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Opinião

«Metade dos idosos com diabetes desconhece a sua doença»


Rafaela Veríssimo

Assistente hospitalar de Medicina Interna, Unidade de Ortogeriatria do CHVNGE. Membro da Consulta de Diabetes do CHVNGE. Competência em Geriatria pela OM. Pós-graduada em Geriatria pela FMUC.



No mundo, 20% dos idosos têm diabetes mellitus (DM) e 18%-33% têm diabetes não diagnosticada; por outro lado, 30% dos idosos têm alteração da regulação da glicose, o que significa um risco aumentado para DM.

Atualmente, a diabetes nos idosos inclui dois grupos: os sobreviventes do diagnóstico na idade jovem ou adulta e a diabetes inaugural na 3.ª idade. A DM1 inaugural nos idosos é de exceção, dado que as doenças autoimunes afetam mais frequentemente os jovens; por isso, os idosos com DM tipo 1 incluem a fase mais avançada da doença e apresentam várias complicações.

A maioria dos indivíduos com mais de 60 anos sofre de DM2 devido à insulinorresistência; no entanto, a secreção de insulina pode estar severamente reduzida no estádio final da DM2.

Nos anos 50, após a descoberta da insulina, a população com diabetes tinhauma esperança média de vida reduzida, sendo que um indivíduo com DM1 só esperaria viver até à 6.ª década até falecer de complicações diabéticas; desde então, a longevidade aumentou, face à melhoria da educação e da tecnologia, e a maioria da população diabética atinge a 8.ª década de vida.

Grande parte dos doentes idosos com DM1 teve a doença durante muitos anos e, por isso, adquiriu uma grande experiência em lidar com a sua condição. No entanto, o aumento da fragilidade física e a alteração cognitiva contribuem para dificuldades no tratamento com insulina.

A idade interfere com a gestão da diabetes, particularmente se acompanhada de complicações geriátricas, como a demência, a depressão e a fragilidade, bem como alterações dos órgãos sensoriais (visão e audição).


Rafaela Veríssimo

Nem todos os doentes idosos vão requerer os mesmos alvos terapêuticos, mas alguns podem continuar em regimes mais rigorosos; a gestão é mais desafiante pelas doenças relacionadas com a idade e pelas complicações relacionadas com a diabetes; há que ter em conta erros de dose na administração de insulina, falta de planeamento das refeições e mudanças na prática de exercício físico, bem como intercorrências: a hiperglicemia causa desidratação e crises hiperglicémicas, mas a hipoglicemia é a maior preocupação nos idosos; o declínio cognitivo contribui para a hipoglicemia e a dificuldade em gerir de modo seguro um episódio de hipoglicemia.

Metade dos idosos com diabetes desconhece a sua doença, o que pressupõe que os sintomas de hiperglicemia são raros nesta população. A diabetes no idoso manifesta-se frequentemente por sintomas inespecíficos como confusão, incontinência, fadiga, quedas, incontinência, perda de peso ou recusa alimentar; por vezes apresenta-se como um enfarte agudo do miocárdio, um AVC ou até mesmo uma infeção urinaria.

A cetoacidose diabética é menos comum nos idosos e não está associada com a duração da diabetes, sendo mais comum nos indivíduos com níveis elevados de HbA1c e baixo nível económico.

A hipoglicemia severa em doentes com DM1 é mais comum na presença de nefropatia, neuropatia e depressão, bem como uso de beta-bloqueantes não seletivos e álcool; as doses de insulina devem ser reduzidas com insuficiência renal avançada e o medo da hipoglicemia não pode ser um obstáculo na otimização do controlo glicémico nos idosos.

As estratégias devem ser individualizadas e ser divididas entre idosos saudáveis e os frágeis ou com esperança média de vida limitada. A contagem de hidratos de carbono para administração de insulina nas refeições é mais difícil nos idosos, devido à idade e às síndromes geriátricas, e pode ser necessário auxílio de cuidador nestes casos; os doentes idosos frágeis requerem ajustes insulínicos mais frequentes e têm maior risco de doença aguda e hospitalização.

Os idosos com DM1 são um grupo heterogéneo e pouco estudado. Os tratamentos individualizados usando regimes insulínicos mais complexos e alvos glicémicos mais reduzidos com automonitorização glicémica são recomendados nos idosos saudáveis, sendo sugeridas modificações para os indivíduos frágeis.



Artigo publicado no Jornal do XVI Curso Pós-Graduado sobre Envelhecimento

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