«Tentei inovar e sobretudo reunir as valências de uma Cardiologia de Intervenção moderna e de topo»

Procurando oferecer à população de Almada e Seixal uma Cardiologia moderna e completa, Hélder Pereira, que dirige o Serviço de Cardiologia do Hospital Garcia de Orta desde 2010, tem vindo a investir no desenvolvimento da intervenção estrutural. Considerando a imagiologia uma valência essencial para o diagnóstico das doenças cardiovasculares, tem lutado por um acesso mais alargado aos métodos de diagnóstico essenciais. 



O "trabalho exemplar de heart team" desenvolvido pela equipa

Na opinião do diretor do Serviço de Cardiologia da ULS de Almada-Seixal, “é preciso garantir métodos de diagnóstico básicos, com qualidade, para que os profissionais se sintam valorizados e os doentes possam ter o seu seguimento nas unidades hospitalares distritais, recorrendo aos grandes centros apenas para fazer as intervenções”.


Em entrevista à Just News, o médico considera “muito necessário, neste momento, consolidar a Cardiologia de Intervenção Estrutural, de forma a tratar a doença valvular aórtica, uma patologia cada vez mais frequente e grave, que apresenta uma alta taxa de mortalidade”. Como adianta, “neste momento, há uma taxa de mortalidade em lista de espera de 7%, sendo que 46% dos doentes são tratados já numa fase de internamento, o que aumenta o risco de infeção e a ocupação de camas”.


Atendendo ao potencial das novas tecnologias, Hélder Pereira evidencia que “facilmente podemos contactar com intervenções que estão a ser realizadas em qualquer lugar, e essa troca de know-how é muito positiva, valoriza o Serviço e o hospital”.


Hélder Pereira

O médico orgulha-se do “trabalho de heart team exemplar” que têm conseguido realizar, ao “reunir um conjunto alargado de profissionais com os doentes e as famílias, para discutir qual a melhor proposta terapêutica antes de avançar para a sua consecução”.

E acrescenta que para um hospital como o HGO ser reconhecido como centro de referência para o tratamento da hipertensão pulmonar “é sinal de que a equipa, ainda que curta, está a trabalhar muito bem”.

Além desta vertente, o nosso interlocutor adianta que o Serviço dispõe de uma série de outras áreas, como a Insuficiência Cardíaca, a Hemodinâmica, a Reabilitação Cardíaca, a Medicina Nuclear e a Ecocardiografia, cada uma das quais com uma equipa muito reduzida, de duas a quatro pessoas, que, por vezes, se repartem por outras.

Apesar de reconhecer que “a existência de poucos elementos em cada área funcional acaba por gerar alguma sobrecarga”, Hélder Pereira sente que “os colegas gostam de integrar o Serviço e que este é reconhecido pelo hospital”.

Apesar das dificuldades relacionadas com os períodos de ausência de profissionais, nomeadamente associados à parentalidade devido à jovialidade da equipa, o cardiologista destaca que, na Hemodinâmica, por exemplo, que tem apenas quatro colegas, tendo chegado a ser apenas dois, “desde 1994, não houve um único dia sem prevenção”.

Como recorda, “chegámos a fazer cateterismos de utentes de Setúbal, Évora e Faro. Até 2015, trabalhámos até à meia-noite para conseguir dar resposta às solicitações, e quando éramos chamados durante o período de prevenção vínhamos fazer os cateterismos e de manhã já estávamos a trabalhar”. Na sua ótica, “é necessário avaliar os resultados e garantir que as pessoas se sentem bem onde estão, caso contrário, corremos o risco de perdê-las”.




Estreitar a articulação com os CSP e desenvolver a investigação científica

Considerando ser “de grande importância a articulação entre os cuidados de saúde primários e hospitalares”, Hélder Pereira espera que, com a generalização do modelo ULS “seja possível dar um passo em frente nessa área, porque se os doentes forem sinalizados e diagnosticados precocemente nem sequer chegam a ser hospitalizados”.

De forma a impulsionar o envio dos utentes pelos colegas de MGF, o Serviço protocolou a referenciação para sete patologias, definindo, entre outros aspetos, “quais eram os critérios necessários para enviar os doentes, que casos podiam ser tratados pelos CSP e de que forma, quais eram os parâmetros e os alvos terapêuticos”.

Em 2023, Hélder Pereira reuniu, inclusivamente, com as várias unidades do ACES Almada-Seixal para sensibilizar os colegas para esse protocolo. Procurando alargar essa iniciativa a nível nacional, o médico encontra-se, enquanto presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a trabalhar na elaboração de um protocolo com a APMGF.

O diretor do Serviço espera que possa vir a ser implementada, em breve, uma linha de contacto direta, que “permita aos colegas dos CSP colocar questões diretamente aos cardiologistas e resolver situações que evitem o envio dos doentes ao hospital”.



Admite que também gostaria de ver desenvolvida a área da investigação, apesar de reconhecer que “a forma como os hospitais portugueses estão organizados não favorece a sua progressão, ao levar os médicos a dedicar muito tempo a atividades não clínicas”. Ainda assim, alerta que “a realização de investigação, nomeadamente a nível de ensaios clínicos, podia trazer muitos recursos económicos para Portugal”.


De uma forma geral, “se tivéssemos menos tarefas burocráticas e dedicássemos mais tempo a ensaios clínicos, seria muito mais vantajoso para o hospital, os doentes e o país”, aponta.

Ainda no âmbito organizativo, Hélder Pereira considera haver um grande espaço de melhoria: “Os sistemas informáticos são complexos e morosos. As direções dos serviços são assoberbados com processos burocráticos e muitas delas não têm sequer um secretariado. Os doentes perdem-se nos hospitais porque a sinalética é má e a própria estrutura difere de um piso para outro. Todos estes aspetos representam ineficiências.”


A reportagem completa, com entrevistas a vários profissionais, pode ser lida no Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Integrados de setembro.

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda