«O enfermeiro do trabalho tem uma margem de progressão ilimitada nas empresas»
"O local de trabalho ainda não é visto como um local de promoção e proteção da saúde das pessoas", afirma Vítor Brasileiro, coordenador científico da pós-graduação de Enfermagem do Trabalho da CESPU, a propósito do 1.º Seminário de Enfermagem do Trabalho que está a promover e que se realiza este mês.
"Olhar para este contexto de uma forma mais emergente"
Em declarações à Just News, salienta precisamente o facto do lema escolhido para o evento ser "Cuidar, também no local de trabalho". Na sua opinião, "de forma global, o adulto não é prioritário, partindo do pressuposto que está a trabalhar e é saudável".
Contudo, "as estatísticas dos acidentes de trabalho e doenças profissionais vem colocar em evidência a urgência de olhar para este contexto de uma forma mais emergente".
E Vítor Brasileiro desenvolve a ideia, referindo, desde logo, a pandemia COVID-19, que veio "colocar como pertinente para as empresas, uma atuação mais efetiva dos serviços de saúde ocupacional". Por outro lado, "o envelhecimento ativo é essencial que seja pensado ainda na fase adulta e em contexto ocupacional".
Mas também os riscos psicossociais colocam "novos desafios a todos nós, profissionais de saúde, trabalhadores empregadores, bem como as entidades oficiais nomeadamente DGS/ACT".
Vítor Brasileiro
"Temos milhões de pessoas para intervenção"
E qual o papel que pode assumir o Enfermeiro? "A intervenção do enfermeiro do trabalho é imprescindível e atua em equipa, mas essencialmente de forma autônoma, pois o seu paradigma é a salutogenese e, na minha opinião, é o profissional de saúde mais capacitado".
Vítor Brasileiro, que é enfermeiro chefe no Serviço de Saúde Ocupacional do CHUP, afirma mesmo estar convicto de que "a progressão (dos enfermeiros do trabalho) é ilimitada, pois temos milhões de pessoas para intervenção no sentido de os capacitar para o aumentar o seu potencial de saúde."
Chama também a atenção para o facto da "atuação dos enfermeiros do trabalho ser junto dos trabalhadores, não tendo estes de se ausentar do seu local de trabalho". Assim, indica que "o acompanhamento é muito mais eficiente e a monitorização das suas intervenções é mais efetiva".
E acrescenta: "Temos que assumir que os trabalhadores não podem adoecer por estarem a trabalhar e quando ficam com condicionalismos temos de criar condições de reintegração e o enfermeiro do trabalho estabelece de forma natural uma relação empática com os trabalhadores e os seus superiores hierárquicos."
"Ainda temos muitos enfermeiros a necessitar de formação"
Vítor Brasileiro esclarece que a Pós-Graduação em Enfermagem do Trabalho "aparece após uma intervenção da DGS no sentido do registo dos enfermeiros do trabalho e sua melhoria na formação especializada desde 2014".
E lembra que "a formação é essencial e obrigatória para exercer enfermagem do trabalho de forma permanente", sendo certo que a "aprendizagem especializada permite aumentar as competências dos enfermeiros para intervir no contexto do local de trabalho".
E ao fim destes anos, qual o balanço? "É francamente positivo, mas ainda temos muitos enfermeiros a necessitar de formação", afirma o enfermeiro, que foi fundador e atual presidente da Associação Nacional de Enfermeiros do Trabalho, tendo sido também fundador da Sociedade portuguesa Saúde Ocupacional.
"Produção científica em enfermagem do trabalho"
Organizado pela Coordenação Pegagógica e pelos alunos da 3.ª edição da Pós-Graduação em Enfermagem do Trabalho da CESPU, o evento permitirá também a apresentação de trabalhos dos estudantes desta Pós-Graduação, até porque esse é precisamente um dos objetivos do seminário: "valorizar a produção científica em enfermagem do trabalho".
Vítor Brasileiro sublinha que "a produção cientifica permite o desenvolvimento das áreas de atuação dos enfermeiros", considerando que "o aumento da visibilidade da atuação dos enfermeiros do trabalho permite a partilha, bem como reforçar, perante os trabalhadores/empregadores, a pertinência e conhecimentos evidenciados". Em jeito de conclusão, afirma que "a relação no trabalho em equipa fica mais valorizada".
O docente da CESPU vai moderar a primeira mesa redonda do programa, intitulada: "Os Desafios para a Saúde Ocupacional".
O programa pode ser consultado AQUI (atualizado a 12 de outubro). A inscrição pode ser efetuada aqui.