornadas.

Exercício físico: "aplicar os conhecimentos na consulta"

Outro dos temas a discutir no primeiro dia das jornadas, sob a forma de workshop, é a prescrição de exercício físico. Haverá um interesse crescente dos internos e jovens médicos por este tema que, até há muito pouco tempo, raramente era debatido em congressos e jornadas? Cátia Sapateiro começa por recordar que "já há algum tempo que a mudança de estilos de vida é a abordagem de primeira linha na maioria das doenças crónicas, sendo também do senso comum, que o exercício físico e a alimentação saudável fazem parte de um estilo de vida saudável para qualquer pessoa, saudável ou com doença crónica".

No entanto, salienta, "os cursos de Medicina estavam, até há pouco tempo, muito focados no diagnóstico e tratamento farmacológico das doenças, sendo que a abordagem da mudança de estilos de vida era falada por alto, não havendo uma preocupação em capacitar os médicos para esta abordagem". 

De acordo com a médica interna, "atualmente, com os estudos mais recentes a mostrar, de forma clara, os evidentes benefícios do exercício físico, os jovens médicos têm procurado saber mais, de modo a aplicar os conhecimentos na sua consulta. Este tema será abordado num workshop, onde 3 internos de Medicina Geral e Familiar irão falar sobre conceitos práticos da prescrição de exercício físico."



Alguns dos membros da Comissão Organizadora: Marina Lima, João Dias Ferreira, Cátia Sapateiro, Andreia Ramalho, André Silva Costa, Sandra Lopes, Inês Andrade Rosa, Patrícia Alexandra Sousa e Rebeca Natal.


Almada e Seixal: "interior do país para os médicos de família"

O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Rui Nogueira, afirmou no último Congresso Nacional de MGF que “o interior do país para os médicos de família é Mafra, Sintra, Almada, Seixal, Vila Franca de Xira ou o Algarve”, no sentido de que é aí que existe uma maior lacuna de profissionais. 

Questionado sobre se os internos na região sentem esta realidade, Tiago Moreira, não hesita na resposta: "Certamente. O ACES Almada-Seixal ainda tem uma parte significativa de utentes sem médico de família, pelo que é uma realidade bem presente".

Nesse sentido, acrescenta, "tem existido uma estratégia concertada do ACES e dos internos para tentar suprir as necessidades desta população, servindo simultaneamente como oportunidade formativa para os internos, através das consultas a grupos vulneráveis ou dos projectos UIN (Unidades de Internos)". Tiago Moreira faz alusão a um projeto que, não isento de algumas dúvidas e receios por parte de alguns internos e especialistas, tem permitido a criação de unidades constituídas exclusivamente por internos.



Trabalho consistente ao longo do ano

Criado em 2008, e após várias reformulações, a estrutura do GIMGAS está cada vez mais dinâmica, promovendo, regularmente, "muitas outras actividades, além das jornadas anuais".

Maria Inês Domingues esclarece que "o grupo das reuniões clínicas organiza reuniões, com uma periodicidade mensal, em que se abordam diferentes temas pertinentes na prática da Medicina Geral e Familiar. Para estas reuniões são convidados internos ou assistentes de Medicina Geral e Familiar, ou de outras especialidades."

Por outro lado, "o grupo das oficinas, é outro grupo que organiza reuniões com uma vertente mais prática, exemplos oficina de Pequena Cirurgia, oficina de colocação de DIUs, entre outras. Por último, mas não menos importante, o grupo das recreativas promove actividades de convívio e lazer entre os internos."

Minimizar disparidades ao nível da formação


Além das dificuldades associadas à prestação de cuidados de saúde no "interior do país", Maria Inês Domingues destaca também as diferenças no dia-a-dia dos internos nas diferentes unidades do ACES Almada-Seixal:

"As várias unidades apresentam diferenças nas condições logísticas, dimensões, a população que servem também tem características demográficas diferentes, factos que condicionam alguma heterogeneidade. No entanto, o plano de internato e as oportunidades formativas são iguais para todos os internos, de modo a que as desigualdades/disparidades ao nível da formação sejam minimizadas".

Uma das últimas reuniões antes das 4.as Jornadas do GIMGAS, que decorreu nas instalações disponibilizadas pela USF Cova da Piedade.

Trabalho e
m equipa permite "reduzir o isolamento"


A Comissão Organizadora das jornadas reúne uma dúzia de médicos internos de oito unidades de saúde familiar: Sobreda, Monte de Caparica, Fernão Ferro mais, Cova da Piedade, Amora Saudável, Costa do Mar, S. João Pragal e Pinhal de Frades. Contudo, esta necessidade de trabalhar em equipa não é algo de novo para os membros do GIMGAS.

De acordo com Cátia Sapateiro, o GIMGAS "veio unir e dar voz aos internos da região, reduzindo a distância e o isolamento entre as diferentes unidades e permitindo também uma maior ligação com os internos do hospital da nossa área de abrangência (Hospital Garcia de Orta), através das sessões clínicas, oficinas e as jornadas". 




Esclarece ainda que os elementos que dinamizam as diversas formações são responsáveis "pela articulação com os internos das várias unidades, tendo que trabalhar em equipa, de modo a que os temas abordados vão de encontro às necessidades formativas sentidas pelos internos.  Sendo internos de várias unidades da região, cada um acaba por trazer um pouco da experiência na sua unidade e das dificuldades sentidas no dia-a-dia."

Crescer "através da partilha de informação"

Apesar de, todos os anos, novos membros entrarem e sairem do GIMGAS, o projeto tem saído reforçado, facto para o qual tem contribuído a excelente ligação que recém-especialistas mantêm com a equipa. Pode esse dado, só por si, ser um indicador do sucesso do GIMGAS? "Sem dúvida", afirma Cátia Sapateiro.

E acrescenta que, em alguns dos casos, os jovens médicos "que já fizeram parte do GIMGAS e que organizaram edições anteriores das jornadas estão colocados em unidades do nosso ACES, mantendo uma relação próxima connosco". Mas, mesmo no caso de recém-especialistas que já não estão no ACES Almada-Seixal, "mantêm uma grande ligação, o permite que o GIMGAS cresça cada vez mais, através da partilha de informação".



“Da teoria para a prática clínica"

Relativamente ao evento anual que se realiza este mês, e à semelhança das anteriores edições, as 4.as Jornadas do GIMGAS realizam-se sob o lema “Do conceito à prática”. Tiago Moreira, da Comissão Organizadora, explica o motivo:

"Um dos principais desafios na prática do médico de família é a transposição da teoria para a prática clínica, sendo o objectivo primordial das nossas Jornadas a abordagem de temas relevantes de um modo prático e dirigido aos interesses específicos da nossa especialidade, tanto através de palestras como workshops, pelo que se pretende que o lema seja transversal às Jornadas, independentemente da edição."

As inscrições são novamente gratuitas e podem ser efetuadas até ao dia das Jornadas, "estando abertas a qualquer médico de qualquer estabelecimento de saúde, embora a grande maioria dos inscritos sejam internos de Medicina Geral e Familiar", refere Tiago Moreira.

O programa pode ser consultado aqui.
Contactojornadasgimgas@gmail.com 
Para mais informações: http://www.gimgas.com/ 

 




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