«DIAMEDINT 3 confirma: Diabetes com elevada prevalência nas enfermarias de Medicina Interna»

DIAMEDINT significa “um dia na Medicina Interna”. Nesta terceira edição do estudo, num período ainda pandémico, em que o acompanhamento dos doentes com doença crónica foi muito deficitário, pretendemos avaliar a repercussão clínica em doentes hospitalizados com diabetes olhando para a realidade das nossas enfermarias.

Trata-se de um estudo transversal retrospetivo, com uma amostra constituída por doentes com diabetes hospitalizados nos dias 12 de janeiro e 22 de junho de 2022 em 33 serviços de Medicina Interna, com o objetivo de estudar o perfil e prevalência dos mesmos.

Obtivemos uma amostra de 1395 doentes com diabetes, num total de 4308 doentes hospitalizados nos dois dias, o que resulta numa prevalência de 32% de doentes com diabetes.

Cerca de 52% dos doentes eram do género feminino. A idade variou entre os 43 e os 101 anos, com uma mediana de 80 anos. Da avaliação de fatores de risco cardiovascular destaca-se que a grande maioria apresenta 1 ou mais comorbilidades (95%) destacando-se a hipertensão arterial e a dislipidemia.

Relativamente à caracterização da diabetes, verificou-se que a maioria (98%) dos doentes tinha diabetes tipo 2 e 33% tinham mais de 10 anos de evolução de doença. No que diz respeito a complicações da doença, estava descrita em 47% dos doentes, com destaque para a nefropatia e a doença cerebrovascular.

Foi apenas possível apurar controlo metabólico prévio em 66% dos doentes, através da determinação da hemoglobina glicada (HbA1c) durante o internamento.

Nestes doentes, a HbA1c média foi 7,3%, variando entre 4,6% e 17,3%. De referir ainda que 25% dos doentes tinham HbA1c superior a 8%. Relacionando o valor de HbA1C com a idade, verificou-se que existe um pior controlo metabólico no grupo de doentes mais jovens.

A patologia respiratória (28,2%) e a patologia circulatória (28,1%) destacam-se como as mais frequentes no motivo principal de internamento, sendo que a patologia mais observada foi a pneumonia, em 24% dos doentes.

A descompensação aguda da diabetes foi motivo principal de internamento em 2,9% dos casos e de diagnóstico secundário em 23% dos doentes.


Rita Paulos e Conceição Escarigo

Quanto à terapêutica realizada em ambulatório, 55% dos doentes estavam medicados apenas com antidiabéticos orais (ADO) e 32% estavam sob insulinoterapia.

No internamento, 55% estavam medicados com insulina, sendo que 43% tinham esquema basal-bolus, 8% dos doentes não tinham qualquer terapêutica prescrita e 36% tinham apenas esquema de sliding scale.

Em comparação com os estudos prévios, DIAMEDINT 1 e 2, há a referir diferenças a nível da terapêutica de ambulatório, em que aumentou o uso de iSGLT2 e aGLP1 em detrimento da prescrição de sulfonilureias.

No internamento verificou-se um aumento da prescrição de insulinoterapia, sobretudo em esquema basal-bolus, com redução de esquemas de sliding scale. Como mensagem final, o DIAMEDINT demonstra que a diabetes se mantém com elevada prevalência nas enfermarias de Medicina Interna, constituindo uma oportunidade singular para intervir no prognóstico global do doente.



O artigo pode ser lido no Jornal do 28.º Congresso Nacional de Medicina Interna (5 de outubro), entregue aos participantes da reunião.

A 16.ª Reunião Anual do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus decorrerá nos dias 28 e 29 de outubro, em Évora, e fica marcada precisamente pela celebração do 30.º aniversário deste que é um dos núcleos mais ativos da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. A Just News associa-se a este evento, publicando jornal oficial deste "acontecimento comemorativo e de grande Ciência".