Semana das Ciências Aplicadas à Saúde: «não há outra iniciativa semelhante em Portugal»

Entre os dias 3 e 9 de abril realiza-se, em Coimbra, no Alma Shopping, a 12º edição da Semana das Ciências Aplicadas à Saúde (SCAS). Organizada pela Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), trata-se de um evento que já permitiu realizar, gratuitamente, desde 2005, "mais de 300 000 avaliações à saúde da população da região".

A SCAS disponibiliza, assim, todos os anos, um vasto leque de exames e rastreios, nomeadamente, a realização de avaliações auditivas, eletrocardiograma, radiografia do tórax, análise da glicémia e colesterol, medição da tensão arterial, avaliação nutricional, avaliação do equilíbrio e postura.​

Não há iniciativa que "divulgue de forma tão objetiva a formação em saúde"

Em entrevista à Just News, Jorge Conde, presidente da ESTeSC, explica que a SCAS é, anualmente, "a maior operação de divulgação e promoção da ESTeSC e da sua atividade". Sendo uma iniciativa da autoria da Associação de Estudantes, é, contudo, " acarinhada e patrocinada pela Escola no seu todo". O responsável sublinha mesmo: "Quer a presidência da escola, quer os professores, quer os profissionais não docentes, têm pela SCAS um carinho especial e colaboram para que aconteça".



Além de ser um evento muito relevante para a população da região, e "da exposição pública que é conhecida de todos, é também importante pela partilha e coesão que garante à escola, com todas as pessoas de todas as áreas científicas envolvidas". O presidente da ESTeSC refere inclusive que, "mesmo no plano nacional não há outra iniciativa semelhante, que congregue tão vasto conjunto de formações (e das profissões que originam) e divulgue de forma tão objetiva a formação em saúde".

Jorge Conde recorda que a SCAS tem também "um papel social de avaliar a saúde da população que o queira fazer, disponibilizando um conjunto de estudos e exames, bem como do aconselhamento que se revelar necessário. Importa dizer que anualmente são muitos os milhares de pessoas, que ocorrem à SCAS para avaliar a sua saúde."

Organização da SCAS envolve "mais de 100 alunos"

Entre os membros dos Órgãos Sociais da Associação de Estudantes (AE) da ESTeSC, comissões e outros voluntários, participam na SCAS 2017 "um total de mais de 100 alunos", explica Catarina Cabral, membro da Comissão Organizadora e uma das coordenadoras do evento, juntamente com Tiago Penacho e Adriana Vasco.

Questionada sobre se existem alguns exames ou avaliações que suscitam maior interesse na população, a estudante afirma que são, "por um lado, aqueles com que estão mais familiarizados, como medir a pressão arterial, glicémia, colesterol, rastreio de audição, avaliação da massa corporal, etc... Por outro, ao ver equipamentos que não conhecem, ficam curiosos e decidem ir experimentar, como é o caso da espirometria, plataforma de pressão, entre outros".


Tiago Penacho, Adriana Vasco, Catarina Cabral 

A atenção dos estudantes não se cinge à realização de rastreios de uma forma "algo desgarrada", pelo contrário, sendo que "todas as avaliações são seguidas de uma análise de comparação com parâmetros normais (adequados aos seus factores pessoais, idade, altura, ocupação, etc...), na qual são explicados todos os resultados", refere Tiago Penacho.

Sempre que surge algum resultado com valores alterados, "temos o apoio dos professores para dar acompanhamento à situação e podemos sugerir, nomeadamente, desde repetir o exame, a ir consultar o médico de familia".

SCAS dos Pequenitos e Hora dos Avós

Desde 2014 que esta semana intensa de rastreios passou a integrar a SCAS dos Pequenitos, que visa "dar a conhecer, explicar os exames e avaliações feitos nas nossas áreas para que as crianças percam o medo da bata branca através de atividades lúdicas", afirma Adriana Vasco.

Simultaneamente, passou a existir também a Hora dos Avós, uma ideia inovadora em eventos do género e que "permite-nos dar uma atenção especial à população mais idosa". São vários os alunos dedicados especialmente a esta população "em todo o percurso na SCAS". O objetivo é que os idosos tenham um maior acompanhamento, "de forma a que fiquem mais informados e possam desfrutar de tudo o que temos para lhes oferecer", esclarece a estudante.


Alguns dos membros da Comissão Organizadora da SCAS 2017, dias antes do início do evento, em mais uma reunião de preparação.

Uma equipa "com grande espírito de sacrifício"


É pouco habitual que um conjunto de rastreios decorra durante uma semana inteira e envolva estudantes de tantas e tão variadas áreas: Audiologia, Ciências Biomédicas Laboratoriais, Dietética e Nutrição, Engenharia e Segurança do Trabalho, Farmácia, Fisiologia Clínica, Fisioterapia, Imagem Médica e Radioterapia, Saúde Ambiental. 

Fazendo questão de destacar "o facto de serem rastreios gratuítos, levados diretamente à comunidade", Catarina Cabral reconhece que "são várias semanas de elevado stress, físico e emocional, para preparar toda esta atividade".

Na sua opinião, tal só é possível com "uma equipa competente, trabalhadora, com grande espírito de sacrifício e uma organização logística de grande calíbre. Apesar de tudo, chegando ao fim, é uma experiência bastante enriquecedora para todos os envolvidos, organização, alunos e participantes."



Apoio da presidência da ESTeSC "é fundamental"

Quanto ao facto da SCAS contar com o apoio da presidência da Escola, os três estudantes concordam que a opinião é unânime no seio da Comissão Organizadora e que tal "é fundamental para o sucesso da SCAS" e explicam: "Não só nos ajudam com a cedência de equipamentos, materiais, flexibilidade nos horários, entre muitos outros, mas para nós (AE e alunos) é também bastante importante que reconheçam todo o esforço e pertinência de nos aproximarmos da população".



Segurança do doente: "um tema que importa ter sempre presente"

A SCAS está integrada no Coimbra Health School Annual Meeting, uma iniciativa que nasceu para "congregar um conjunto de eventos científicos que se realizavam de forma dispersa na escola". Jorge Conde explica que, há 4 anos, "resolvemos concentrá-los na mesma semana, sob esta designação. Todos os anos, escolhemos um tema de forma a que as diversas conferências e comunicações tenham uma ligação. Esta ligação é importante, porque são várias as áreas científicas envolvidas e importa dar consistência ao evento."

A "Segurança do Doente" foi o tema escolhido para a edição deste ano, "porque é um tema que importa ter sempre presente, de modo a evitar que os acidentes aconteçam e a garantir uma prática segura, que possa contribuir para a melhoria dos cuidados prestados".



"Universidades Promotoras de Saúde” 

Entre os vários eventos que decorrem no âmbito do IV Annual Meeting, realizam-se, nos dois primeiros dias, as Jornadas Científicas, com o propósito de partilhar "conhecimento científico e investigação realizada com convidados especialistas nacionais e internacionais".

Nesta reunião, Jorge Conde irá moderar a Conferência “Universidades Promotoras de Saúde”, que será proferida por Hiram Arroyo, da Universidade de Porto Rico e presidente da Rede Ibero-Americana de Universidades Promotoras de Saúde (RIUPS) . O responsável da ESTeSC explica a importância deste tema em debate:

"As universidades, ou as instituições de ensino de forma mais alargada, promotoras de saúde, pretendem ser instituições preocupadas com a construção de ambientes favoráveis à saúde. Estas instituições, comportam algumas ameaças naturais à saúde, nomeadamente do ponto de vista cognitivo ou comportamental. São locais, onde uma parte dos estudantes estão deslocados, longe da proteção familiar e expostos a uma carga emocional e de trabalho a que não estavam habituados, nem muitas vezes preparados."

Chama ainda a atenção que "os comportamentos induzidos pela idade e pelo ambiente comportam riscos para a saúde que importa prevenir, promovendo a saúde." Assim, refere, "foi neste sentido que a ESTeSC decidiu aderir à RIUPS, sendo supostamente a primeira instituição do ensino superior português a fazê-lo". O convite ao coordenador da RIUPS permite "expor os objetivos da rede e motivar a ESTeSC (e pela sua ação o IPC) a levar a bom porto esta missão que decidiu abraçar."


Graciano Paulo e Jorge Conde.

As TIC e o seu impacto nos cuidados de saúde 

O outro convidado estrangeiro das Jornadas Científicas é Tevfik Bedirhan Ustun, professor de Psiquiatria e Informática da Saúde da Koç University, da Escola de Medicina de Istambul, e ex-coordenador da OMS, no Departmento de "Health Statistics and Information Systems". O especialista participará na Conferência de Abertura, intitulada: "Health Information from a personal and public perspective: use, security and privacy". 

"O Prof. Usten traz à comunidade um assunto de enorme atualidade: as tecnologias de informação e comunicação (TIC) e o seu impacto nos cuidados de saúde no século XXI", afirma Graciano Paulo, vice-presidente da ESTeSC e moderador da conferência.

Questionado sobre a importância do tema que o orador convidado vai desenvolver, Graciano Paulo refere:  "Não restam dúvidas que a progressiva conversão dos dados de forma ´analógica` para o ´digital` e a necessidade de gerir a “´big data` clínica e individual dos utentes, vão obrigar a um novo paradigma de regulação, no que à privacidade dos dados diz respeito." 

Por outro lado, acrescenta, "há uma necessidade urgente de harmonizar a forma de comunicar digitalmente os dados de saúde, por forma a facilitar a compatibilidade e garantir uma comparabilidade fidedigna dos dados de saúde, instrumentos fundamentais para um planeamento e gestão efectiva dos Sistemas de Saúde". 




Ajudar os alunos "a entrar no mercado de trabalho"


Outro dos eventos que se realiza durante o Annual Meeting é o Empower Your Future, cujo foco está na necessidade dos participantes “solidificarem as suas competências emocionais e relacionais”. 

Jorge Conde explica que este dia é particularmente dedicado a ajudar os alunos "a saberem procurar emprego, a saberem realizar um curriculum atrativo, a saberem como comportar-se numa entrevista, de modo simples a entrar no mercado de trabalho".

Refere ainda que, neste dia, se deslocam à escola "um conjunto de agências de recrutamento, que muitas vezes permitem aos ainda alunos, alinharem-se com os empregadores e ficarem à porta do mercado de trabalho. Muitos são os estudantes, que neste dia se comprometem com um empregador com o qual ficarão a trabalhar no final do curso."

O Annual Meeting contempla ainda a realização de Evening Talks, que consiste num "jantar e conversa com personalidades bem conhecidas, seguidas de um momento musical", e de um seminário de comemoração do Dia Mundial da Saúde, dedicado à depressão, tema deste ano.


Jorge Conde rodeado dos dois vice-presidentes da ESTeSC, Ana Maria Ferreira e Graciano Paulo, na recente reunião da recém-criada Rede Académica das Ciências da Saúde (RACS), onde a ESTeSC está representada.

"Um exame à nossa capacidade de interação em equipa"

Uma vez que a SCAS envolve alunos das várias licenciaturas e mestrados ministrados na ESTeSC, de áreas muitos distintas, pode este evento ser considerado como um desafio também no que diz respeito à comunicação, trabalho em equipa e gestão emocional da comunidade estudantil? Jorge Conde não hesita na resposta:

"Sim, como já disse, este evento é de uma relevância extraordinária para a coesão da escola, porque envolve alunos, professores e profissionais não docentes. É um exame à nossa capacidade de interação em equipa, à nossa criatividade e à capacidade de fazer interagir pessoas com vários papeis e de gerações distintas."

Assegurar uma "formação cívica, além da formação profissional"

Mas Jorge Conde faz questão de salientar de imediato que, "face ao ADN da ESTeSC", este exame acaba por se tornar fácil, "já que a escola vive um dia-a-dia de grande proximidade entre todos os seus intervenientes". E conclui: "Uma escola não deve ser só o que se aprende na sala de aulas, mas toda uma vivência social e cultural que garanta uma formação cívica, além da formação profissional".




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